Belo Horizonte sofre com os efeitos do forte calor e da poluição causada pelos incêndios. No fim de semana, uma camada de fumaça cobriu diferentes pontos da cidade e ainda pôde ser observada nesta segunda-feira, especialmente nas primeiras horas da manhã. Segundo a meteorologia, só a chuva pode amenizar o problema, mas ela não deve chegar à região antes do dia 20 de outubro. Enquanto isso, BH continua com as temperaturas altas e umidade baixa nesta semana.
Conforme o capitão Tiago Miranda, do Corpo de Bombeiros, o fim de semana foi um dos piores nos últimos meses em relação às queimadas por causa do alto número de focos em áreas de vegetação. Os bombeiros atuaram em combates na Serra do Curral, Serra da Piedade, Parque do Rola Moça, entre outros casos. Somente no sábado, a corporação registrou 141 ocorrências de incêndio na capital e na região metropolitana, sendo 123 em matas e 18 em lotes vagos.
“Sobrevoamos as regiões de serra no fim de semana e vimos que vem se formando essa camada – como se fosse uma neblina – sobre a cidade. O resultado dessa nuvem de fumaça é o aumento do calor e um visual diferente na cidade. Daí vêm outras consequências, como as doenças respiratórias e muita gente que tem alergia”, comenta o capitão. Segundo ele, o vento deste mês, apesar de forte, não é suficiente para dispersar a fumaça.
De acordo com Miranda, o feriado do Dia de Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças pode ter piorado a situação de incêndios na região metropolitana por causa dos fogos de artifício que são uma tradição da data. “Tem a cultura de soltar fogos. Nessas regiões de mata, o foguete é instrumento que acaba aumentando os incêndios. As bolinhas que se soltam e explodem com pólvora, além do pavio em chama, caem em matas e ajudam a propagar incêndios. Todo 12 de outubro temos que redobrar a atenção para os fogos”, relata o bombeiro.
EMERGÊNCIA “Como não chove, começamos a sentir a influência direta do tempo seco, da umidade baixa e, lógico, do acúmulo de poluentes perto da superfície. O que pode dissipar isso é somente a chuva. Pode estar ventando, mas (a camada) permanece perto dos centros urbanos”, explica o meteorologista Heriberto dos Anjos, do Centro de Climatologia Tempo Clima/PUC Minas.
Segundo ele, neste fim de semana, principalmente no domingo, os índices de umidade em Belo Horizonte chegaram ao estado de emergência, segundo a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nas regiões da Pampulha e Oeste, os índices chegaram a 15% no início da tarde passada. “No estado de emergência, determinamos a suspensão de atividade física entre 10h e 16h. Também a suspensão de atividades que envolvam aglomeração de pessoas, como futebol, shows, qualquer situação em que se fique exposto ao sol”.
A temperatura no domingo chegou aos 34,9 graus, por pouco não alcançando o recorde do dia mais quente do ano, 30 de setembro, quando os termômetros marcaram 35 graus. O recorde de um mês de outubro foi registrado em 2012, quando a temperatura chegou a 37,1 graus, no dia 30.
Conforme a previsão do tempo, o alívio para o calor não chegará tão cedo. “Infelizmente, nos próximos dias vamos manter essa condição por conta da massa de ar quente e seco no Brasil central, impedindo o avanço de frentes frias na região Sudeste”, explica Heriberto dos Anjos. “Nossa expectativa para os próximos sete dias é que não há previsão de chuva pelo menos até dia 20 de outubro. Nos últimos 10 dias (do mês) esperamos que a massa perca a intensidade e que a frente fria chegue para provocar chuvas”.
O meteorologista ressalta que a situação é crítica em Minas Gerais. Normalmente, a média de chuva para os meses de setembro e outubro somados chega a 160 milímetros de precipitação, mas esse índice sequer foi alcançado neste ano. “Nós vimos de um período chuvoso, de outubro do ano passado a março deste ano, com déficit de chuva e este início está bem parecido com o período chuvoso passado”, afirma. “Até dezembro não esperamos um período chuvoso significativo. Pode haver tempestades em algumas áreas da região, mas não vão amenizar quase nada, são chuvas rápidas. Tem que chover de quatro a cinco dias seguidos para recuperar os reservatórios, como o de Três Marias”.
Período chuvoso
Apesar da seca prolongada, na manhã desta segunda-feira autoridades começam a discutir a prevenção para o período chuvoso em Belo Horizonte. Nos próximos meses vão acontecer reuniões semanais do Grupo Executivo de Áreas de Risco (Gear), na PBH, para análise dos desafios que a cidade terá pela frente na temporada de chuva.
Técnicos do instituto Tempoclima/ PUC Minas farão uma exposição sobre as tendências climatológicas para 2014/2015 e o coordenador do Centro de Excelência para a Redução do Risco de Desastres do Escritório das Nações Unidas no Brasil, David Stevens, dará uma palestra sobre estratégia internacional para a redução do risco de desastres.
De acordo com a PBH, as ações preventivas e corretivas desenvolvidas na capital estão alinhadas com as recomendações do Marco de Ação de Hyogo – principal instrumento orientador de redução de risco de desastres, adotado por países membros da Organização das Nações Unidas (ONU).
O Gear é composto por secretários municipais de Segurança Urbana e Patrimonial, Políticas Urbanas, Políticas Sociais, Saúde, Habitação, Segurança Alimentar e Nutricional e Assistência Social, além do presidente da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), os superintendentes de Desenvolvimento da Capital e de Limpeza Urbana, o diretor-presidente da BHTrans, o coordenador municipal de Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, a Cemig e a Copasa.
Na quarta-feira, o estado também lança, por meio da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil o Plano de Emergência Pluviométrica (PEP) 2014/2015.