Um dos pontos de lazer mais agradáveis de Belo Horizonte, frequentado diariamente por um grande número de moradores da capital e por turistas, a Praça da Liberdade vive uma realidade de contraste. Durante o dia, é um local convidativo e seguro, que encanta os visitantes. À noite, por causa da iluminação deficiente em algumas áreas e da presença de usuários de drogas, traz insegurança e medo para quem gosta de caminhar pelo local ou simplesmente quer conversar e se distrair. “Não venho sozinha aqui à noite”, conta a projetista Jéssica Thais, de 23 anos, que mora próximo e depois que chega da faculdade, por volta das 22h, costuma levar o cão Sebastian, um golden retriever, para passear. “O Sebastian, mesmo extremamente dócil, impõe um certo respeito. Ainda assim, evito os locais escuros”, completa a jovem.
Quem frequenta a Praça da Liberdade à noite afirma que é comum ver casais trocando carícias exageradas e gente consumindo drogas. O problema se concentra principalmente na alameda ao lado da fonte desativada, local preferido pelos casais e dependentes químicos. O malabarista Dennis Kemp, de 28, participa nas noites de segunda-feira do encontro do circo e diz que o problema de iluminação é sério.
Além da via interna ao lado da fonte, onde a pouca iluminação fica escondida pela vegetação, nas extremidades da pista de cooper são pelo menos quatro pontos escuros. Como a pista fica na área externa, perto das ruas, ainda se pode contar com a ajuda dos faróis dos veículos. Mesmo assim, os grupos que frequentam a praça à noite, preferem se reunir próximo do coreto, como disse Dennis, onde a iluminação é melhor. Assim, evitam surpresas desagradáveis.
ACONCHEGO E CALMA
Durante o dia e até pouco depois das 21h, a praça é uma região alegre, democrática e livre do medo. Pais e mães levam os filhos para brincar, casais conversam nos bancos e músicos se apresentam no meio das alamedas. Idosos amparados por cuidadores ou em cadeiras de rodas, apoiados por parentes, aproveitam o sol do começo da manhã ou do fim da tarde. Nestes horários, o maior movimento é de quem procura se exercitar e usa a pista de caminhada da praça para caminhar ou andar de bicicleta.
“A Praça da Liberdade é a única da cidade que o Chico consegue falar o nome, do jeito dele”, orgulha-se o arquiteto e urbanista Bruno Lage da Silveira, de 38, que acabara de buscar o filho Francisco, de 2 anos, na escola.
Assentados no meio-fio, estudantes da Escola Guignard eram desafiados a traçar no papel o alinhamento das palmeiras imperiais, os desenhos dos canteiros, a configuração dos prédios antigos. “Há 23 anos trago as turmas para cá, por se tratar de uma paisagem urbana aprazível e rica em elementos arquitetônicos”, afirma o professor de desenho da paisagem Abílio Abdo. “Era para fazer um exercício determinado, mas acabei me soltando”, contou a aluna Jade Inácia Rodrigues Martins, inspirada.
Perto dos alunos da Guignard, mãe e filha observavam outros detalhes da praça. Hercília Machado, de 90 anos, na cadeira de rodas, recebia o carinho da filha, a funcionária pública Martha Machado. “Antes, a praça era mais florida.
RESPONSABILIDADE
Segundo a Vale, que adotou a praça em 1991, a iluminação no entorno não é de sua responsabilidade. Neste caso, os cuidados com a manutenção das luminárias caberiam à Cemig. A concessionária de energia, ao ser informada do problema, comunicou que irá fazer uma fiscalização noturna para identificar os pontos mais escuros nos arredores da praça.
Para o tenente-coronel Helbert Figueiró, comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, embora não tenha havido aumento no número de ocorrências de crimes na área, o clima de insegurança pode ser explicado pelo número de dependentes químicos que acampam na Praça da Liberdade e nas imediações da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. “A simples presença deles gera apreensão nas pessoas, que se sentem inseguras de frequentar a praça. Muitos constrangem os visitantes ao pedir dinheiro”, afirma o militar, lembrando que a polícia tem pouco a fazer em relação a este problema social.