A novela das capivaras da Lagoa da Pampulha, que já dura 10 meses, ainda não tem prazo para ter final feliz. Nessa segunda-feira, no primeiro dia do trabalho de captura dos cerca de 90 animais que vivem na represa, nem um único animal se apresentou para entrar na armadilha, depois de quatro horas de espera da equipe formada por três biólogos, um veterinário e um ecólogo especializado em manejo. Dois ou três roedores chegaram a ficar pastando tranquilamente nos jardins de Burle Marx, em torno da gaiola, armada nas proximidades do Museu de Arte da Pampulha. Outros grupos eram observados em locais diferentes da orla. “Juro que eu vi essa armadilha lotada de capivaras outro dia mesmo, durante o lançamento de um livro aqui no museu. Agora nenhuma quis entrar. Parece até que alguém avisou para elas”, disse, em tom de brincadeira, a funcionária do MAP Ruthe Lea Amaral, de 51 anos.
Ao longo da semana, a empresa contratada teve o cuidado de montar a armadilha de telas para as capivaras, aos poucos, cheia de cana-de-açúcar, um dos alimentos preferidos da espécie. Em todos os dias, diversos roedores se aproximaram das gaiolas para se alimentar. Ontem deveria ser a última etapa do processo, com a instalação da porta, que iria impedir a saída dos animais, que driblaram os planos da Prefeitura de Belo Horizonte. A equipe da Equalis Ambiental, contratada por licitação a R$ 180 mil, o equivalente a R$ 2 mil por “presa”, terá de se esforçar um pouco mais para a captura dos bichos.
De acordo com o vice-prefeito de Belo Horizonte e secretário municipal do Meio Ambiente, Délio Malheiros (PV) – que aguardou por um bom tempo o surgimento das capivaras, acompanhado por um batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas –, o projeto de remoção das capivaras da Pampulha, iniciado em dezembro do ano passado, terá de passar por ajustes. O término dos trabalhos estava previsto para este mês de outubro.
Délio Malheiros informou os roedores causam prejuízo de R$ 4 milhões ao município, porque destroem os jardins de Burle Marx no complexo. O vice-prefeito também afirmou que será feita a contagem de machos e fêmeas e, se for preciso, alguns serão castrados. Outra possibilidade é que alguns roedores sejam sacrificados, se for diagnosticada doença que comprometa a saúde pública.
Caso as capivaras não sejam capturadas pelo processo passivo, onde são atraídas para as gaiolas, os veterinários não descartam o emprego do processo ativo, quando os animais são atingidos por dardos com tranquilizantes. Porém, em ambas as situações, elas serão sedadas para transporte.
Os animais capturados serão encaminhados na fase inicial para áreas dentro do Parque Ecológico Promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, em áreas afastadas da população. De acordo com os veterinários, os animais serão mantidos com as próprias famílias, pois têm o instinto de viver separados territorialmente e podem ser agressivos uns com os outros.
JACARÉS A empresa que faz o trabalho de desassoreamento da Lagoa da Pampulha informou à prefeitura que 21 jacarés também vivem no local, mas que essa população já pode ter aumentado. No ano que vem, quando a limpeza da lagoa atingirá uma nova etapa, serão feitas análises para saber se eles serão também manejados, já que a Pampulha poderá ser liberada para a prática de esportes náuticos. Segundo Délio Malheiros, será mais fácil encontrar locais apropriados para receber os jacarés do que candidatos a receber capivaras. Essas, por sua vez, depois dos cuidados veterinários, serão levadas para fazendas de experimento médico, parques estaduais e nacionais e em áreas de preservação ambiental.