Para quem olha torto para skatistas, é melhor se acostumarSeja por esporte, lazer ou transporte, cada vez mais belo-horizontinos dão “rolés” nas ruas e em pistas de skate da capital mineiraSegundo a Federação Estadual de Skate de Minas Gerais, só Belo Horizonte conta hoje com 120 mil adeptos do shapeÉ assim que eles chamam a tábua de ‘madeira’ sobre rodas onde desafiam o próprio corpo, equilibrando adrenalina, coleguismo e criatividade“Skate é viiiiida!”, define, em poucos segundos, o estudante Breno Ferreira, de 17 anos, enquanto desliza em alta velocidade pela ladeira da Rua Professor Estevão Pinto, no Bairro Serra, em direção ao Centro da cidade.
Para muitos, andar de skate tornou-se uma opção mais divertida de meio de transporteOu de lazerOu dos doisÉ o caso da tatuadora Aline Ribeiro, que usa um long board (maior) para se locomover com a filha de 3 anos na Região Central“Viemos para o trabalho de carroNa hora do almoço, para agilizar, vamos de skateCom ela no colo, ficaria muito pesado”, conta a mãe, que leva a pequena Aléxia na “prancha”
Quem costuma andar de skate nota que a prática cresce na cidadePara Rodrigo de Angelis, de 47, muitas mães deixaram de ter pavor de o filho virar skatistaFundador do Mumm-Ra, grupo da velha guarda de skatistas de BH, que se reúne toda semana, ele diz que o apelido surgiu do desenho animado ThunderCats, adaptado do lema “forma decadente, skate eterno”“Tem garoto que, em vez de jogar pelada, faz umas aulas particulares e sai para andar de skate com a turma no Belvedere ou na Avenida Bandeirantes”, afirma
A mania deixou de ser exclusividade de tribos tatuadas e de calças largas, tachadas de ‘roupa de skatista’“O cara precisa de agilidade para executar as manobrasHoje, as calças levam stretch para ficar mais confortáveis e sóbriasAs roupas estão mais sérias”, compara Maurício Massote, dono da Blunt, complexo com loja e pistas particulares no Bairro SionNo local, são oferecidas aulas de skate, artigos para a prática do esporte e passe de R$ 14 a cada duas horas para frequentar as pistas“Não existe classe social nas pistas”, diz
“Antes, a gente andava na rua mesmo porque não havia tantos carrosE os skates eram daqueles de supermercado, com rodinhas de plásticoHoje, o nível de organização do esporte é fantástico”, compara o administrador de empresas Marcelo Canuti, de 42Morador de Nova Lima, ele acompanhava durante a semana o filho João Marcelo, de 13, na aula particular de skate, para aprimorar as manobrasO adolescente começou aos 7 anos e costuma sair com a turma nas ruas planas do Belvedere nos sábados à tarde“Não deixo ele sair sozinho no trânsitoSó se for com a turma”, preocupa-se o pai, que libera de vez em quando o garoto seguir de skate da casa da avó para o Colégio Santa Doroteia, no mesmo bairroSó não conseguiu ainda soltar a filha, de 4, que já antecipou o pedido de um skate de presente para o Papai Noel.
Aos poucos, meninas também invadem o território que costumava ser dominado pelos rapazesBárbara Correa, de 16 anos, conta que a mãe não apoia as aventuras dela com o skate nas ruasEla gosta de se encontrar com os amigos e deslizar pela calçadaEm dois anos, aprendeu relativamente pouco, apenas quatro manobras“Os meninos têm mais força na perna e podem ficar mais tempo fora de casa, treinandoÉ desigual”, protesta Thayna Pimenta, de 15, que herdou o gosto pelo esporte do próprio pai, ex-skatistaEm tom de brincadeira, conta já ter quebrado diversos azulejos da cozinha andando de skate dentro de casaNo fim, as alegrias de surfar no asfalto compensam mais do que eventuais aborrecimentos
Segurança Um indicativo da maior difusão do skate na cidade, que serve de alerta para a necessidade de se proteger, é o aumento do número de acidentes envolvendo skatistasEntre janeiro e o início de outubro, foram registrados 89 atendimentos no Hospital de Pronto-socorro João XXIIIFelizmente, nenhum traumatismo mais graveNo máximo, fraturas nos braços e pernas“Não atendi a um único caso de skatista sem capaceteAs pessoas que fazem esportes radicais são as que mais se preocupam com segurança”, afirma o coordenador médico do HPS, Marcelo Lopes Ribeiro, que deixa transparecer ser ele próprio um ex-skatistaAos 39, parou depois de machucar o joelho.