“Agora, sou o garoto propaganda.” Assim, José Maria Rocha, de 65 anos, brinca sobre o afastamento da linha de frente de um dos bares mais tradicionais de Belo Horizonte, o Bolão.
A marca se tornou sinônimo de boa comida, o que possibilitou a expansão com a abertura de outras quatro filiais. A primeira delas, na rua Mármore, no final da década de 1980. A segunda, no Bairro Coração Eucarístico e, este ano, mais duas: no Funcionários e São Pedro, ambos na Região Centro-Sul.
Parte do charme da marca se deve a ele, homem de 1,75m, sorriso aberto e de mineiridade que se mostra na fala e na hospitalidade. Graças à habilidade de prosear com os clientes, o bar foi um dos primeiros a funcionar na madrugada. Era passagem obrigatória para quem estendia a noite, como artistas. Entre os frequentadores, músicos do Clube da Esquina, na década de 1970, e, a partir dos anos de 1990, artistas que tiveram projeção nacional e até internacional, como as bandas Skank, Sepultura e Pato Fu.
Devido a problemas de saúde, entre os quais complicações resultantes de diabetes, Bolão não fica mais à frente do bar como gostaria. Mas como o principal relações públicas, como ele se autodefine.
O espaguete e o rochedão (arroz, feijão, batata, bife e ovo) são o carro-chefe do Bolão. As receitas foram criadas sob a batuta de José Maria. Tanto para quem mora na cidade, como para quem vem a passeio, não se pode conhecer a capital sem passar pelo bar. A ideia de servir espaguete surgiu em 1966, quando outro estabelecimento na região, que vendia a iguaria italiana, fechou as portas. Os clientes pediam e Bolão resolveu oferecer. “Aprendi a preparar. Por muitos anos, eu fazia tudo sozinho, gostava de fazer tira-gosto, como peixe frito, pé de porco e frango ao molho pardo. Aprendi a preparar com minha mãe, Maria dos Passos Rocha.”
Boa prosa
Sem atrativos, como música ao vivo, o bar conquistou a clientela pelo cardápio e pela boa prosa com Bolão. “Tinha uma turma de 40 médicos que vinha conversar, tomar cerveja e comer.
Nascido e criado em Santa Tereza, Bolão não se imagina em outro bairro. “Esse lugar é a minha vida. Toda hora passa alguém, me cumprimenta e vem conversar.” No local onde nasceu, atualmente há uma padaria. A vocação para lidar com o público já se mostrava na infância. Ainda menino trabalhou como entregador de um armazém no bairro. Por causa do diabetes, ele precisa comer de maneia comedida o espaguete a bolonhesa. Também precisa reduzir a quantidade de doces, a sua paixão. Pai de dois filhos e avó de três netos, de vez em quando ele descumpre a ordem médica. Mas, se quiser desagradá-lo, basta convidá-lo para comer frango com quiabo. Quiabo e jiló estão entre as coisas que menos gosta.
LINHA DO TEMPO
1961 - Abertura do Bolão em Santa Tereza
1970 - O bar se torna ponto de encontro dos músicos do Clube da Esquina
1989 - Abertura do Bolão 2, na Rua Mármore na esquina com a rua Tenente Durval
1994 - O bar ganha o primeiro das dezenas de relógios pendurados nas paredes. Foi criado o rochedão, prato que se tornou um clássico
2011 - Abertura da unidade no Coração Eucarístico
2014 - Abertura das unidades do Funcionários e do São Pedro.