Mateus Parreiras
O corredor formado por cones e barris laranjas é tão estreito que mal sobra espaço para uma carreta trafegar. Do outro lado dessas barreiras, na lateral da rodovia, caminhões e máquinas pesadas, como rolos compressores, fresadoras e acabadoras, trabalham na pavimentação. Mesmo com dificuldades para circular neste espaço restrito, motoristas imprudentes não se intimidam: deixam de reduzir a velocidade de seus veículos e até trafegam pelo acostamento para tentar escapar das filas. Esse comportamento tem contribuído para aumentar a insegurança nas principais rodovias que passam por Belo Horizonte, as BRs 040 e 381, no momento em que ambas passam por obras de ampliação. Na BR-040, sentido Rio de Janeiro, por exemplo, a velocidade máxima nos trechos em obras é de 40km/h, mas o Estado de Minas registrou em uma manhã que a média de velocidade chegou a 65km/h. Ou seja, a maioria dos condutores trafegava com velocidade 62,5% acima da permitida.
Os abusos dos motoristas que passam por lá aumentam o perigo nas duas áreas que recebem intervenções de recapeamento, em Congonhas e em Conselheiro Lafaiete. As placas que antecedem o corredor de cones dos canteiros de obras limitam a velocidade a 40km/h, que, para efeitos de comparação, é o máximo recomendado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para vias de trânsito local, aquelas caracterizadas por “garantir acesso local ou a áreas restritas, usadas apenas por veículos restritos ou com algum interesse, como as ruas de um condomínio fechado, por exemplo”, informa o Contran.
“Ninguém respeita os limites que são para nossa própria segurança. Já vi carretas passando por aqui a 100km/h, por cima dos cones mesmo”, conta o encarregado de pavimentação do trecho de Conselheiro Lafaiete Liomar Silva Pereira, de 37 anos. “A gente não escuta direito quando está na obra, por causa do barulho, e acaba se assustando quando vê um caminhão de 20 toneladas passar raspando”, acrescenta. Carlos Augusto Andrade, de 35, técnico em segurança do trabalho no canteiro de obras, afirma que a sinalização tem pouco efeito sobre os motoristas imprudentes. “Nossa sinalização alertando para a obra, para homens trabalhando e restrição de velocidade, começa 1.500 metros antes da intervenção na pista. A 1.000 metros as reduções de velocidade são para 40km/h, mas nada disso consegue fazer os motoristas reduzirem. E o pior são os maiores, os carreteiros”, disse.
Culpa da imprudência
Coube à BR-381, a Rodovia da Morte, fazer a diferença estatística no período das obras, entre maio a julho, comparado ao mesmo intervalo de 2013. Os óbitos em acidentes subiram de 31 para 36 (16%), os feridos de 366 para 488 (33%) e os acidentes de 543 para 561 (3%). De acordo com o doutor em engenharia de transportes e consultor da área Frederico Rodrigues, a realização de obras torna os trechos muito mais perigosos. “Sem dúvida, locais com intervenções aumentam o índice de acidentes, principalmente por causa da imprudência”, afirma. E essa constatação, segundo o especialista, não é apenas uma impressão. “Fiz muitos planos de segurança rodoviária onde tem obras. Mesmo com sinalização e tudo de acordo com os manuais, as pessoas dirigem acima da velocidade segura. Em vez de reduzir, (o condutor) fica irritado por causa da fila ou do fim de uma faixa e age de forma imprudente”, disse.
De acordo com o chefe do Núcleo de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais, inspetor Aristides Amaral Júnior, os agentes que cobrem os trechos de rodovias em obras orientam os operários e responsáveis a posicionar placas de velocidade e alertas em locais adequados. “São pontos onde o motorista deve obedecer à orientação da sinalização, que tem sido muito bem feita. Se fizer isso, pode trafegar com segurança, principalmente porque não estão ocorrendo intervenções à noite, o que é mais perigoso”, disse o policial.