“Me interesso por computadores, sistemas binários, hexadecimais e acredito que tenha criatividade para propor novas possibilidades tecnológicas.” Com a frase, a aluna Larissa Dolabella Gomide, do 1º ano do ensino médio, candidatou-se a participar do Comitê Gestor Discente de Tecnologia do Colégio Loyola. A abertura da direção do Loyola à participação direta dos alunos é tida como revolucionária. A primeira reunião do comitê ocorreu na segunda-feira.
A ideia, que já é aplicada há três anos no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, foi trazida para Minas como uma maneira de auxiliar a diretoria em relação às decisões relativas ao uso da tecnologia na escola. Trata-se de instância consultiva e cada um dos membros do comitê terá acesso a um tablet. “Tudo o que for passível de uma mudança rápida nos processos será implantado no colégio”, garante o diretor-geral da instituição, padre Germano Cord Neto, que pretende criar também um comitê de professores e outro de pais.
Larissa foi aprovada no comitê. Tímida a princípio, a adolescente falou pouco durante a reunião. Quando decidiu participar, resumiu o propósito do comitê de levar os alunos a dar palpites sobre a importância de usar as ferramentas tecnológicas para estudar. “É preciso usar a tecnologia a nosso favor”, ensinou.
Mais falante, Bárbara Figueiró conta ter descoberto não mais precisar de lápis e papel para estudar. “Estava na Escola da ONU, quando morei em Nova York. Fui responder a um teste. Uma coisa parecendo disco voador exibiu na parede as perguntas e me deram uma espécie de controle onde eu deveria marcar as respostas”, explicou a aluna, filha de embaixador. Ela explica que, como método de estudo, prefere ouvir do que ler explicações de matérias. Outro método usado por ela é pesquisar diversas fontes de conhecimento na internet conteúdo para estudar as matérias.
Estímulos
“A gente é mais visual. A ‘coisa’ parada é cansativa”, define o adolescente Giovanni César Wall Paschoalini, de 15 anos. Ele conta que, toda semana, é obrigado pelo pai a ler uma pilha de jornais para se informar melhor. “Prefiro entender as coisas do que decorar”, completa o estudante, que já participou de três intercâmbios no exterior.
“O mais incrível é a heterogeneidade percebida no grupo de estudantes que compõem o comitê. Temos aqueles que assistem a videoaulas e outros que estudam nos livros e fazem questão de usar a caneta marca-texto para grifar trechos mais importantes”, comprara Bruno Paim, coordenador de tecnologia educacional do Loyola. Ele alerta que o uso do celular em sala de aula é proibido por lei estadual em Minas, mas que outras ferramentas, como o Moodle, já são amplamente empregadas nos colégios particulares. “É uma plataforma educacional que permite a interação entre professores e alunos para passar exercícios e notas e tirar dúvidas”, conta.
Professor busca motivar adolescentes
“Educar não é transmitir conteúdo, mas despertar consciências.” Esse foi um dos ensinamentos exibidos no telão gigante do Minascentro, durante Congresso Internacional da Rede Pitágoras, na semana passada, que discutiu os rumos do cenário educacional brasileiro. Entre os convidados, estava o diretor de Planejamento e Fidelização da Kroton, um dos maiores e mais antigos grupos educacionais do país, o professor Bruno Ramos. Ele atua também é responsável por uma das aulas mais disputadas do ensino médio do Pitágoras do Bairro Cidade Jardim. O encontro, opcional, ocorre nas tardes de sexta-feira.
Em uma das aulas, o professor reuniu mais de 50 adolescentes e jovens em plena época de preparação para o Enem e vestibulares. O grupo se inscreveu para participar da disciplina de motivação emocional. Tensos com a proximidade dos exames, os estudantes foram convidados a andar com os olhos vendados, pisar sobre areia, relaxar e, por fim, desafiados a quebrar tábuas de madeira com golpes inspirados na arte marcial. “Mais do que saber o conteúdo, eles precisam acreditar que são capazes de competir no concurso para que o medo não paralise”, explica o professor.
Segundo Bruno Ramos, apenas duas alunas não conseguiram quebrar a tábua ao meio e serão encaminhadas ao setor pedagógico da escola para acompanhamento. Não se trata de exercício de força, mas sim de confiança. “Eles foram estimulados a escrever em madeira os sentimentos que precisavam destruir, como insegurança, preguiça, desânimo. Quando não conseguiam da primeira vez, eram estimulados a tentar da segunda e da terceira vez. Choravam quando davam conta”, explica o professor, que, na época de estudante, não era considerado bom aluno e na terceira tentativa passou no concurso do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), dos mais concorridos do país. Depois de se formar como oficial, largou a carreira para fazer o que gosta: dar aulas. “A solução para a educação não é o tablet, é o bom professor”, defende.
Uma das alunas, que prefere não se identificar, escreveu na madeira insegurança, indisciplina e ansiedade como sentimentos a ser “quebrados”. Conseguiu derrotar os três de uma tacada só, na primeira vez. “Minhas amigas demoraram mais. Muitas vezes, a gente não percebe o quanto está pressionada a vencer e o quanto tudo isso incomoda. A vontade de agradar a família e passar no teste pode levar muitos estudantes a abandonar os estudos por medo de falhar”, acrescenta. (SK)