Junia Oliveira
Volta para o lar só com a casa arrumada. Vizinhos do viaduto Batalha dos Guararapes, implodido no domingo na Avenida Pedro I, no Bairro Planalto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, deixaram casas e apartamentos um dia antes de o elevado vir abaixo com promessa de retorno depois de amanhã. Esse é o prazo previsto para a conclusão dos trabalhos de demolição da alça norte e limpeza da área. Moradores temem que os reparos aos danos causados pela implosão não terminem no mesmo período e avisam que não retornam enquanto tudo não estiver limpo e consertado. A Defesa Civil informou ontem que a previsão é liberar a Pedro I ao tráfego na segunda-feira. Foi oferecida hospedagem de uma semana a moradores de imóveis localizados num raio de 50 metros do extinto viaduto.
Somente dos edifícios Savana e Antares, os mais próximos, saíram 117 famílias. No domingo, dia da implosão, eles eram os mais vulneráveis a vibrações e a serem atingidos por estilhaços de concreto e aço.
Vários apartamentos, principalmente aqueles que estavam de frente para o viaduto, tiveram os vidros das janelas quebrados, avaria que já era esperada por causa do deslocamento de ar no momento da implosão. Também foram danificadas portarias dos prédios. A Construtora Cowan informou, por meio da assessoria de imprensa, que no mesmo dia da implosão os vidraceiros contratados pela empresa começaram os trabalhos de medição das janelas. E garantiu que, até domingo, tudo estará trocado.
Os moradores contestam. Síndica do bloco 3 do edifício Antares e representante dos moradores na comissão formada para discutir a situação judicialmente, Adelaide de Jesus acredita que antes de 15 dias não será possível terminar a instalação de todos os vidros. “O acordo assinado na Justiça é muito claro, de que temos de voltar com tudo limpo e arrumado. No ritmo que está, não será possível fazer tudo em três dias”, diz. “Como ficaremos sem vidros nos apartamentos e nas portarias? As pessoas não sairão dos hotéis enquanto não estiver tudo pronto.”
Vizinhos confirmam que em vários apartamentos, ao contrário do que afirma a Cowan, foi feita sequer a medição para a instalação dos vidros. Pelo condomínio, cacos de vidros ainda estão por toda parte. A autônoma Senita Meireles de Oliveira Alves, de 43, também moradora do Antares, estava revoltada ontem.
PLANEJAMENTO Senita cobra planejamento para que ninguém fique prejudicado. “Tinham que começar num bloco e terminá-lo por completo e não ficar fazendo picado, sem qualquer critério. Tem gente perdendo dia de serviço para abrir a casa aos vidraceiros e até hoje não teve a janela nem medida”, disse. Ela conta que anteontem o marido precisou brigar para que trocassem os vidros dos quartos. “Falta organização. Em alguns apartamentos os funcionários da prefeitura estão fazendo limpeza, sendo que o combinado foi que eles fariam apenas da área externa.”
A dona de casa Fabíola Amaral da Silva, de 36, também está em hotel com os filhos de 2 e 6 anos e o marido.
A garçonete Josiane Paulina de Paula, de 25, mora numa das casas geminadas, vizinhas ao local onde antes existia o viaduto e também foi para o hotel com filho, marido, irmã e a mãe. A maior dificuldade está sendo o transporte. Elas trabalham no Planalto, para onde iam a pé, e, agora, têm de pegar táxi para sair do Bairro Itapoã e chegar ao emprego. “Falaram que teria uma van para atender este hotel também, mas não tem. Aqui é bom, mas a gente fica muito preso, não tem a liberdade de casa.”
A Cowan também foi procurada para informar em qual etapa está o trabalho de demolição das ferragens e do concreto do viaduto e da remoção de entulhos, mas, até o fechamento desta edição, não havia respondido à solicitação.