Jornal Estado de Minas

Família de desaparecido vive mais um dia de angústia; buscas recomeçam nesta sexta

Buscas por Adilson Aparecido Batista, de 44 anos, continuam nesta sexta-feira. Parentes foram à mineradora acompanhar os trabalhos

Gustavo Werneck Mateus Parreiras

Máquinas escavam os arredores de outra retroescavadeira, parcialmente soterrada pela onda de rejeitos. Procura por vítima é dificultada pela grande extensão da área atingida e pela instabilidade do material - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press


A família do operador de retroescavadeira Adilson Aparecido Batista, de 44 anos, desaparecido desde quarta-feira, quando ocorreu o rompimento da barragem de rejeitos da Herculano Mineração, em Itabirito, a 55 quilômetros de Belo Horizonte, não perde a esperança de que o encontrem. As buscas pela vítima recomeçaram às 6h desta sexta-feira com 20 bombeiros, helicóptero e cães farejadores. “Se ele não estiver vivo, que achem o seu corpo”, disse a irmã, a dona de casa Patrícia Aparecida Batista, que ficou ontem na sede da empresa das 8h30 às 17h, em companhia do filho da vítima, Fernando Rodrigues Batista, de 23. “Não pudemos ir à área atingida, ficamos o tempo todo na cantina”, contou.

Na casa do Bairro Mumu, em Itabirito, a família está muito abalada, mas se mantém unida, afirmou Patrícia. A todo momento chegam amigos e parentes para saber notícias e confortar Maria das Graças Santos Batista, de 64 anos, mãe de Adilson, o mais velho de quatro filhos. Evangélica, ela encontra apoio no abraço da família e nas orações.

Enquanto Patrícia e Fernando estavam no refeitório, os bombeiros continuavam as buscas. Mesmo sob ameaça de deslizamentos, já que o terreno ainda é considerado instável pelos militares, os socorristas da corporação vasculharam toneladas de lama e rejeitos atrás do operário.
Com o rompimento da represa, o lamaçal desceu de uma altura de 60 metros e soterrou uma área de 20 a 30 campos de futebol.

Logo cedo os bombeiros em solo se dividiram em dois grupos. Quatro deles percorreram toda a área atingida, subindo e descendo entre os restos de três caminhões e máquinas para procurar por pistas do desaparecido. No fundo do vale, onde a maior parte da lama que vazou ficou depositada, o outro grupo usava duas retroescavadeiras para tentar remover uma terceira máquina do tipo, que ficou soterrada depois do acidente. As suspeitas são de que Adilson estaria operando esse equipamento antes de desaparecer.

Familiares do operador de retroescavadeira Adilson Batista esperam apreensivos pelo trabalho de resgate - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Reação

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Extração de Ferro e Metal Base (Metabase), Sebastião Alves de Oliveira, afirmou que o trabalhador poderia ter se salvado se tivesse ficado dentro do veículo pesado. “A cabine da retroescavadeira estava intacta. Mas não dá para condenar a reação de uma pessoa em um momento de desespero como esse, ao ver uma montanha desabar sobre a gente”, disse.

Enquanto as máquinas escavavam, outros bombeiros se arriscavam sobre o lamaçal no fundo do vale. Sondavam cada espaço à sua frente usando bastões para ver se encontravam terreno firme ou o corpo do desaparecido. Para avançar sobre a lama, usavam uma prancha de madeira sobre a qual podiam pisar sem serem tragados pelo lago de detritos. Um helicóptero da corporação fez vários sobrevoos na área para ajudar nas buscas.

A equipe do Estado de Minas chegou a 250 metros do local onde eram feitas as buscas e constatou um território devastado. Dois lagos e um riacho que passavam pelo fundo do vale foram totalmente soterrados pela lama vermelha e pelo pó de minério de ferro. Dois postes de energia elétrica foram carregados pela onda de rejeitos, interrompendo o fornecimento de condomínios próximos por algumas horas. Tubulações de água que abasteciam a empresa e outras que levavam água para comunidades próximas foram destruídas.



A trilha de minério seguiu correnteza abaixo pelo pequeno córrego, sendo depositada no leito quilômetros adiante. De acordo com a Feam, oito técnicos trabalham na região do acidente para identificar o nível de dano ambiental que sofreram córregos, lagos, vegetação e animais. Um relatório será produzido e divulgado ao fim desse trabalho.

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