Jornal Estado de Minas

Moradores do Mangabeiras cobram ações preventivas da PM para impedir tumultos em festas

Depois do vandalismo e denúncias de arrastão em evento na Praça do Papa, polícia promete megaoperação para evitar violência em outro encontro do tipo marcado para domingo

Tiago de Holanda João Henrique do Vale

Ação preventiva da PM feita no fim de 2013 no Mangabeiras: operação no domingo terá blitzes e participação de MP e PBH - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press 13/12/13


A Polícia Militar (PM) anunciou uma megaoperação na Praça do Papa no domingo, data em que pode ocorrer evento semelhante ao realizado anteontem no Bairro Mangabeiras, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que reuniu 10 mil pessoas e terminou com denúncias de arrastão, vandalismo, tentativa de arrombamento de uma casa e uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo por parte das forças de segurança. Diante do tumulto ocorrido domingo e de uma nova convocação de encontro feita por meio de rede social para esta semana, a PM resolveu montar uma estratégia conjunta para evitar atos violentos, com participação do Ministério Público (MP) e da Prefeitura de Belo Horizonte. Ontem, a Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras (AMBM) cobrou da polícia o uso do serviço de inteligência para prevenir problemas em eventos do tipo e pediu ao MP que identifique e responsabilize organizadores do encontro.

O encontro que terminou em tumulto anteontem, chamado “Festival of colors”, foi marcado pelo Facebook e surpreendeu a PM e moradores ao reunir cerca de 10 mil pessoas, a maioria adolescentes. A corporação afirma que o evento não tinha autorização do poder público e que, às 15h15, o 22 º Batalhão foi informado sobre uma grupo grande de pessoas que se dirigiam à praça. Uma confusão começou por volta das 18h, de acordo com a polícia, depois que um grupo tentou arrombar uma casa que estava para alugar. “Um grupo de jovens tentou arrombar uma casa e os policiais tiveram que agir”, disse o major Olimpio Garcia, comandante do 22º Batalhão da PM, responsável pela área. Segundo ele, quando os policiais se aproximaram, outras pessoas tentaram impedir as prisões dos jovens, por isso foi necessário o uso de armamento não letal.

Testemunhas disseram à reportagem do Estado de Minas que houve correria e arrastão, com furtos de celulares e outros objetos.
“Recebemos nove chamados de furtos durante o evento, mas nenhum boletim de ocorrência foi feito por parte das vítimas”, afirmou o comandante do 22º Batalhão. Também houve vandalismo na praça: segundo a Regional Centro-Sul, foram encontradas pichações feitas em bancos no domingo, que serão removidas esta semana. Uma ação de limpeza, hoje, vai tentar retirar uma substância não identificada lançada no calçamento da praça, que a lavação rotineira não conseguiu resolver. A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) informa que fará uma vistoria para avaliar quantas lixeiras foram danificadas, para que sejam reparadas ou substituídas. Cada equipamento custa R$ 220,92, segundo o órgão.

A operação preparada para o domingo inclui realização de blitzes e reforço no policiamento na região, mas toda a estratégia só será detalhada na quinta-feira. “Posso adiantar que teremos fiscalização na área para não deixar entrar carros irregulares, por exemplo, e que será coibido o uso de bebidas alcoólicas por parte de adolescentes. Pelo que vimos, já há mais de 6 mil pessoas confirmadas”, afirmou o major Olimpio Garcia.

Responsabilidades

O presidente da Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras (AMBM), Alberto Dávila, cobrou ontem da PM e do Ministério Público punição para responsáveis pelo tumulto na Praça do Papa. “Entendemos que as pessoas que iniciaram a convocação pelas redes sociais devem ser responsabilizadas pela desordem e danos materiais causados. A Polícia Militar, por meio de seu setor de inteligência, está capacitada a rastrear essas convocações e agir com antecedência. Não entendemos a razão pela qual não o fez”, criticou.

O major Olimpio Garcia sustenta que a PM já faz monitoramento das redes sociais e que sabia do encontro na Praça do Papa, mas lembrou que a corporação precisou garantir segurança em outros eventos no domingo – houve shows do festival Natura Musical nas praças da Estação e JK. “Sempre fazemos este tipo de varredura para organizar as ações previamente”, comentou o major.

A reportagem do EM tentou contato com responsáveis pela página do evento no Facebook, mas não houve retorno. Colaborou Luana Cruz

Moradores recolhem lixo e relatam medo
No dia seguinte ao tumulto na Praça do Papa, moradores do entorno limparam a sujeira deixada em suas portas e jardins por participantes do evento. Eles contam que tiveram medo de sair de casa no domingo, quando milhares de jovens se reuniram no local e foram dispersados pela Polícia Militar, que deu tiros de borracha e usou bombas de efeito moral. A aposentada M., de 60 anos, passou a manhã de ontem recolhendo o lixo deixado no passeio e nos canteiros em frente à residência onde vive com o marido e uma filha, no entorno da praça. “Quando cheguei em casa, às 16h, já tinha muita gente e a quantidade só foi aumentando”, lembrou. A princípio, ela não conseguiu entrar com o carro em sua garagem, porque havia um veículo estacionado na rampa de acesso. Outro estava parado sobre o gramado do canteiro, que teve removido parte do gradil de proteção. “Pedi para tirarem os carros, mas ficaram rindo da minha cara, debochados. Só me atenderam quando falei que meu filho é delegado”, contou.

No jardim, além do gradil, plantas foram arrancadas. “Muitos jovens fumando maconha, cheirando cocaína, muita bebida.
O som estava muito alto. Alguns andaram de moto só sobre a roda traseira. Vi algumas brigas. Um rapazinho apanhou muito, chegou a ficar caído no chão. A situação só se normalizou às 20h, depois que a polícia botou todo mundo para correr”, relatou a aposentada. Ela mora no endereço há mais de 10 anos e diz que nunca viu nada semelhante ocorrer na praça. “Aqui já houve muitos problemas, como festas com som alto de madrugada, moças dançando funk e tirando a roupa, consumo de drogas, mas nada como o que aconteceu ontem. A polícia deveria ter impedido esse encontro”, acrescentou.

A comerciante S., de 37 anos, também se impressionou com a quantidade de lixo deixada em frente à sua casa. “Urinaram no jardim, está com um cheiro muito forte. Teve bagunça o dia inteiro. De manhã começou a ter som muito alto. Teve muita gritaria. Minha filha ia sair de casa, mas ficou com medo e preferiu não se arriscar”, contou. Ela diz que o tumulto de anteontem foi inédito no local, mas transtornos são frequentes. “De sexta a domingo é terrível. Fazem festa, usam drogas, botam som muito alto, não consigo dormir direito. A gente acorda assustada com gritaria no meio da noite”, relatou.

 

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