Jornal Estado de Minas

Vizinhos do viaduto implodido temem demora na volta para casa

As famílias deveriam retornar aos lares no domingo, mas a execução de reparos no local está atrasada

Jorge Macedo - especial para o EM

Junia Oliveira

Senita Alves, moradora do Antares, mostra um tapume de papelão improvisado "Não vejo a hora de voltar para casa, mas como?" - Foto: Rodrigo Clemente/EM DA Press


Volta para o lar só com a casa arrumada. Vizinhos do viaduto Batalha dos Guararapes, implodido no domingo na Avenida Pedro I, no Bairro Planalto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, deixaram casas e apartamentos um dia antes de o elevado vir abaixo com promessa de retorno depois de amanhã. Esse é o prazo previsto para a conclusão dos trabalhos de demolição da alça norte e limpeza da área. Moradores temem que os reparos aos danos causados pela implosão não terminem no mesmo período e avisam que não retornam enquanto tudo não estiver limpo e consertado. A Defesa Civil informou ontem que a previsão é liberar a Pedro I ao tráfego na segunda-feira. Foi oferecida hospedagem de uma semana a moradores de imóveis localizados num raio de 50 metros do extinto viaduto.

Somente dos edifícios Savana e Antares, os mais próximos, saíram 117 famílias. No domingo, dia da implosão, eles eram os mais vulneráveis a vibrações e a serem atingidos por estilhaços de concreto e aço.
E, ao longo desta semana, a perturbações causadas pelo barulho da obra de demolição, que está usando maquinários com tecnologia de ponta, mas que trazem desconforto nesses aspecto. Dois hotéis, um no Bairro São Cristóvão, na Região Nordeste de BH, e outro no Itapoã, na Pampulha, foram pagos pela Cowan, construtora responsável pela obra do elevado e estará disponível até a remoção total dos entulhos.

Vários apartamentos, principalmente aqueles que estavam de frente para o viaduto, tiveram os vidros das janelas quebrados, avaria que já era esperada por causa do deslocamento de ar no momento da implosão. Também foram danificadas portarias dos prédios. A Construtora Cowan informou, por meio da assessoria de imprensa, que no mesmo dia da implosão os vidraceiros contratados pela empresa começaram os trabalhos de medição das janelas. E garantiu que, até domingo, tudo estará trocado.

Os moradores contestam. Síndica do bloco 3 do edifício Antares e representante dos moradores na comissão formada para discutir a situação judicialmente, Adelaide de Jesus acredita que antes de 15 dias não será possível terminar a instalação de todos os vidros. “O acordo assinado na Justiça é muito claro, de que temos de voltar com tudo limpo e arrumado. No ritmo que está, não será possível fazer tudo em três dias”, diz. “Como ficaremos sem vidros nos apartamentos e nas portarias? As pessoas não sairão dos hotéis enquanto não estiver tudo pronto.”

Vizinhos confirmam que em vários apartamentos, ao contrário do que afirma a Cowan, foi feita sequer a medição para a instalação dos vidros. Pelo condomínio, cacos de vidros ainda estão por toda parte. A autônoma Senita Meireles de Oliveira Alves, de 43, também moradora do Antares, estava revoltada ontem.

Na casa dela, só sobrou o vidro do banheiro, tendo sido estilhaçados o da cozinha, sala e quartos. “Não vejo a hora de voltar para casa, mas como?”, questiona. Na sala, onde será preciso trocar toda a esquadria de alumínio, que foi estourada com o impacto, a previsão é de o serviço ser concluído entre 30 e 45 dias. Por enquanto, um tapume de papelão pregado na parede serve de improviso.

PLANEJAMENTO Senita cobra planejamento para que ninguém fique prejudicado. “Tinham que começar num bloco e terminá-lo por completo e não ficar fazendo picado, sem qualquer critério. Tem gente perdendo dia de serviço para abrir a casa aos vidraceiros e até hoje não teve a janela nem medida”, disse. Ela conta que anteontem o marido precisou brigar para que trocassem os vidros dos quartos. “Falta organização. Em alguns apartamentos os funcionários da prefeitura estão fazendo limpeza, sendo que o combinado foi que eles fariam apenas da área externa.”


A dona de casa Fabíola Amaral da Silva, de 36, também está em hotel com os filhos de 2 e 6 anos e o marido.

Uma van leva e busca as crianças na escola. Ela diz que está tendo todo apoio na hospedagem, mas não vê a hora de retomar a rotina. “Tenho nada para reclamar daqui, mas quero minha casa de volta”, diz, sem acreditar que conseguirá voltar no domingo.
A garçonete Josiane Paulina de Paula, de 25, mora numa das casas geminadas, vizinhas ao local onde antes existia o viaduto e também foi para o hotel com filho, marido, irmã e a mãe. A maior dificuldade está sendo o transporte. Elas trabalham no Planalto, para onde iam a pé, e, agora, têm de pegar táxi para sair do Bairro Itapoã e chegar ao emprego. “Falaram que teria uma van para atender este hotel também, mas não tem. Aqui é bom, mas a gente fica muito preso, não tem a liberdade de casa.”


A Cowan também foi procurada para informar em qual etapa está o trabalho de demolição das ferragens e do concreto do viaduto e da remoção de entulhos, mas, até o fechamento desta edição, não havia respondido à solicitação.

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