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Estado de Minas

Destruição da Serra do Curral pelo fogo evidencia falta de um plano emergencial

Incêndio, um dos piores incêndios dos últimos anos, durou quatro dias. Especialistas dizem que BH ainda não encontrou fórmula para proteger o símbolo da capital


postado em 02/10/2014 06:00 / atualizado em 02/10/2014 07:40

Terra calcinada e colunas de fumaça em vários pontos do terreno montanhoso mostram dimensão do estrago(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Terra calcinada e colunas de fumaça em vários pontos do terreno montanhoso mostram dimensão do estrago (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Quatro dias de fogo, muita devastação e apreensão deixam evidente uma realidade com que os vizinhos da Serra do Curral se deparam ano após ano: Belo Horizonte ainda não encontrou a fórmula para proteger seu símbolo natural, nem os cidadãos que vivem nas proximidades. As chamas que desde domingo se alastravam pelo maciço, na altura da Região Centro-Sul da capital, não só destruíram fauna e flora. O incêndio, que teve seu pior momento na terça-feira, expôs a vulnerabilidade recorrente do principal cartão-postal da cidade em períodos de seca prolongada. Depois do momento mais crítico, as labaredas foram controladas, mas ontem voltaram a desafiar bombeiros e brigadistas durante toda a tarde, quando novos focos foram combatidos próximo à Mineradora Magnesita – onde o fogo teria começado.

Parte da área do maciço foi transformada no Parque Serra do Curral, com plano específico de manejo e equipamentos de prevenção e detecção de incêndio, mas o restante do complexo montanhoso não tem infraestrutura que o proteja. Com isso, a cada ano o fogo ameaça também a unidade de conservação nas montanhas que emolduram as porções Sul e Leste BH, detentoras dos títulos de símbolo da cidade e de patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O último incêndio é um dos maiores que atingiram a serra desde 2011, quando as labaredas duraram três dias.

Na avaliação de especialistas, faltam investimentos para instalação de equipamentos, além de brigadas públicas específicas para controlar focos nas áreas limítrofes à unidade de preservação. De acordo com o chefe do Departamento de Parques da Área Sul de Belo Horizonte, André Funghi, são necessários hidrantes em pontos espalhados da serra, além de outros equipamentos, como caminhões-pipa e canhões d’água, e mais funcionários preparados para atuar especificamente no combate. “Com os hidrantes em pontos estratégicos, os bombeiros poderiam engatar mangueiras e abastecer os caminhões-pipa mais perto dos focos”, afirma.

Como a estrutura não existe, equipes que enfrentavam as chamas ontem se viram às voltas com a necessidade de o caminhão-pipa deixar a área de combate para reabastecer. “Na noite de terça-feira, a água de um caminhão acabou e ele teve que ir até a portaria do Parque das Mangabeiras, na Rua Caraça, onde havia um hidrante”, disse a tenente Andréa Coutinho Martins, do 1º Batalhão de Bombeiros, responsável pelas equipes empenhadas no trabalho de ontem.

Segundo ela, o relevo acidentado e montanhoso, as altas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar foram as causas da propagação rápida do fogo. “Há incêndios por todos os lados nesta época e o efetivo tem que estar em outros lugares. Não podemos deslocar todos os militares para cá”, disse. A presença de canhões pulverizadores em parte da serra impediu que o fogo atingisse a vegetação no topo do maciço. Há estudos para aumentar a área abrangida pelos equipamentos, mas nenhuma providência definida.

O chefe dos Parques da Área Sul de BH, André Funghi, reconhece que a instalação dos canhões d’água é complexa, porque a área que pegou fogo é acidentada, mas ressalta a importância do equipamento. Segundo ele, os mecanismos que funcionam no topo da Serra do Curral, dentro da área do parque, jogam água no lado que cerca o Bairro Mangabeiras, mas só atingem um terço do paredão. De acordo com a assessoria da mineradora Vale, que instalou os aparelhos em 2002, há 16 canhões no topo do maciço.

Combate

Na tarde de ontem, 12 brigadistas do Instituto Terra Brasilis, juntamente com 18 bombeiros, ainda trabalhavam no rescaldo e no controle dos focos reacesos na área da Magnesita. Em solo, o combate foi feito com bombas costais, com cerca de 25 litros, e abafadores. “É um serviço desgastante, que envolve um esforço físico grande”, afirmou a tenente Andréa Martins. Apesar da mobilização, que também contou com dois aviões e dois helicópteros, as chamas novamente chegaram próximo a moradias dos bairros Belvedere e Sion, na Região Centro-Sul, obrigando novamente a desocupação da escola da Fundação Torino.

Durante todo o dia de ontem, moradores e pessoas que trabalham perto dos focos fizeram faxina para retirar a fuligem espalhada pelas chamas. As labaredas chegaram até o muro da casa do produtor audiovisual Guilherme Freitas Jaber, de 35 anos. A família passou à noite em claro e chegou a pensar em fugir. “Era muita fuligem e fumaça entrando por todos os lados”, disse. A preocupação era maior porque ele tem uma criança de 3 meses. “O problema é esse tempo seco. Mas, se instalassem canhões de água ao longo de toda a serra, poderia melhorar.”

Sinal de alerta
O que falta para ajudar a prevenir queimadas na Serra do Curral

Criação de um plano especial de combate

Instalação de hidrantes

Mobilização de caminhões-pipa preparados para atuar no combate dentro e no entorno dos parques (em BH são apenas dois veículos para 72 unidades de conservação)

Compra de outros equipamentos específicos de prevenção e combate

Estudos para definir outras alternativas, como criação de reservatórios de água da chuva que possam ser usados em casos de emergência

Formação de uma brigada pública específica para atender aos chamados de incêndios nos parques e nas áreas do entorno
Educação ambiental da população

 

 


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