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Estado de Minas

Hábitos da população de BH colocam a sobrevivência de animais silvestres em risco


postado em 08/09/2014 06:00 / atualizado em 08/09/2014 07:59

Segundo os ambientalistas, as capivaras deveriam permanecer na Lagoa da Pampulha, em convivência harmônica com as pessoas(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Segundo os ambientalistas, as capivaras deveriam permanecer na Lagoa da Pampulha, em convivência harmônica com as pessoas (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Apesar das insistentes placas distribuídas no Parque das Mangabeiras, ensinando a manter distância mínima de dois metros dos animais silvestres, a descartar o lixo em casa e a não dar comida, muitos moradores de Belo Horizonte ainda menosprezam e riem das recomendações. “Trouxemos bananas para atrair os micos. Viemos com um grupo de oito alemães que estão doidos para ver macacos no Brasil”, revelou a integrante de um grupo de intercâmbio para idosos. “A gente joga uma banana. De um lado, vêm os micos, e do outro, os biólogos do parque”, explica a mulher, que tomou o cuidado de, pelo menos, não oferecer alimentação industrializada aos animais.


Da mesma maneira, duas pipas são avistadas no céu, embora esteja terminantemente proibido entrar com papagaios no parque. Nos últimos dois meses, na temporada de ventos, foram recolhidas cerca de 800 aves feridas e mutiladas pelas linhas, mesmo sem o uso de cerol, entre gaviões, corujas, pardais e rolinhas. “Se o atendimento de saúde para a população já é precário, imagine a situação dos animais acidentados em vias públicas que dependem da boa vontade de voluntários e das clínicas veterinárias para ajudar”, denuncia o veterinário Leonardo Maciel, especialista em animais selvagens. Ele lembra que a capital paulista já estuda construir o segundo hospital veterinário gratuito.


“Belo Horizonte precisa desenvolver uma relação de respeito para com os bichos. O problema é que o ser humano deixou de conviver com os animais, a não ser que estejam presos no zoológico ou na coleira”, alerta a advogada Val Consolação, ativista da causa animal. Mais eficiente do que o manejo das capivaras e jacarés da Pampulha, além de outros sujeitos ao desequilíbrio, os ambientalistas preconizam como estratégia para a capital mineira a castração dos animais. “É uma forma de controle populacional ética. Os bichos deixam de se reproduzir e a situação se resolve naturalmente, por meio do envelhecimento”, afirma Maciel. Segundo ele, foi o que aconteceu com a população de gatos do Parque Municipal de BH, castrados com a ajuda dos voluntários das ONGs especializadas na proteção aos direitos dos animais.

Quatis comem pipoca, alimento inadequado par a espécie(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Quatis comem pipoca, alimento inadequado par a espécie (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Atração na Copa

“É bom lembrar que os animais silvestres chegaram aqui antes de nós”, adverte Fernando Perini, que estuda os mamíferos no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Ele lembra que, no caso da Lagoa da Pampulha e do Parque das Mangabeiras, o ser humano criou verdadeiros oásis para os animais silvestres, ao espantar predadores maiores e oferecer alimento em abundância. “Essa política de remover as capivaras da Pampulha vai se tornar inócua, porque outras virão pelos córregos, assim como vieram as primeiras. É perfeitamente viável a convivência pacífica entre os homens e os animais silvestres”, defende ele, dizendo que as capivaras foram a maior atração para os estrangeiros na Copa do Mundo, mais do que a arquitetura de Niemeyer e os jardins de Burle Marx.


A adaptação das aves ao ambiente urbano é outro desafio a ser enfrentado. Segundo o ecologista de aves da UFMG Marcos Rodrigues, das 700 espécies de aves existentes em Minas Gerais, somente 200 conseguem sobreviver em meio às luzes da cidade. “Elas são fotofóbicas, ou seja, têm medo da luz. Gostam de viver no escurinho da cidade e estão totalmente adaptadas à vida na floresta, alimentando-se de insetos e frutos”, explica. Ao mesmo tempo, em função da maior oferta de recursos alimentares nas metrópoles, algumas aves estariam se dando bem com as novas condições ambientais nos centros urbanos. Com o aumento das palmeiras nos condomínios fechados, que oferecem coquinhos, começaram a aparecer revoadas de tucanos e periquitos nas cidades grandes, nos últimos 20 anos. Para tudo existe um lado bom.

 

 

 


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