Avenida Paraopeba, hoje Avenida Augusto de Lima, no espaço contornado ainda pelas ruas Santa Catarina, dos Goitacazes e Curitiba. Ali existia um campo de futebol, o primeiro gramado em Minas Gerais. Pertencia ao América. Virou o Mercado Central em 1929. Antes, por cinco anos, muitos jogos do Campeonato Mineiro ocorreram por lá, incluindo algumas conquistas emblemáticas, como o decacampeonato do Coelho.
Era uma Belo Horizonte muito diferente da atual. Os espaços para o futebol eram como os de várzea, todos de terra. Do outro lado, onde hoje está localizado o Minascentro, que outrora foi a Secretaria de Estado da Saúde, ficava o campo do Atlético.
Já naquela época, a política imperava. O América era o grande rival do Atlético. Os dirigentes do alviverde se mobilizaram para que o clube tivesse seu próprio estádio. Mais que isso, uma praça de esportes.
O presidente era Ramiro de Barros. Em 1922, os jogadores do América foram convocados para representar a Seleção Mineira num amistoso contra a Seleção Carioca, no Rio de Janeiro, quando houve empate por 2 a 2. Nascia ali a ideia de erguer em Belo Horizonte um estádio nos moldes dos que existiam no Rio de Janeiro, em especial o do Fluminense, nas Laranjeiras.
Barros formou uma comissão para articular a campanha. No início de 1921, o clube consegue, junto à prefeitura, a concessão do terreno na Avenida Paraopeba. Além disso, obteve uma subvenção de seis contos de réis. No entanto, para construir um estádio eram precisos mais 40 contos de réis. E o clube viabilizou a verba por meio da ajuda de sócios. O espaço seria inovador, incluindo outros esportes, algo que ainda não existia na jovem capital.
Na verdade, o que ocorreu a partir daquele jogo no Rio de Janeiro foi a continuidade de uma história que começou em 1913, quando o América ganhou o usufruto do terreno, onde funcionava o Minas Gerais, um time de futebol que tinha sócios. Segundo um decreto da Prefeitura de Belo Horizonte, o clube passava a ter direito ao quarteirão 21, da 3ª Zona Urbana, localizado na Avenida Paraopeba, entre as ruas Curitiba e Santa Catarina, o que estava registrado em cartório. Em contrapartida, pela cessão do terreno, o América estava obrigado a receber os sócios do Minas Gerais, como foi feito.
Em 1921, de posse da área e com os recursos, mãos à obra. A construção foi iniciada em 2 de maio daquele ano. Era uma legítima praça de esportes, onde constariam um campo de futebol gramado, uma quadra de tênis, uma pista de patinação, um estande de tiro ao alvo, além de uma quadra cimentada para vôlei e basquete.
Chega então o dia 6 de maio de 1923. Finalmente, depois de mais de dois anos de obras, o estádio é inaugurado – antes, em 7 de setembro de 1922, quando só o campo gramado estava concluído, houve um jogo entre América e Palestra Itália, que terminou empatado por 3 a 3.
A novidade encantava o público. Havia a grama, os vestiários, banheiros. Mais do que isso: pela primeira vez, uma arquibancada, que media 60 metros de comprimento por 12 de largura. Parte dela era coberta. Era o melhor estádio de Minas Gerais e, como consequência, todos os jogos do Certame Mineiro – como era conhecido o campeonato estadual – passariam a ser jogados ali.
A inauguração foi um dia de gala. Praticamente toda a cidade se dirigiu ao “campo do América” para acompanhar a solenidade, que colocava Belo Horizonte e Minas Gerais no mapa do futebol brasileiro. E a partida, América x América -RJ, foi tratada como um acontecimento de estado, tanto que coube ao então presidente do estado (como era chamado o governador à época) Raul Soares dar o chute inicial. E o fez de fraque, cartola e bengala. Foi um chute mascado, desajeitado, mas fora dado o pontapé inicial do estádio.
A torcida era toda do time mineiro. Ninguém admitia torcer para os cariocas. No entanto, o resultado seria decepcionante: 5 a 1 para o América-RJ. Mas não o bastante para apagar o clima de festa.
O período coincide com uma fase de ouro do América, que ali conquistou três títulos consecutivos, de 1923 a 1925, quando chegou ao decacampeonato. A cessão da área, no entanto, acabaria em 1927, com o último jogo ocorrendo em 11 de dezembro daquele ano, com a vitória por 3 a 2 sobre o Atlético, depois de estar ganhando por 3 a 0.
Para justificar o fechamento do campo, o poder público alegou que a cidade – então com cerca de 90 mil habitantes – crescia e precisava de um local para a instalação de um mercado central, além de uma Secretaria de Estado da Saúde.
O presidente do estado era Antônio Carlos. Poucos anos antes, ele havia decidido formar o “Triângulo de Minas Gerais” com os três clubes. O América, com o estádio próximo à Praça Raul Soares, o Atlético, que teria o seu construído em Lourdes, e o Palestra Itália, que surgia como terceira força, no Barro Preto.
Assim, o circuito foi desfeito, com o América ganhando um novo terreno, desta vez na Avenida Araguaia, que viria a ser o Estádio da Alameda Ezequiel Dias, vizinho à Santa Casa de Miserircórdia, desativado nos anos 1970.
Principais jogadores no
1º estádio do América
1921
Affonso Silviano Brandão (goleiro)
Otacílo Negrão de Lima (volante)
Lucas Machado (armador)
Saint Clair Valadares (atacante)
Alencar Líscio (atacante)
Geraldino de Carvalho (atacante)
1922
Tonico (zagueiro)
Márcio Motta (zagueiro)
Paulo Cerqueira Leite (zagueiro)
Camillo Mendes Pimentel (zagueiro)
Celso Mascarenhas (volante)
Papaisca (armador)
Satyro Taboada (atacante)
Fausto de Freitas (atacante)
Saint Clair Valadares (atacante)
1923
José de Souza (zagueiro)
Porphírio Taboada (volante)
Celso Mascarenhas (armador)
Saint Clair Valadares (atacante)
Bolivar Moreira de Abreu (atacante)
1924
Salim Suaid (goleiro)
Kainço (volante)
Christiano de Souza (armador)
Geraldino de Carvalho (atacante)
Adelmar Frade (atacante)
Chico Leite (atacante)
1925 (decacampeonato)
Salim, Tonico e Souza; Parruda, Tango e Sanguera; Chico Leite, Bolivar, Satyro, Osvaldinho e Gauchinho