Mais de 12.918 focos de calor de 1º de outubro até ontem em Minas, número que já é mais de duas vezes maior do que os 5.358 focos de todo o mês de outubro de 2013 no estado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O cenário leva o Corpo de Bombeiros a admitir que a situação saiu do controle. E, ontem, além da devastação ambiental que consome fauna e flora, foram contabilizadas as primeiras vítimas humanas. Em Carrancas, o fogo que desde domingo consome vegetação na cidade turística do Campo das Vertentes matou dois voluntários e deixou um brigadista gravemente ferido. Na Serra do Cipó, labaredas em áreas do parque nacional também desafiam combatentes, que enfrentam intoxicação por fumaça e outros riscos na batalha contra as chamas.
Em Carrancas, a prefeitura estuda decretar situação de emergência. Segundo a chefe de gabinete da administração municipal, Flávia Cristina Andrade Guimarães, os três homens que tentavam combater as chamas nas proximidades do Complexo da Zilda, conjunto de cachoeiras mais famoso do município, acabaram surpreendidos pelas labaredas. José Ronaldo Monteiro, de 49 anos, empresário, brigadista, presidente do Sindicato Rural e dono de terras na região, ficou com 40% do corpo queimado e foi transferido em estado grave para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em BH.
Os voluntários Paulo Carolino da Silva, de 54, um de seus funcionários, e o aposentado Raimundo Ferreira Coimbra, de 48, morreram carbonizados.
Segundo a prefeitura, a principal suspeita é de que foguetes disparados no dia de Nossa Senhora Aparecida tenham iniciado as chamas. Os bombeiros só apareceram ontem na cidade. “Todas as guarnições estão empenhadas em outros casos. A prioridade é para os locais mais perto de residências e a população demora a aceitar isso”, diz o capitão Thiago Miranda, da assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros.
Para Rodrigo Belo, diretor de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a morte dos voluntários é uma ocorrência incomum. Segundo ele, em 11 anos na área, esse foi o primeiro caso do tipo de que teve notícia no estado. Porém, o diretor alerta que trata-se de uma situação de risco. “Mesmo pessoas capacitadas e com equipamentos de proteção estão sujeitas a acidentes. Uma ação mal planejada aumenta o risco”, afirmou, desaconselhando que pessoas sem treinamento atuem nesses casos.
Conhecida como cidade das cachoeiras, Carrancas teve restrições ao turismo ontem por causa do fogo. Dono de uma agência turística, Oirot de Abreu informou que um grupo que partia para o conjunto do Complexo da Zilda foi impedido de prosseguir pelos bombeiros.