Uma, dúzias, centenas e até milhares de flores de vários tamanhos, formatos e cores esperam pelos visitantes no ateliê de Zezinho Bernardes, no distrito Vitoriano Veloso, mais conhecido como Bichinho. O lugarejo fica no município de Prados, distante apenas 6 quilômetros da histórica Tiradentes, e ganhou fama graças ao trabalho de artesãos locais e forasteiros que escolheram ali para viver, como é o caso do mineiro de Arcos. Ele conta que chegou ao povoado em 1985, época em que ainda não havia luz elétrica na comunidade e quando conseguiu comprar um terreno de 700 metros quadrados por R$ 800. “Fui apresentado ao lugar por um amigo francês que tem fazenda nas redondezas e fiquei encantado. A vida aqui é simples, tranquila e cercada pela natureza que me inspira a criar”, afirma.
Zezinho saiu de Arcos ainda bem menino, tanto que adota Lagoa da Prata, segunda residência e onde cresceu, também como cidade natal. Foi lá que ele deu os primeiros passos rumo à carreira artística, observando o trabalho da irmã Elza Bernardes, uma costureira de mão cheia e que até hoje veste a sociedade local. “Olhava de longe, né, porque naquela época menino não podia gostar dessas coisas”, lembra. Com a mudança para Belo Horizonte para estudar, o jovem pôde, enfim, trilhar o caminho escolhido.
Quanto às flores, elas chegaram na vida do artista quase por acaso. “Fui convidado por uma amiga, Maria Barbosa, para fazer o figurino de um bloco de carnaval que desfilava em Tiradentes. Fiquei lá por 15 dias e nunca mais quis voltar para a capital. Na região, trabalhei em restaurantes, pousadas e decorando andores para procissões, quando comecei a criar as flores de papel, muitas inspiradas nos buquês e arranjos de cabeça das noivas.”
Trabalho para a TV O trabalho artesanal de criação de flores de papel crepom chamou a atenção da comunidade local, que passou a encomendar de Zezinho a decoração para casamentos, eventos da capela local (construída em 1822, como orgulha-se de dizer), festas da comunidade. E a produção nunca mais parou. “Naquela época não existia flora nem em São João Del Rey”, lembra. Habilidoso, o artista monta até 200 flores por dia, muitas vezes sentado em um sofá, de frente para a TV. A partir do papel crepom cria botões, rosas, lírios, tulipas, antúrios, cravos, copos-de-leite e mais uma infinidade de formas, algumas inventadas, em várias cores e tamanhos. Finaliza o trabalho com hastes de bambu colhidos no entorno da casa e costuma enriquecer os buquês com matéria-prima natural, como folhas de samambaia, jabuticabeira, papiro, trigo, e palha de milho. O material de trabalho é basicamente composto por tesoura e cola branca, e, expecionalmente, anilina e spray para resina. “Quando o papel crepom chegou ao Brasil trazido da França, no início do século 19, era moda as pessoas enfeitarem as casas com flores feitas dele.
Um belo dia, a produtora de arte Ana Maria Magalhães chegou ao pacato ateliê de Zezinho, viu as flores e fez uma encomenda. “Ela pediu que eu fizesse cinco balaios de flores que seriam usados na minissérie Memorial de Maria Moura, da TV Globo. Depois de uns anos voltou e encomendou mais 10 mil flores e assim por diante. “Já trabalhei para as minisséries Amazônia - de Galvez a Chico Mendes, JK e Hilda Furacão, para as novelas Sinhá Moça e Cordel encantado e para o filme Chico Xavier, entre outros”, descreve.
Além das encomendas para fazer a decoração de lojas locais, festas e eventos como casamentos (ele revela ter seis agendados até fevereiro de 2015), Zezinho aplica as flores sobre objetos criados por ele, como luminárias feitas com canos de PVC, e também de artistas locais, a exemplo de painéis, mandalas, quadros e divinos em madeira. Todos os produtos ficam em exposição permanente no Ateliê Arte em Flores, pequeno cômodo que funciona como uma antessala da sua singela casa e onde ele recebe os visitantes. As flores são comercializadas avulsas, a preços que variam entre R$ 2 (o botão de rosa) e R$ 8 (o crisântemo grande) ou em buquês. Entre os próximos projetos do artesão está o ensino da técnica de criar flores de papel na escola de Bichinho e, quem sabe, formar novos artistas. “Já levei o projeto para a prefeitura”, avisa..