Jornal Estado de Minas

Família de militar desaparecida vive cinco meses de mistério e dor

Mãe de militar que sumiu em BH é nomeada curadora dos bens da filha, que teve vencimentos suspensos pela Aeronáutica. Família se vê às voltas com angústia e perguntas sem respostas

Jorge Macedo - especial para o EM
Pedro Ferreira

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Ao completar cinco meses do desaparecimento da tenente da Aeronáutica Mírian Márcia Rodrigues Tavares, de 42 anos, o juiz da 3ª Vara de Sucessões de Belo Horizonte, Maurício Torres Soares, concedeu alvará de ausência e nomeou como curadora especial a mãe da militar, para guardar, conservar e administrar os bens da filhaA primeira providência da aposentada Maria das Dores Rodrigues, de 72, que mora em Varginha, Sul de Minas, foi desocupar o apartamento da tenente, no Bairro Prado, Região Oeste da capital, para alugá-lo e usar o dinheiro para pagar as mensalidades da compra financiada do imóvel

Móveis, roupas e outros pertences da tenente foram levados para uma casa da família em Varginha, o que aumentou ainda mais a angústia da mãe, que conserva a esperança de encontrar a filha com vidaA tenente saiu de carro para ir ao banco depositar dinheiro na conta da irmã, em 3 de maio, e nunca mais foi vistaEm junho, ela passou a ser procurada pela Interpol, organização internacional de polícia criminal.

Na família da militar, o clima é de desolaçãoA irmã dela, a professora Beatriz Tavares, de 49, conta que a polícia vasculhou várias oficinas de desmanche de carros na capital, na expectativa de encontrar peças do Fiat Palio de cor prata da tenente, placa HNY 3582, de Varginha, mas nada foi achado“A Aeronáutica também conseguiu autorização para contratar mergulhadores para procurar em lagoas perto de Belo Horizonte, mas também não encontraram nada”, disse a irmã“Não tem como descrever a nossa dorA gente não sabe o que aconteceu com a minha irmã e não sabemos o que fazerFica essa incertezaAo mesmo tempo que temos esperança de encontrá-la, também temos dúvida

A gente imagina mil coisasUma hora a gente imagina que ela está viva, outra, que ela está morta”, lamentou a irmã“É como se estivéssemos vivendo um eterno luto, sem ter um corpo para velar”, disse.

A irmã conta que a família decidiu alugar o apartamento depois que a Aeronáutica suspendeu o pagamento de salário à tenente e encaminhou um termo de deserção à Justiça MilitarDe acordo com o artigo 187 do Código Penal Militar, o agente que se ausenta de suas atividades por mais de oito dias sem justificativa é considerado desertor

Os pertences de Mírian foram levados para uma casa herdada do pai em Varginha“Não tive nem coragem de olhar as coisas delaSó nos resta sonhar, rezar e ter esperança de que um dia ela vá voltarMírian é a caçula de quatro irmãosEra o xodó da minha mãeA última sempre é a mais mimada”, comentou a irmã.

Beatriz conta que aparentemente Mírian não tinha nenhum problema que a levasse a fugir ou cometer ato mais grave

“Dificuldade financeira ela não tinhaNo trabalho, o que a gente sabe é que ela estava se dando muito bemNa Páscoa, quando ela nos visitou em Varginha, percebi que estava bem mais tristeTentei conversar com ela, mas ela desconversouNão era muito de se abrir com ninguémEra muito fechada”, disse a professora, lembrando que a tenente não levou nada quando saiu de casa para ir ao banco“Nem roupa, cartões de crédito, celular, nadaEla tinha no máximo R$ 100 no bolso e não houve nenhum movimento bancário depois do sumiço”, lembra a irmã“A gente continua sonhando que um dia ela vai voltar para casa, que vai bater na porta e abraçar todo mundo.”

INVESTIGAÇÃO Para a polícia, o sumiço da tenente ainda é um mistérioDe acordo com o chefe da Divisão de Referência de Pessoas Desaparecidas, delegado Dagoberto Alves Batista, não há ainda qualquer indício de que Mírian esteja viva ou de envolvimento de alguém em seu desaparecimento, como movimentação da conta bancária.

Segundo ele, a tenente deixou uma carta para a família, indicando que cometeria suicídio“Na época do desaparecimento dela, foi encontrado sangue na pia da garagem do prédio, mas a gente precisaria de amostra do sangue dela para confrontar os materiaisA tenente ainda fez um depósito na conta bancária da irmã e deixou uma mensagem dizendo que era para custear seu enterro, que não queria dar despesa para ninguém”, disse o delegado.