A Polícia Militar (PM) anunciou uma megaoperação na Praça do Papa no domingo, data em que pode ocorrer evento semelhante ao realizado anteontem no Bairro Mangabeiras, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que reuniu 10 mil pessoas e terminou com denúncias de arrastão, vandalismo, tentativa de arrombamento de uma casa e uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo por parte das forças de segurança. Diante do tumulto ocorrido domingo e de uma nova convocação de encontro feita por meio de rede social para esta semana, a PM resolveu montar uma estratégia conjunta para evitar atos violentos, com participação do Ministério Público (MP) e da Prefeitura de Belo Horizonte. Ontem, a Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras (AMBM) cobrou da polícia o uso do serviço de inteligência para prevenir problemas em eventos do tipo e pediu ao MP que identifique e responsabilize organizadores do encontro.
O encontro que terminou em tumulto anteontem, chamado “Festival of colors”, foi marcado pelo Facebook e surpreendeu a PM e moradores ao reunir cerca de 10 mil pessoas, a maioria adolescentes. A corporação afirma que o evento não tinha autorização do poder público e que, às 15h15, o 22 º Batalhão foi informado sobre uma grupo grande de pessoas que se dirigiam à praça. Uma confusão começou por volta das 18h, de acordo com a polícia, depois que um grupo tentou arrombar uma casa que estava para alugar. “Um grupo de jovens tentou arrombar uma casa e os policiais tiveram que agir”, disse o major Olimpio Garcia, comandante do 22º Batalhão da PM, responsável pela área. Segundo ele, quando os policiais se aproximaram, outras pessoas tentaram impedir as prisões dos jovens, por isso foi necessário o uso de armamento não letal.
Testemunhas disseram à reportagem do Estado de Minas que houve correria e arrastão, com furtos de celulares e outros objetos.
A operação preparada para o domingo inclui realização de blitzes e reforço no policiamento na região, mas toda a estratégia só será detalhada na quinta-feira. “Posso adiantar que teremos fiscalização na área para não deixar entrar carros irregulares, por exemplo, e que será coibido o uso de bebidas alcoólicas por parte de adolescentes. Pelo que vimos, já há mais de 6 mil pessoas confirmadas”, afirmou o major Olimpio Garcia.
Responsabilidades
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras (AMBM), Alberto Dávila, cobrou ontem da PM e do Ministério Público punição para responsáveis pelo tumulto na Praça do Papa. “Entendemos que as pessoas que iniciaram a convocação pelas redes sociais devem ser responsabilizadas pela desordem e danos materiais causados. A Polícia Militar, por meio de seu setor de inteligência, está capacitada a rastrear essas convocações e agir com antecedência. Não entendemos a razão pela qual não o fez”, criticou.
O major Olimpio Garcia sustenta que a PM já faz monitoramento das redes sociais e que sabia do encontro na Praça do Papa, mas lembrou que a corporação precisou garantir segurança em outros eventos no domingo – houve shows do festival Natura Musical nas praças da Estação e JK. “Sempre fazemos este tipo de varredura para organizar as ações previamente”, comentou o major.
Moradores recolhem lixo e relatam medo
No dia seguinte ao tumulto na Praça do Papa, moradores do entorno limparam a sujeira deixada em suas portas e jardins por participantes do evento. Eles contam que tiveram medo de sair de casa no domingo, quando milhares de jovens se reuniram no local e foram dispersados pela Polícia Militar, que deu tiros de borracha e usou bombas de efeito moral. A aposentada M., de 60 anos, passou a manhã de ontem recolhendo o lixo deixado no passeio e nos canteiros em frente à residência onde vive com o marido e uma filha, no entorno da praça. “Quando cheguei em casa, às 16h, já tinha muita gente e a quantidade só foi aumentando”, lembrou. A princípio, ela não conseguiu entrar com o carro em sua garagem, porque havia um veículo estacionado na rampa de acesso. Outro estava parado sobre o gramado do canteiro, que teve removido parte do gradil de proteção. “Pedi para tirarem os carros, mas ficaram rindo da minha cara, debochados. Só me atenderam quando falei que meu filho é delegado”, contou.
No jardim, além do gradil, plantas foram arrancadas. “Muitos jovens fumando maconha, cheirando cocaína, muita bebida.
A comerciante S., de 37 anos, também se impressionou com a quantidade de lixo deixada em frente à sua casa. “Urinaram no jardim, está com um cheiro muito forte. Teve bagunça o dia inteiro. De manhã começou a ter som muito alto. Teve muita gritaria. Minha filha ia sair de casa, mas ficou com medo e preferiu não se arriscar”, contou. Ela diz que o tumulto de anteontem foi inédito no local, mas transtornos são frequentes. “De sexta a domingo é terrível. Fazem festa, usam drogas, botam som muito alto, não consigo dormir direito. A gente acorda assustada com gritaria no meio da noite”, relatou.
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