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Estado de Minas

Fim do pesadelo dos moradores vizinhos ao Viaduto Batalha dos Guararapes começa neste domingo

Moradores próximos ao viaduto Batalha dos Guararapes deixam seus apartamentos e esperam para hoje, com implosão da alça norte, o fim de um pesadelo vivido há 70 dias


postado em 14/09/2014 06:00 / atualizado em 14/09/2014 07:22

Marilda Siqueira observa com medo o viaduto bem próximo à sua janela e diz que só sairá na última hora (foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)
Marilda Siqueira observa com medo o viaduto bem próximo à sua janela e diz que só sairá na última hora (foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)

Esperança, descrença, alívio e medo. Setenta dias depois de parte do Viaduto Batalha dos Guararapes, no Planalto, na Região Norte de Belo Horizonte desabar, matando duas pessoas e ferindo 23, sentimentos antagônicos tomam conta de centenas de famílias moradoras do entorno. Vizinhos do pesadelo esperam para hoje o fim de um drama que para eles teve início em 2011, quando começaram as obras do elevado. Às 9h, está marcada a implosão da alça norte. Ontem, moradores foram retirados pela Defesa Civil dos edifícios Antares e Savana, próximos à estrutura, e levados para um hotel. Alguns preferiram se refugiar na casa de parentes e amigos e outros optaram por não sair de casa.

Os 125kg de explosivos foram postos à tarde nos pilares. Hoje, uma hora antes da implosão, todos os imóveis localizados num raio de 200 metros deverão ser desocupados. Além de telas de proteção, uma vala com cerca de um metro e meio em torno dos pontos de implosão deve diminuir os impactos. Assim que a estrutura estiver no chão, a Cowan inicia a remoção do concreto e a limpeza da via. A expectativa é de que o trânsito na Avenida Pedro I seja normalizado em aproximadamente uma semana.

Sirenes vão tocar em alerta antes da implosão. Às 8h, será dado o primeiro sinal para evacuação da área. Quinze minutos depois, vias no entorno começam a ser bloqueadas. Às 8h50, ocorre inspeção final do espaço isolado. Faltando um minuto para 9h, começa a contagem regressiva para a implosão. A previsão é de que 30 minutos depois a área esteja liberada.

 Técnicos da Defesa Civil e assistentes sociais vão orientar os moradores e vistoriar os imóveis vizinhos. A BHTrans vai montar desvios do trânsito e pontos de ônibus específicos durante a operação. Cerca de 150 pessoas estarão envolvidas no procedimento que terá área de isolamento de 200 metros, sendo 50 metros de área de influência. No espaço seguinte, de 150 metros, não deve ocorrer vibração.

Cronograma da Defesa Civil previa a retirada de 32 famílias do residencial Savana e 85 do Antares. Outras 16 famílias do Savana e 32 do Antares recusaram hospedagem. Vinte e quatro animais domésticos, entre cães, gatos e pássaros, foram acomodados em um pet shop. Foi oferecida hospedagem a moradores e ocupantes de prédios localizados num raio de 50 metros do viaduto – imóveis sujeitos a vibrações e a serem atingidos por estilhaços de concreto e aço. O hotel foi pago pela Cowan, construtora responsável pela obra do elevado e estará disponível até a remoção total dos entulhos.

A dona de casa Teresa Fátima do Carmo, de 60, foi no ônibus disponibilizado pela construtora com os netos Micaelly, de 5, e Israel, de 4. Moradora do Savana, ela pretende voltar para casa entre segunda e terça-feira. Os netos retornam hoje mesmo para ficar com a filha dela. “Estou muito assustada. Adoeci com tanta poeira e pressão. Mas minha irmã me ensinou que a gente tem que esperar o dia de amanhã. É isso que estou fazendo.”

Já a supervisora de vendas Andreia Santos da Silva, de 46 anos, deixou ontem o apartamento no edifício Antares e foi com os dois filhos para o hotel no próprio carro, levando roupas e produtos de higiene pessoal. Temerosa dos efeitos da implosão, ela mandou o que pôde de seus pertences para a casa da nora. O apartamento tem rachaduras em todos os cômodos. “Quando a obra começou, eram apenas fissuras externas, que agora atingiram meu imóvel. Um engenheiro fez vistoria ontem (anteontem) e disse que vão resolver a questão”, afirmou.

A moradora Marilda Siqueira Madeira, de 61, estava aos prantos. Ela não quis deixar o apartamento e sairá somente hoje, às 8h, para voltar em seguida. “Há 10 anos eu me levanto às 5h e volto às 19h, trabalhando para pagar a prestação. Estou há 15 anos tentando ter minha casa própria. Sinto que se eu sair, vão tirar a minha casa”, disse. A gata Nina, também assustada, será sua companhia. Ela cobra da defesa civil o envio das fotos da vistoria, conforme determinação judicial. “Mandaram apenas as imagens de problemas pré-existentes, como a do trinco numa janela. Eu quero as fotos do apartamento inteiro para ter garantias”, afirmou.

Marilda tem certeza de que, em 24 horas, o viaduto rebaixou. Ela também mora no bloco mais próximo ao viaduto e seu apartamento é virado para ele, tendo visão do elevado do seu quarto e da cozinha. “Eu assisto televisão sentada na cama e, antes, eu via apenas a luz do poste. Quinta-feira comentei com uma amiga que, depois da derrubada, eu teria meu quarto iluminado. Ontem, eu me assustei ao ver parte do poste”, relatou. “A gente perde a confiança depois de tantos problemas. Obviamente, precisamos ter pensamento positivo, mas tenho medo.”

Por determinação do juiz Renato Luís Dresch, da 4ª Vara da Fazenda Pública Municipal, antes de autorizar o retorno dos moradores, a Defesa Civil deverá vistoriar as estruturas externas e comuns de todos os prédios e entregar cópia dos relatórios aos moradores. Cada morador poderá entrar e verificar se houve dano e, em caso de problema, deverá comunicar imediatamente os vistoriadores. A implosão levará três segundos e, logo depois, começarão os trabalhos de remoção dos entulhos – a estrutura será demolida logo depois de implodida. A expectativa é de que demore uma semana e, logo depois, a Avenida Pedro I poderá ser liberada.


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