No último domingo antes da entrada em vigor da portaria da Prefeitura de Belo Horizonte que restringe a área de atuação de artesãos e hippies na capital mineira, eles ocuparam normalmente as calçadas da Avenida Afonso Pena durante a Feira de Arte, Artesanato e Produtores de Variedades de BHA nova regra imposta pela administração municipal começa a valer hojeO objetivo é coibir o comércio irregular, praticado por camelôs infiltrados, além de organizar a atividade cultural dos artesãos, prevista por liminar judicialDe acordo com a mudança, eles poderão expor seus objetos apenas na Praça Rio Branco (Praça da Rodoviária) e no quarteirão fechado da Rua Carijós, entre a Praça Sete e a Rua Espírito Santo
Ontem, eles garantiram que vão continuar exercendo a atividade normalmente pelas ruas da cidadeO principal local de concentração durante a semana é o quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, entre a Praça Sete e a Rua dos TamoiosHá também uma promessa de manifestação contra a mudança, ainda sem data e formato definidosJá os feirantes, que passaram por licitação e podem vender normalmente seus produtos nas barracas da Afonso Pena, consideram que a situação dos artesãos de rua necessita de uma organizaçãoA maioria aprova a medida, sob o principal argumento de que aquele espaço é pago, enquanto os artesãos atuam sem arcar com nenhuma taxa
As artesãs Luciana Yvy Rocha, de 37 anos, e Yuki Sakai, de 43, usam a calçada da Avenida Afonso Pena aos domingos para mostrar seus produtos e ambas acreditam que a população vai perder muito com a nova regra. “Podemos contar no dedo quem é artesão dentro da feiraMuitos clientes dizem que demoram para encontrar um objeto que seja de fato artesanato”, diz Yuki
“O lugar é impróprio, isolado e inseguroVai diminuir o trabalho de quem tem talento e é um verdadeiro artesão”, reclama Maria Cecília Louzada Santos, de 39, também afetada pela nova medidaO artesão Ricardo Fernandez, de 55, expõe nas ruas de BH há 23 anos e considera muito estranha a decisão da prefeitura“A nova regra veio por meio de uma portariaAcredito que isso não se sobrepõe a uma liminar da JustiçaVamos continuar trabalhando normalmente e ver o que vai acontecer”, diz ele.
Há 20 anos na feira da Afonso Pena, Alice Maria Rocha, de 60, tem uma barraca e considera justa a decisão da PBH“Se isso não ocorrer, a feira acaba crescendo de uma forma extremamente desorganizadaAlém disso, pagamos por esse espaço, enquanto eles não”, diz elaEli Vasconcelos, de 51, também é antigo na feira e acredita que é injusto duas pessoas usarem o espaço e apenas uma pagar para estar ali“Acaba ficando desproporcional”, afirma ele
Vânia Teixeira, de 53, também passou por licitação e tem uma barraca regularizadaEla reconhece que a questão necessita de uma solução, mas não a da PBH“Eles deveriam fazer a inscrição e ocupar um espaço aquiPara onde forem, o problema se repetirá”, diz elaJá Silvana Moreira Veiga, de 52, é feirante desde 1996 e está do lado dos artesãos que expõem nas ruas“Não vejo problemaJá temos poucos artesãos regularizados, tem muita coisa industrializada.”
O presidente da Federação Mineira dos Expositores das Feiras de Arte, Artesanato e Manufaturados, Apolo Costa, reconhece problemas na feira da Afonso Pena, mas garante que a entrada de produtos industrializados, por exemplo, é alvo de fiscalização da prefeituraEle acha a decisão de restringir o espaço dos artesãos de rua acertada“Entre eles há pessoas que apenas revendem mercadorias compradas de terceirosCada feirante paga R$ 750 por ano por um espaço de três metros, o que torna a concorrência desigual”, afirmaCosta também não aprovou a Praça da Rodoviária como um dos locais apontados pela prefeitura“Ali é mais complicado, pela violênciaÉ interesse da federação amparar todos os artesãosVamos iniciar um cadastro de quem está em BH para tentar uma solução melhor”, afirma.