Para os vizinhos da obra, ontem foi dia de avaliar os prejuízos, limpar apartamentos e contar os dias para ver o fim do tormento. Da janela de casa, a aposentada Marilda Siqueira Madeira olhava, à tarde, o movimento das máquinas retirando e picotando 3 mil toneladas de ferragens e concreto. “Nem estou me incomodando com essa barulhada. Melhor ficar aqui, com esse som, do que em um quarto de hotel”, disse Marilda, que revelou ter chorado muito ao ouvir, na manhã de domingo, a explosão do que restou do viaduto cuja alça sul desabou em 3 de julho, deixando dois mortos e 23 feridos. “Fiquei em uma rua perto, com o coração na mão.
Ao regressar à casa, depois de ouvir a primeira sirene autorizando a entrada dos moradores nos prédios, Marilda encontrou vidraças quebradas, com exceção das do banheiro. Ontem mesmo a aposentada procurou a Defesa Civil para pedir o conserto imediato das janelas. “Quero que fique tudo pronto até quarta-feira, e não aceito que ponham tapumes”, disse. No total, 60 apartamentos tiveram janelas quebradas, segundo a advogada Ana Cristina.
Marilda disse que ficou mais tranquila após ouvir, no domingo, de um funcionário da Coordenadoria Municipal da Defesa Civil, que não será mais construído um viaduto no local. “Ele falou que não será na nossa rua, a Moacir Froes. Se houver outra estrutura, deve ser mais adiante. Temos que esperar, pois cada um fala de um jeito. O certo mesmo é que queremos nossa rua de volta”, disse a moradora, olhando a via pública agora fechada com tapumes para o trânsito de pedestres e com uma vala construída ao longo do viaduto para reduzir impactos nos prédios próximos.
O síndico do bloco 3 do Antares, Ricardo Luiz Nascimento, também teve janelas do apartamento quebradas durante a implosão. Às 16h30 de ontem, ele ainda se queixava. “A empresa responsável pelo serviço tem um seguro de R$ 1 milhão para cobrir os danos. Já se passaram 24 horas e até agora, nada”, disse Ricardo.
JORNADA MAIOR
De acordo com a Defesa Civil, os operários estão trabalhando das 7h às 22h, regime que será mantido inclusive no fim de semana, para dar conta do término da demolição e posterior abertura da Avenida Pedro I ao trânsito. O número de máquinas também foi aumentado. No local, duas tendas funcionam dia e noite, com psicólogos e assistente social, para atendimento aos moradores, engenheiros e equipe da Defesa Civil. Os prédios já foram liberados para retorno das famílias, embora os hotéis ainda estejam disponíveis para os que não querem enfrentar o barulho das máquinas.
De acordo com a prefeitura, a prioridade total é concluir o processo de demolição para viabilizar o mais rápido possível a abertura da via para veículos e pedestres. “No momento, não há previsão de nenhuma outra intervenção no local”, informaram técnicos, ressaltando que “no dia da implosão, vidraceiros já estavam tirando medidas para repor os vidros quebrados”.