Jornal Estado de Minas

Vazão da represa de Três Marias pode ser reduzida para poupar água para 2015

Diminuir vazão da maior hidrelétrica do São Francisco em Minas, mesmo depois da chegada da chuva, é tendência para evitar que a próxima estiagem tenha consequências tão sérias

Guilherme Paranaiba

O vertedouro, onde a água não chega faz tempo: oportunidade de tirar lições da crise - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press.

A tendência para a recuperação mais rápida da represa de Três Marias – maior reservatório do Rio São Francisco em Minas, que hoje está com apenas 3,5% da capacidade – é reduzir a vazão de água abaixo da usina hidrelétrica, mesmo com a chegada da temporada chuvosa, prevista para novembro. A afirmação é do gerente de Planejamento Energético da Cemig, Marcelo de Deus Melo. A decisão, segundo ele, depende de reunião conjunta com diferentes órgãos do governo federal, nos próximos dias, em Brasília. Além de permitir que a represa, localizada na Região Central do estado, recupere seu volume mais rápido, a medida serviria também como forma de economizar recursos hídricos para o ano que vem, evitando que um novo período de estiagem tenha consequências tão sérias.

“Estamos chegando ao fim da estação seca. Nossa meteorologia já prevê o início de chuvas que possam começar a reverter esse quadro em novembro, mas ainda assim vamos gerenciando, para que o reservatório não chegue ao nível mínimo”, afirmou Melo. Apesar de Três Marias estar operando com apenas duas das seis turbinas em razão da escassez de água, ele garantiu que, mesmo que a usina pare, os consumidores não correm risco de desabastecimento de energia elétrica. “O Brasil é todo interligado e, enquanto Três Marias não gera, outras estão gerando. Isso não faz diferença para o consumidor”, acrescentou.

Desde o início de 2014, ainda na temporada chuvosa 2013/2014, Melo lembra que a vazão de água de Três Marias era de 500 metros cúbicos por segundo (m3/s).

Esse volume foi sendo reduzido ao longo dos meses até chegar ao quadro atual, de 140m3/s. A previsão da Cemig é entrar em novembro com 2,8% da capacidade do reservatório e, no pior cenário, terminar o próximo mês com 1%. Mas o meteorologista da estatal, Arthur Chaves, diz que a perspectiva é de chegada de chuvas mais intensas. “A tendência é de que em novembro comecem os longos períodos chuvosos, por influência da Zona de Convergência do Atlântico Sul”, afirmou.

Se Três Marias chegar ao limite para a produção de energia, a Cemig diz já ter feito testes para que o volume morto do reservatório (4 bilhões de metros cúbicos) passe pelas turbinas com intenção de garantir o abastecimento de cidades que dependem do Rio São Francisco, como Pirapora, Januária, São Francisco, Manga e São Romão, além de manter a viabilidade do Projeto Jaíba, que tira água do rio para irrigação. O gerente de Planejamento Marcelo Melo diz que a situação atual deve servir de aprendizado para ações de agora em diante, com intuito de preservar a água. “Todos estão imbuídos de um espírito muito forte de adaptar as tomadas de água, para que se possa, paulatinamente, ir reduzindo a liberação da vazão de Três Marias e assim economizar água e poder aguardar a chegada das chuvas”, afirmou.

A Agência Nacional de Águas (ANA) informou que a próxima reunião para avaliar a situação de Três Marias, segundo maior reservatório da bacia do Rio São Francisco, atrás de Sobradinho (BA), está prevista para o dia 29. “Somente depois da reunião será definida a nova vazão, caso haja alteração”, diz nota enviada pela assessoria da ANA.

ENQUANTO ISSO...
Preparação para temporais


A Cemig apresentou ontem a estrutura que vai usar nos casos mais críticos de interrupção da rede elétrica provocada por chuvas na Grande BH. De acordo com o superintendente de Relacionamento Comercial com Clientes, Carlos Augusto Reis de Oliveira, em 2014 a empresa investiu R$ 122 milhões para melhorar o sistema e deixá-lo menos suscetível às interrupções. Em um dia crítico, o número de ligações ao telefone 116, que normalmente é de 39 mil, passa para 270 mil, aumento de quase 600%. Para evitar problemas, o superintendente garante que a população pode e deve usar outros canais de atendimento. As opções são as redes sociais Twitter e Facebook, o aplicativo Agência de Bolso, para tablets e celulares, disponível nos sistemas iOs e Android, além de mensagem de texto para 29810, agência virtual pelo site da Cemig e lojas de atendimento presencial. Os 240 eletricistas que compõem equipes em dias normais serão reforçados por mais 340 profissionais em dias considerados críticos.

Grande BH suga 85% do Rio das Velhas

Com o período de estiagem, Belo Horizonte e região metropolitana estão consumindo 85,71% da água do Rio das Velhas que chega à estação de tratamento de Bela Fama, no distrito de Honório Bicalho, em Nova Lima, Grande BH.
O alerta é do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, que vai acionar o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) para que empresas que retêm o curso d’água na região, como mineradoras, liberem um volume maior para garantir a sobrevivência do rio e amenizar os impactos ao longo dos seus 801 quilômetros.

De acordo com o comitê, a vazão do rio ao chegar a Bela Fama está variando de 7 a 8 metros cúbicos por segundo (m3/s), quando o normal em períodos de seca como este deveria ser 14m3/s. Somente o abastecimento urbano da Grande BH vem captando 6m3/s, para atender 51 cidades ou 60% do volume consumido na capital e 40% nos demais municípios. “O que sobra para o leito do rio é muito pouco. Estamos praticamente sugando o Rio das Velhas, retirando água além da sua capacidade, e isso tem um efeito também para a bacia”, denuncia o presidente do órgão, Marcus Vinícius Polignano.

Na foz com o Rio São Francisco, em Várzea da Palma, Norte de Minas, a vazão do Velhas caiu de 150m3/s, na estiagem, para 40m3/s este ano, segundo Polignano. “Precisamos do rio não apenas para atender as cidades. É preciso que ele chegue até o São Francisco”, disse.

O Igam informou que, assim que receber o pedido do comitê, vai avaliar a situação do rio e não descartou adotar novas regras de operação. Entre as medidas que podem ser adotadas estão a suspensão da outorga de uso de recursos hídricos, parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado.

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