Sob o risco de alastramento da febre chikungunya em Matozinhos, na Região Metropolitana de BH, as autoridades sanitárias acham que a população ainda não está engajada na eliminação de criadouros dos vetores da doença. Depois da confirmação do primeiro caso em uma mulher de 48 anos, a força-tarefa formada pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) e secretaria de Saúde do município começa hoje a atuar na cidade para impedir a proliferação dos mosquitos transmissores, a fêmea do Aedes aegypti e o Aedes albopictus. “Temos muitos imóveis fechados na cidade. Há grande dificuldade de as pessoas aderirem. O nosso maior desafio é a mobilização dos moradores”, disse a secretária municipal de Saúde, Marsileidy Siqueira. A SES ainda analisa outros cinco casos suspeitos no estado.
Na área central de Matozinhos há lotes vagos com entulho e lixo, borracharias com pneus ao ar livre. Outra preocupação é o distrito industrial da região. “Temos siderurgias grandes onde há acúmulo de materiais. Fazemos a vistoria a cada dois meses, mas, nesse intervalo, dá para o mosquito completar o ciclo de vida”, informou a coordenadora de zoonose Fabiane Pickbrenner. Outro problema apontado por ela é o hábito da população de armazenar água em tambores, principalmente no período de seca.
Durante todo o dia de ontem, antes de o reforço da equipe estadual chegar ao município, agentes do serviço municipal de zoonose saíram a campo e identificaram locais irregulares com a presença de pneus, garrafas, entulho e lixo que podem acumular água, o meio preferido para a reprodução dos mosquitos. “No dia a dia, as ações são constantes. Elas não param. O pessoal está na rua”, afirmou a secretária.
No ano passado, Matozinhos registrou alto índice de casos de dengue, o que o põe as autoridades em alerta, já que um dos vetores da febre chikungunya é o mesmo, o Aedes aegypti. “Passamos por um grande aperto, com muitos casos registrados”, disse a secretária. O setor de epideomologia investiga se o vírus pode ter sido levado durante um dos jubileus ocorridos em agosto no município. “Eles acreditam que alguém pode ter trazido durante uma das festas, quando circulam milhares de pessoas.” Cerca de 20 profissionais, entre médicos, enfermeiros e agentes de saúde foram treinados na cidade para identificar os sintomas da febre chikungunya, que já acometeu 211 pessoas em todo o Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde.
A agente de zoonose Ana Oliveira ainda vê dificuldade para que seu trabalho dê resultado. “A população nos recebe, mas não faz o que a gente orienta.” Foi o que ocorreu com Hélio Custódio, dono de uma borracharia no Bairro Progresso, onde mora o primeiro caso da doença confirmado em Minas. No terreno a céu aberto, dezenas de pneus, alguns com restos de água, bem como lixo e entulho.
De acordo com Fabiane, com base no código de posturas do município, o estabelecimento que não cumprir a determinação da zoonose pode ser punido. Ela defende legislação específica e mais rigorosa sobre a presença de criadouros dos mosquitos transmissores tanto em residências como em estabelecimentos comerciais. Os pneus deveriam estar em local coberto para não acumular água de chuva. A agente de zoonose Maria Aparecia de Oliveira Moura vistoriou cada um dos pneus para identificar se, mesmo com a retirada da água, não havia ovos nas paredes. Hélio se comprometeu a fazer um telhado para cobri-los.
A força-tarefa deverá atuar nos bairro sProgresso e Bom Jesus e no Distrito Industrial. Entre as ações, serão feitas vistorias de imóveis, remoção de materiais e tratamento de depósitos não removíveis, como caixas d’água e reservatórios. Durante as visitas, há ainda o trabalho de informar a população sobre os cuidados que devem ser adotados. A secretária de saúde não descartou o uso do fumacê.