A alça norte do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Região Norte de Belo Horizonte, veio abaixo com 125 quilos de dinamite, mas a vida de moradores do entorno e de quem trafega pela região está longe de voltar ao normal. Ontem, bastaram três segundos para um capítulo decisivo de um drama iniciado em 3 de julho, quando parte da estrutura desabou, matando duas pessoas e ferindo 23. Os trabalhos de demolição do elevado e posterior remoção de ferragens e concreto tiveram início logo depois da implosão. A expectativa é reabrir a Avenida Pedro I em uma semana, mas a própria Defesa Civil municipal admite a possibilidade de atrasos. Famílias dos edifícios Antares e Savana, os mais próximos ao viaduto, passaram o resto do dia contabilizando danos, a maioria representada por vidros de janelas quebrados. Por todo lado, estilhaços eram o rastro do impacto da implosão.
Veja as imagens da implosão
O coordenador da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, informou que o planejamento foi feito para que a via esteja liberada no prazo previsto. Segundo ele, para garantir rapidez na ação serão usadas máquinas mais potentes e de tecnologia mais avançada que as empregadas na demolição da alça sul do viaduto, quatro dias depois do desabamento.
Eram exatamente 8h quando soou o primeiro alarme, avisando aos moradores e ocupantes de prédios localizados em um raio de 200 metros de distância do viaduto que era hora de deixar os imóveis. Moradora do Edifício Antares, a cuidadora de idosos Edilene Maria Silvério, de 43 anos, deixou o apartamento com os filhos Flávio, de 22, e Miguel Silva, de 13. Eles iam para a igreja e depois para a casa de amigos, até poderem voltar, à tarde. “Estamos confiando em Deus”, afirmou Edilene. “É bem desagradável. Isso virou um problema para toda a região. O trânsito está horrível”, disse Flávio.
Curiosos não paravam de chegar. A Guarda Municipal precisou afastar um grupo de cima do Viaduto João Samaha, que ficou fechado ao trânsito depois das 8h10.
Às 8h30 tocou a segunda sirene de alerta e as vias do entorno foram todas bloqueadas ao tráfego. Cinco minutos depois, bombeiros, guardas municipais e equipes da Defesa Civil e de outras áreas da prefeitura se afastaram até a área de segurança, a 380 metros do viaduto prestes a ser implodido. Às 9h em ponto o viaduto caiu, com 300 milissegundos de diferença entre cada pilar e exatos três segundos totais. Telas metálicas foram colocadas ao longo da estrutura para minimizar o lançamento de fragmentos. Também foi colocado um forro embaixo da estrutura, para diminuir o impacto da queda.
O dono da empresa responsável pela implosão, Fábio Bruno, considerou a ação um sucesso: “Houve quebras de vidros, mas devido ao deslocamento de ar, o que era previsto. Ocorreu exatamente como prevíamos, inclusive os limites de vibração, que eram nosso maior temor”.
Hora de contar os prejuízos
Os vistoriadores da Defesa Civil isolaram algumas áreas nos prédios e acompanharam os moradores nas verificações de possíveis prejuízos em seus apartamentos. Um posto foi montado para registro de ocorrências.
A secretária escolar Maria Helena Dias, de 51, moradora do Residencial Antares, ainda não sabia se poderia retomar sua rotina ontem. Em seu apartamento, apenas o vidro do banheiro ficou intacto. Anteontem ela seguiu para o hotel pago pela Construtora Cowan, responsável pelas obras, seguindo a orientação de desocupar os imóveis. A hospedagem foi oferecida às famílias até a remoção total dos entulhos. Helena tirou quadros das paredes e deixou no sofá objetos que poderiam cair e se quebrar com o impacto da implosão. Até mesmo o carro ficou na garagem. “Fiz um planejamento para retomar minha casa hoje. Minha vida virou do avesso.”
Vizinha de Maria Helena, a supervisora de vendas Andreia Santos da Silva, de 46, também foi anteontem para o hotel e retornou apenas para verificar os danos. O vidro da janela da sala trincou, mas ela estava mesmo era preocupada com as rachaduras: desde que o viaduto desabou, fissuras externas se transformaram em rachaduras e, depois do início da demolição, atingiram todos os cômodos do imóvel. “Elas se alargaram e preciso ver como isso afetou meu apartamento”, disse.
A gerente administrativa Raquel Nardim, de 34, do mesmo prédio, teve os vidros das janelas dos dois quartos estilhaçados. “Meu maior temor é sobre o que a demolição pode ocasionar à estrutura do prédio. Quando começou a outra (da alça sul), ele tremia”, afirmou. Ontem, ela preferiu não assistir à implosão: “Eu estava em casa quando o viaduto caiu e tudo isso me causou um grande abalo psicológico. Passei minhas férias ouvindo esse barulho. Não quis ver, para não ter mais isso na memória”.