Enviado especial
São Roque de Minas – O último fim de semana das férias do casal Luís Fernando Lopes, de 47 anos, e Luciene Oseti, de 42, foi reservado para visitar o Parque Nacional Serra da Canastra, onde nasce o Rio São Francisco, no município de São Roque de Minas, na Região Centro-Oeste. Ontem, eles pegaram a estrada em Vargem Grande do Sul, interior paulista, e, depois de 300 quilômetros, a decepção. A nascente principal do Velho Chico secou, mais da metade do parque virou cinzas por causa dos incêndios florestais e a área estará fechada à visitação até 6 de outubro. “Muito triste”, lamentou Luciene.
O casal conheceu a nascente do Velho Chico há seis anos e durante todo esse tempo Luciene sonhou em voltar para rever os campos de sempre-vivas, pelos quais corriam veados-campeiros e os carcarás davam voos rasantes. “Voltamos porque ficamos encantados com a beleza do lugar. Vimos tamanduás e, na nascente, corria água cristalina”, comentou Luís, que é marceneiro. “Não faço mais questão de ir lá em cima agora e encontrar tudo destruído.”
Segundo o cabo Luiz Carlos de Lima, da Polícia Militar Ambiental de São Roque de Minas, é muito difícil saber a origem do fogo. Ele disse que 80% da vegetação no entorno do parque são de campo nativo e os fazendeiros fazem uso de queimadas para renovar as pastagens. Mesmo asssim não há como descobrir se o incêndio é criminoso. “Queimam três, quatro, cinco propriedades de uma vez. Os próprios fazendeiros registram boletim de ocorrência, porque têm prejuízo.”
Sem pássaros
Prejuízo também para pousadas, hotéis, supermercados, postos de combustíveis e outros estabelecimentos que dependem do turismo. Bruno Barcelos, de 44, dono de pousada está inconsolável. “Fecharam o parque e os visitantes desapareceram.” Segundo ele, há turistas que já conhecem a região e procuram as mais de 40 cachoeiras do entorno do parque, mas muitas dessas áreas também foram afetadas pelos incêndios e o volume de água está muito abaixo do normal. “Pessoas de outros estados ficaram sabendo da situação e mudaram o destino da viagem.”
O Parque Nacional Serra da Canastra é atração também para estrangeiros observadores de aves, mas muitos já cancelaram a viagem. “Há duas semanas, um mexicano vem mandando e-mails para minha pousada querendo saber como está o parque. Observador de aves, que há mais de um ano vinha fazendo planos, não se interessa mais em viajar. Muitas aves morreram queimadas ou se afastaram”, disse Breno.
“Grupos formados por agências internacionais estão deixando a Serra da Canastra de fora dos roteiros”, lamenta. A principal atração dos observadores de aves no parque, segundo ele, é o pato mergulhão, que, além da Serra da Canastra, é avistado na área do Jalapão, em Tocantins.
Grupos de estudos de escolas e faculdades, que fazem trabalhos de campo, também estão cancelando reservas. “Isso gera um impacto muito grande”, lamentou o secretário. Há pousadas dispensando funcionários que trabalham informalmente. Os comerciantes lembram de uma situação semelhante ocorrida há cerca de quatro anos, quando houve greve de funcionários do Ibama e do Instituto Chico Mendes, que administra o parque. “Na época, o parque ficou 30 dias fechado e o impacto na economia foi enorme”, diz André
Preservação
Marcello do Valle, de 45, é guia turístico e está preocupado. “Essa situação prejudica toda uma cadeia econômica, que vai do posto de combustível aos supermercados e às pousadas.” Para ele, a preservação da área deveria estar acima dos interesses individuais. “Acredito que a direção do parque tem um embasamento técnico para determinar o fechamento.” Marcello trabalha com grupos de observadores de aves e de mamíferos, além do turismo convencional. “Eu tinha grupos marcados para a próxima semana com o único objetivo de ver o lobo-guará.”
A presidente da Associação do Turismo da Serra da Canastra (Atusca), Daniela Labonia, dona de agência de viagens, disse que o turista não vai gostar de ver o parque como está, mas acha precipitado o fechamento. A área foi interditada à visitação para a segurança dos animais, que estão concentrados no entorno da estrada, onde se sentem mais seguros durante os incêndios. “Há queimadas todos os anos, mas não tenho conhecimento de atropelamentos de animais dentro do parque”, disse Daniela.
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