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Estado de Minas

Número de incêndios nas áreas urbanas de Minas sobe 77% no primeiro semestre

De janeiro a julho deste ano houve 4.491 incêndios em cidades mineiras, contra 2.536 ocorrências no mesmo período de 2013. Bombeiros alertam para descaso com lotes vagos e ações criminosas


postado em 18/09/2014 06:00 / atualizado em 18/09/2014 06:57

Chamas às margens da BR-356 assustaram vizinhos de bairros como o Santa Lúcia, na Zona Sul de BH(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Chamas às margens da BR-356 assustaram vizinhos de bairros como o Santa Lúcia, na Zona Sul de BH (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

O tempo seco, a falta de cuidado com lotes vagos e atitudes criminosas ou imprudentes envolvendo fogo se transformaram em combustível para fazer disparar o número de incêndios em áreas urbanas de Minas Gerais no primeiro semestre deste ano. Ocorrências do tipo aumentaram 77% no período, na comparação com os primeiros seis meses ano passado. Com as áreas queimadas se alastrando, as chamas chegam cada vez mais perto das casas, como ocorreu na terça-feira nos bairros São Bento e Santa Lúcia, na Zona Sul de Belo Horizonte. Levantamento do Corpo de Bombeiros mostra que de janeiro a junho houve um total de 4.491 incêndios em cidades mineiras, contra 2.536 ocorrências no mesmo período de 2013.

Vítimas mais recentes, moradores do Bairro Santa Lúcia passaram a manhã de ontem limpando a fuligem deixada em suas casas por um incêndio de grande proporção, depois de uma noite de apreensão diante das chamas. O fogo começou no início da noite de terça-feira, na vegetação seca à beira da BR-356, e se alastrou com o vento forte. Na Rua Centauro, as chamas chegaram a atingir muros de imóveis, mas os bombeiros conseguiram debelar o fogo a tempo de evitar danos maiores. “Meu carro estava estacionado na rua e corri para tirá-lo. O calor do fogo era tanto que havia risco de estragar a pintura, um tipo de dano que o seguro não cobre”, conta a administradora financeira Luciana Lamarca, de 34 anos, que na semana passada já havia assistido à queimada de parte da vegetação.

Uma moradora da Rua La Place, que prefere o anonimato, conta que não conseguiu dormir, com medo de o fogo chegar à sua casa. Segundo ela, os bombeiros apagaram o incêndio por volta das 21h, mas as chamas recomeçaram e os militares tiveram que voltar. “Apagaram o fogo perto das casas, na parte baixa, e foram combater o incêndio no alto do morro, perto do Shopping Ponteio. Mas as chamas recomeçaram às 21h30 aqui embaixo e eles precisaram retornar”, relata. Na manhã de ontem, ainda havia troncos de árvores fumegantes nas proximidades.

A auxiliar de limpeza Elisângela Vieira Lopes Ribeiro, de 32, encontrou muito sujeira na manhã de ontem, quando chegou ao prédio em que trabalha, no Santa Lúcia. Ela precisou lavar a portaria e a calçada, por causa da fuligem depositada pelo vento e pelo fogo da noite anterior. “Acho que o povo passa de carro pela BR-356 e joga toco de cigarro aceso no mato. Sempre tem incêndio nesta época do ano. O mato está muito seco”, constatou.

"Meu carro estava estacionado na rua e corri para tirá-lo. O calor do fogo era tanto que havia risco de estragar a pintura", Luciana Lamarca, moradora do Bairro Santa Lúcia (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Propagação de denúncias


Considerando apenas incêndios em lotes vagos de áreas urbanas do estado, o aumento foi de 1.199, no primeiro semestre de 2013, para 1.981 no mesmo período deste ano, segundo o Corpo de Bombeiros. Em áreas públicas urbanas, os casos aumentaram de 1.337, de janeiro a junho do ano passado, para 2.510, em 2014. Temendo desastres com as chamas que chegam cada vez mais perto, o número de pessoas que denunciam áreas abandonadas com o mato alto também disparou em proporção semelhante. De janeiro a junho de 2013, os bombeiros fizeram 2.938 vistorias. Em 2014, foram 5.265.

Em Belo Horizonte, a maioria dos incêndios em vegetação é de origem criminosa, segundo o capitão do Corpo de Bombeiros Thiago Miranda, que reclama de dificuldade para identificação dos responsáveis. O oficial alerta que donos de lotes vagos devem manter o mato sempre capinado, como determina, em Belo Horizonte, o Código de Posturas do Município. “Incêndios urbanos levam fumaça e fuligem para dentro das casas e pioram a qualidade do ar. Se o fogo atingir uma construção de alvenaria, pode causar danos à estrutura”, disse o capitão.

A orientação do militar é para que o Corpo de Bombeiros seja chamado aos primeiros sinais de fumaça, para que o fogo seja debelado ainda no início. O capitão instrui ainda os cidadãos para que denunciem à prefeitura a existência de lotes com riscos de incêndio e, se for o caso, registrem boletins de ocorrência, para que os responsáveis sejam acionados judicialmente.

Combate na Serra da Moeda

Bombeiros retornam hoje à Serra da Moeda, em Brumadinho, na Grande BH, para combater o incêndio que desde o domingo devasta a vegetação. Ontem, cinco suspeitos de atear fogo à mata foram encaminhados a uma delegacia. De acordo com o capitão Thiago Miranda, do Corpo de Bombeiros, cerca de 30 militares atuam na região e dois helicópteros serão empenhados hoje. Os focos nas proximidades do Centro de Arte Contemporânea Inhotim foram controlados. Segundo Miranda, o combate na mata ao redor da unidade não foi iniciado na noite de terça-feira, pois no período noturno os bombeiros não atuam em mata fechada, devido aos riscos.

Estiagem vira combustível


Segundo o meteorologista Ruibran dos Reis, do instituto ClimaTempo, um dos principais fatores para a ocorrência de tantos incêndios neste ano foi a escassez de chuvas. “Somente em dezembro do ano passado tivemos chuva, mas, mesmo assim, mais no Médio Jequitinhonha, no Baixo Rio Doce e na Região Metropolitana de BH”, disse. No Sul de Minas, Triângulo Mineiro, Norte e Noroeste não choveu nada de janeiro a março, segundo ele, o que deixou o solo muito seco. “O vento forte acaba facilitando a propagação dos focos de incêndio”, disse o especialista.

Um alívio é esperado para este fim de semana na Grande BH, segundo o meteorologista, com previsão de chuva trazida por uma frente fria. “Estamos esperando pancadas de chuvas isoladas no fim do mês e em outubro. Elas acabam diminuindo os focos de incêndios”, disse Ruibran. “Chuvas intermitentes são esperadas somente a partir da segunda quinzena de novembro”, acrescentou.

PARQUES EM RISCO Nas unidades de conservação do estado, os incêndios florestais aumentaram 130,4% de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período da média histórica registrada entre 2009 e 2013. O diretor de Prevenção e Combate a Incêndios da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Rodrigo Bueno Belo, também credita ao tempo seco o aumento dos números. Segundo ele, é difícil punir os responsáveis pelos focos. “São vários os autores, desde a pessoa que limpa uma pastagem e não adota medidas preventivas até um foguete solto ou uma fogueira mal apagada”, disse. Segundo ele, o fogo também pode ser provocado por descargas elétricas, mas isso acontece normalmente no período chuvoso, quando há muito raios.


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