Será enterrado na manhã desta sexta-feira, em Pedras de Maria da Cruz, Região Norte de Minas, o corpo de Cleomar Rodrigues de Almeida, de 49 anos, um dos líderes da Liga Camponesa dos Trabalhadores Pobres do Norte de Minas.
O clima tenso na região envolvendo fazendeiros, trabalhadores sem-terra e comunidades tradicionais foi discutido durante audiência pública realizada em Pedras de Maria da Cruz, no dia 9 de outubro, organizada pelo Ministério Publico Federal. Cleomar Rodrigues participou da audiência e reforçou a denúncia contra um fazendeiro, acusado de fechar as cancelas de uma estrada que dá acesso ao assentamento de sem-terra Unidos com Deus, venceremos e à comunidade tradicional de vazanteiros de Caraíbas.
A ação impedia a passagem do veículo que faz o transporte escolar das crianças da área, distante 12 quilômetros da sede do município. Com isso, para ir até a escola na cidade, 32 crianças do assentamento e da comunidade tradicional foram obrigadas a percorrer o Rio São Francisco, na balsa da prefeitura, enfrentando os riscos da travessia.
Cleomar Rodrigues foi morto por volta das 19h de quarta-feira, próximo a uma cancela, na estrada rural que dá acesso ao assentamento Unidos com Deus. O sem-terra pilotava uma moto e retornava da cidade, onde foi comprar mantimentos. Ele foi atingido por um tiro de uma espingarda calibre 12.
Na tarde de quarta-feira, um outro morador do assentamento, identificado como José Gonçalves, de 48, foi agredido com uma facada na cabeça, quando pescava numa lagoa marginal do Rio São Francisco.
Marquinho é gerente de uma fazenda localizada entre o assentamento de sem-terra e a cidade de Pedras de Maria da Cruz. Durante a audiência pública realizada em Maria da Cruz no dia 9 de outubro, os trabalhadores alegaram que o dono da propriedade, que seria um médico residente em Belo Horizonte, ordenou que o homem trancasse com cadeado uma cancela na estrada que liga o assentamento à cidade, impedindo a passagem dos sem-terra e agravando o conflito. Nessa quinta-feira, o em.com.br tentou contato com o delegado de Homicídio de Januaria, Elgécio Coutrim Lima Filho, responsável pela investigação do caso, mas ninguém retornou as ligações.
A mulher de Cleomar, Valdira Ferreira Coimbra, de 47, disse que o líder da Liga Camponesa foi assassinado por causa da “luta pela terra”, ressaltando que o fato de nada ter sido levado dele reforça que realmente foi uma “tocaia”. “Perdi o meu marido e o sangue dele foi derramado na estrada. Mas o movimento pela terra não vai acabar”, disse Valdira, que pede justiça. A mulher conta que Cleomar, além de liderar as atividades da Liga Camponesa, era um “homem trabalhador” e que também assumiu os seis filhos que ela teve com o primeiro companheiro “como um verdadeiro pai”..