(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas DA RUA PARA A URNA

Participantes das manifestações de 2013 esperam fazer diferença na eleição de hoje

Mineiros que integraram os protestos reclamam das demandas ainda não atendidas


postado em 05/10/2014 06:00 / atualizado em 05/10/2014 07:11

Manifestação perto da UFMG, em 2013: para cientista político, partidos não acolheram, de maneira geral, demandas de junho(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
Manifestação perto da UFMG, em 2013: para cientista político, partidos não acolheram, de maneira geral, demandas de junho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)

Amigos e sócios, os empresários Pedro Longo Braga e Bruno Frota de Abreu, ambos de 28 anos e moradores de Belo Horizonte, foram às ruas em junho do ano passado. Unidos a milhares de mineiros, os dois gritaram palavras de ordem, seguraram cartazes e sentiram o vento de esperança que varria o Brasil de Norte a Sul. “Mas logo depois veio a certeza de que nada mudaria, como não mudou”, lamenta Pedro, morador do Bairro Sion, na Região Centro-Sul. Mesmo com esse sentimento, o jovem não desanima e ainda clama por transformações que, se não vieram das ruas, podem sair das urnas. “Hoje é o dia, vou estar cedinho, às 8h, na minha seção eleitoral para votar. Quero um país melhor e a chance está aí”, afirma Pedro. Ele e outros mineiros recordam sua participação na mobilização popular e falam das suas expectativas para a eleição.

Também formado em administração, Douglas Monroe Rezende, de 24, residente na Pampulha, conta que sempre leu com interesse sobre grandes manifestações, desde as mais antigas, como a Passeata dos 100 mil, em 1968, no Rio de Janeiro (RJ), durante a ditadura militar, às contemporâneas, entre elas a Primavera Árabe, mobilização na Ucrânia e outras na Europa. Dessa forma, e igualmente confiando em “mudanças”, Douglas engrossou a corrente nas ruas de BH em junho de 2013 e viu que não se tratava “de uma histeria coletiva, mas de histeria positiva”. Passados 16 meses, o administrador acredita que os protestos aumentaram a consciência política e serviram para mostrar, especialmente para ele, que as pessoas têm poder nas mãos.

Levantamentos indicaram que a maior parte dos manifestantes presentes nas ruas em junho tinham menos de 30 anos. A estudante Letícia Soares, moradora do Bairro São Bernardo, na Região Norte da capital, acaba de completar 18 e, ainda adolescente, bradou de peito aberto. Na sua avaliação, os protestos serviram para abrir “os olhos da juventude”, contribuindo para esse despertar a velocidade das redes sociais. “O movimento começou para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público e aí vários setores foram chegando. Com o passar dos dias, todos sentiram que teriam voz se ficassem unidos”, diz a jovem.

Discussão Para a universitária Gabriela Santos, a onda de protestos teve o efeito positivo de pôr a política em discussão. “Não se discutia o tema, que significa a própria vida. Política é economia, saúde, educação, o preço do pãozinho que se compra todo dia. É diálogo”, avaliou a estudante de educação do campo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Militante social e não filiada a partidos, a jovem de 28 anos foi às ruas de olho em transformação social e política, bem como melhoria da qualidade de vida da população.

Os efeitos de junho foram sentidos nos debates, afirma Gabriela, já que muitas das reivindicações dos manifestantes entraram na pauta dos candidatos. O mais importante, acrescenta, foi ampliar o horizonte de discussões e trazer para o centro da cena a experiência das ruas. Assistente social e mestranda em ciências sociais, Roberta Fernandes Santos, moradora de BH, vai para Curvelo, sua terra, especialmente para votar. “Fui para a rua em junho e acho que o movimento criou uma consciência coletiva. Os estudantes pedindo o passe livre, os médicos, a valorização da categoria profissional, e por aí vai. Houve a pressão e o governo respondeu com algumas ações, que não são o ideal”, diz a mestranda.

Nova atitude Com os protestos, observa Roberta, os brasileiros se mostraram “mais fiscais, curiosos e leitores”, e as redes sociais “inflamaram” esse novo perfil. “Espero que a resposta das urnas seja por políticas públicas na área de segurança e que o governo lance um projeto, nas escolas, a ser implementado nas áreas de maior vulnerabilidade social, juntando educação, saúde e segurança”, sugere. Atenta à efervescência da cidade, a arquiteta Cláudia Ramos Claro, de 57, moradora da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, também está certa de que, com o voto, o povo tem poder. “Fui às ruas contra a corrupção. E agora o meio que temos de mostrar o descontentamento é a urna”, ressalta.

Cético quanto à continuidade das manifestações, Henrique Borges Lagares, profissional da área de marketing, conta que não participaria novamente dos protestos nas ruas. “Acho que cada um deve fazer a sua parte. A mobilização começou como forma de chamar a atenção para os problemas sociais, mas tomaram outra direção. Muita gente nem sabia o estava fazendo”, acredita Henrique, morador de Contagem, na Grande BH. Para o profissional de marketing, a essência dos protestos das ruas não vai se repetir nas urnas. “Muita gente fala contra a corrupção, mas faz ‘gato’ na luz e comete outras irregularidades no cotidiano”, critica.

Autor do livro 'Nas ruas', o sociólogo e cientista político Rudá Ricci avalia que os partidos políticos não acolheram, de maneira geral, as demandas de junho, vindo daí sentimentos de desconfiança, frustração e desencanto que dominam muitos brasileiros. Para ele, no entanto, as manifestações já influenciaram – e muito – a política nacional. Neste pleito, opina, haverá três tipos de eleitores. “O muito pragmático; o que rompeu com os formadores de opinião da classe média; e outro que oscila entre cinismo (em ciências sociais, aquele que vota sem entusiasmo, embora podendo ter alguma vantagem) e desconfiança”, diz.

O povo fala

Douglas Monroe Rezende, de 24 anos, administrador

“Os protestos aumentaram a consciência política e serviram para mostrar que as pessoas têm poder nas mãos, que é votar”

Letícia Soares, de 18, estudante
“O que queremos é mais transparência política. Os protestos serviram para abrir os olhos da juventude”

Pedro Longo Braga, de 28, empresário

“Hoje é o dia, vou estar cedinho, às 8h, na minha seção eleitoral para votar. Quero um país melhor e a chance está aí”

Memória

Atos na Praça Sete e na Antônio Carlos


As manifestações de junho de 2013 tiveram o objetivo de contestar os aumentos nas tarifas de transporte público e levaram, de início, milhares de pessoas às ruas de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Recife (PE). A partir da repressão policial, os protestos ganharam forte apoio popular, principalmente de estudantes. Em BH, o ponto nevrálgico foi a Praça Sete, no Centro, com a multidão seguindo pela Avenida Antônio Carlos em direção ao estádio do Mineirão, na Pampulha, onde estavam sendo realizados os jogos da Copa das Confederações. Por causa dos protestos, não houve aumento das tarifas de ônibus, mas a mobilização deixou um saldo trágico: sete pessoas caíram do Viaduto José Alencar e duas delas morreram. Houve atos de vandalismo que provocaram destruição, sobretudo na Avenida Antônio Carlos.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)