Depois dos casos de violência dentro e fora do Mineirão durante o jogo entre Cruzeiro e Atlético, a Polícia Militar vai discutir a estratégia da corporação em dias de clássico. Embora tenha defendido o planejamento e a atuação de policiais, a coronel Cláudia Romualdo, chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC), disse ontem que analisará os procedimentos adotados antes, durante e depois da partida e encaminhar um balanço de todas as ocorrências ao Ministério Público. No domingo, quatro atleticanos foram baleados enquanto esperavam ônibus no Centro e torcedores dos dois times – segundo a PM – usaram bombas nas arquibancadas, entre outros casos graves.
“Não dá para dizer agora o que pode mudar em relação à atuação do policiamento preventivo, mas nos preparamos para cada evento visando atender suas características”, afirmou a comandante. Ela reconheceu que os tiros contra atleticanos em frente ao Batalhão da Rotam, na Avenida do Contorno, “extrapolaram” as medidas preventivas preparadas pela PM, mas criticou integrantes de torcidas organizadas que saem de casa com o objetivo de entrar em confronto e ressaltou que a segurança em eventos desse porte são responsabilidade de vários órgãos.
“Fizemos nossa parte. Houve planejamento preventivo, com medidas de segurança, como a escolta de integrantes de torcida organizada, mas uma ação isolada resultou em quatro pessoas baleadas”, disse. “Se integrantes de torcidas organizadas saem de casa com o propósito de brigar, até marcando confrontos pela internet, não há como cercar tudo, nem triplicando o efetivo (policial). Isso, evidentemente, é um problema que envolve vários órgãos e a PM é só um deles”, completou. O Ministério Público informou que o promotor Fernando Abreu, que vai acompanhar o caso, só vai se manifestar depois que receber os boletins de ocorrências da PM.
Ontem, o delegado Marcelo Paladino, da Delegacia Regional Centro, que investiga a tentativa de homicídio contra os quatro atleticanos, identificou o dono de um veículo Gol, de cor vermelha, de onde teriam partido os tiros. Depois que a PM descobriu o endereço do suspeito, agentes da Polícia Civil foram ao local e prenderam a irmã do homem, que tinha mandado de prisão contra ela. Policiais esperam que o suspeito se apresente nos próximos dias. Eles analisam ainda as imagens das câmeras de segurança próximas ao lugar do crime em busca de novas pistas.
No estádio Além dos tiros disparados contra atleticanos e brigas ocorridas no Centro da cidade antes do jogo, o lançamento de bombas por parte de torcedores nas arquibancadas expôs também dificuldades da PM e da Minas Arena, consórcio que administra o Mineirão, de evitar confrontos dentro do estádio. Para o professor e coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Luís Flávio Sapori, a entrada de torcedores organizados com bombas de fabricação caseira, fogos de artifício e até um soco inglês indica que houve falha na segurança, incluindo o trabalho de revista, sob responsabilidade do administrador do estádio.
Torcedores que foram ao jogo também cobram ações de segurança mais efetivas durante a partida. “No primeiro tempo, já víamos as bombas e sinalizadores serem lançados. Como podemos ir à próxima partida sem sentir medo?”, reclama o estudante Fernando Lamounier Ferreira, de 22 anos. Segundo ele, a revista feita na entrada do Mineirão foi “normal” e, como tal, não poderia ter permitido a entrada de alguns torcedores com objetos proibidos. Por meio de nota, a Minas Arena não explicou problemas na revista e limitou-se a informar que “a segurança compartilhada do Mineirão, feita pela Polícia Militar e empresa de segurança privada do estádio, permitiu que os torcedores responsáveis por praticar atos de violência fossem rapidamente identificados e os infratores detidos”, diz o texto.
Especialista vê reflexo da violência urbana
Para especialistas, os casos de violência como os ocorridos domingo são reflexo da violência urbana. O professor e coordenador do Grupo de Estudos Sobre Futebol e Torcida da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Silvio Ricardo da Silva, considera que a situação só melhorará com punição aos torcedores que se envolverem em conflitos e com projetos educacionais. “A rivalidade pode existir, mas não pode haver violência. Ir até às salas de aula é uma forma das novas gerações não se acostumarem com esse tipo de coisa. O futebol mineiro está em uma boa situação nos últimos tempos e não pode haver esse tipo de postura.” Para o professor e coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Luís Flávio Sapori, a violência revela um fenômeno de insegurança. “Mesmo com todos os esforços de conter esse tipo de atitude, essa violência persiste. Principalmente, em função do aumento no tráfico de drogas e proliferação indiscriminada do uso de armas”, comentou.