Três meses e meio depois do desabamento da alça sul do Viaduto Batalha dos Gurarapes sobre a Avenida Pedro I, entre os bairros Planalto e São João Batista, em Belo Horizonte, o projetista apontado pelo laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil como responsável por ter calculado de forma equivocada a resistência de um dos pilares falou pela primeira vez, com exclusividade, ao Estado de Minas. Rodrigo de Souza e Silva negou que suas fórmulas contivessem erros e afirmou que, ainda que os dados contestados pelos peritos da Polícia Civil estivessem equivocados, isso não seria capaz de derrubar o viaduto, esmagando dois caminhões, um microônibus e um carro, o que resultou em dois mortos, 23 feridos e em prejuízos para motoristas e moradores do entorno da obra.
O profissional trabalha em um escritório de engenharia no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de BH, e prestou serviço tercerizado à empresa que venceu a licitação para elaborar o projeto executivo do viaduto, a Consol Engenheiros Consultores. Primeiramente, enquanto revisava documentos em sua mesa, Silva afirmou não poder entrar em detalhes técnicos sobre o ocorrido, por força de contrato com a Consol, mas comentou aspectos do laudo do Instituto de Criminalística que culpam seu trabalho por contribuir com o desmoronamento. “Os cálculos do projeto são meus. Fui eu que fiz. A meu ver, os cálculos não contêm qualquer erro. Estão corretos. O problema ali (no viaduto) foi outro”, afirmou, sem entrar em detalhes.
Porém, nas últimas páginas do laudo do Instituto de Criminalística, a conclusão assinada por sete peritos criminais pesa contra os cálculos de Rodrigo de Souza e Silva, que teriam indicado a construção do pilar denominado P3 com uma capacidade de suportar força 100 toneladas menor que o necessário.
Assim, os peritos afirmam que “o erro no dimensionamento da ferragem do bloco de fundação do pilar P3 pode ser apontado como o fator inicial”, que somado a falhas de fiscalização e acompanhamento das obras “culminou na ocorrência do desabamento”.
Segundo Rodrigo de Souza e Silva, no entanto, o construção de um bloco de pilar mais frágil não derrubaria o viaduto, ainda que seja essa uma das estruturas responsáveis por sustentar a obra. “Isso (os cálculos suspeitos de erro) não afetaria nada. O viaduto é que caiu em cima do bloco e não o bloco que jogou o viaduto no chão. O bloco não foi a causa do acidente, mas (a ruptura) foi a consequência”, afirma. A Consol reforça as palavras do projetista tercerizado, de que a situação do bloco do pilar não causou o acidente. De acordo com o responsável técnico da obra e presidente da empresa, Mauricio Lana, a execução diferente do projeto foi a causa do desmoronamento.
“O laudo não contradiz nossa posição”, diz ele. “Mostra que a fiscalização da obra poderia ter detectado situações diferentes do nosso projeto e o acompanhamento da remoção do escoramento evitaria a queda da estrutura”, completa. No entanto, ele discorda do tercerizado quanto aos erros de cálculos. “Houve, sim, erro de cálculo no bloco do pilar”, afirma.
Outra técnica que assina a responsabilidade sobre a construção do bloco rompido é a supervisora da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) Acacia Fagundes de Oliveira Albrecht. A profissional, que é formada no Iowa State Institute e está na Sudecap como gerente de projetos desde fevereiro de 2008, foi procurada pelo EM, mas a superintendência não forneceu seu contato para entrevistas, nem sequer listou, como foi pedido à assessoria de imprensa, quais as grandes obras públicas municipais das quais foi supervisora. O trabalho de revisão de cálculos, acompanhamento da obra e fiscalização da Sudecap foi apontado pelo laudo do Instituto de Criminalística como um dos responsáveis pela queda da estrutura, por ter ignorado diversas oportunidades de intervenção contra irregularidades e fragilidades no projeto e na própria construção do viaduto.
NOTA A Prefeitura de BH respondeu aos questionamento do EM apenas por meio de nota, na qual sustenta que “durante todo o processo, do projeto à execução da obra, manteve pessoal próprio ligado à fiscalização”.