Jornal Estado de Minas

Fáceis de guardar, bicicletas dobráveis já são campeãs de vendas em algumas lojas de BH

Adeptos alertam para cuidados especiais na hora de andar e de fazer manutenção

Valquiria Lopes
O psicanalista Samir Honorato vai pedalando de casa, no Bairro Santo Antônio, para o trabalho, no Funcionários. Espaço não é problema para a bicicleta - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press


Elas passam e despertam curiosidade. São diferentes das tradicionais, com pneus e guidom mais largos. Mas é o tamanho menor e a versatilidade que têm levado bicicletas dobráveis a ganhar cada vez mais espaço nas ruas de Belo Horizonte. A facilidade de dobrá-las e guardá-las em espaços pequenos, além da possibilidade de levá-las em qualquer horário no ônibus, metrô ou no táxi, fazem com que esse tipo de bicicleta seja campeã de vendas em algumas lojas especializadas da capital. Para autoridades de trânsito, o aumento no número de pessoas optando pelo transporte alternativo é importante para melhorar a mobilidade na cidade.


Nas contas de Alessandro Borsagli, de 35 anos, dono de um loja de bicicletas na Rua Professor Morais (Bairro Funcionários), nove em cada 10 bicicletas urbanas vendidas são dobráveis. “A venda cresceu muito. As pessoas estão mais interessadas no modelo porque percebem as vantagens”, afirma.

As principais diferenças do modelo são as dimensões e os componentes. O número de marchas pode variar em relação às tradicionais, sendo que as dobráveis mais comuns têm de uma a sete marchas (há marcas com até 27 marchas, mas com custo mais elevado). Os pneus são para asfalto, sem cravos e com poucas ranhuras. Os modelos mais vendidos custam entre R$ 1,1 mil e R$ 1,6 mil.

Apesar das diferenças, já que as convencionais têm mais marchas e dimensões mais avantajadas (veja arte), a magrela dobrável tem bom desempenho nos deslocamentos. “Cada pessoa deve escolher um modelo que atenda à sua necessidade. As dobráveis são indicadas para o transporte na cidade, mesmo em uma cidade com morros, como Belo Horizonte. Além disso, há uma variedade de acessórios, como cestas, que auxiliam nas compras ou no transporte de objetos”, afirma Alessandro Borsagli.

O empresário, ciclista desde a infância e adepto da bicicleta dobrável há seis anos, diz que o modelo pode ser usado para se exercitar. Mas alerta para algumas restrições de uso. “Ela é indicada para a cidade, não para estradas de terra. Também é preciso evitar descer meio-fio, pular obstáculos ou passar em buracos para não estragas as dobradiças”, enumera. A compra também exige cuidado, para evitar peças de má qualidade. “Mais do que pensar nos componentes, como quadro e guidom, o importante é ser exigente com as dobradiças, para evitar manutenções excessivas ou acidentes, em caso de desprendimento dessas peças”, explica o empresário Vinícius Túlio da Silva, dono de uma loja no Carmo-Sion (Centro-Sul).
Ele diz que a procura pela dobrável está em alta.

“Arisca” Quem quiser trocar uma bicicleta convencional pela dobrável também deve ter atenção na hora de andar. O guidom mais estreito, em relação às tradicionais, exige cuidado com as manobras. “Ela é mais ‘arisca’, muda de direção com qualquer toque. O lado bom é que, por ser mais estreita, fica mais fácil de manobrar no trânsito”, descreve o artista plástico Sérgio Guerra, de 50. Ele, que já teve uma monareta dobrável na década de 1970 e há cinco anos comprou um novo modelo, diz estar encantado com a nova “onda”. “A bicicleta é confortável e tem uma estética linda. Acho que ela brilha no ambiente urbano”, afirma.

Atraído pela praticidade do modelo, o psicanalista Samir Honorato, de 30, abriu mão do carro nos trajetos do dia a dia. Até dois meses atrás, ia de carro de casa, no Bairro Santo Antônio, para o trabalho, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul.
“Mas começou a ficar inviável porque a vaga de estacionamento no prédio era cara e não havia muito espaço na rua. Minha vida ficou muito melhor. Tento até convencer amigos a fazerem a mudança”, diz.

>> Ciclovias em expansão

O avanço do modelo de bicicleta dobrável em Belo Horizonte tem relação com a infraestrutura de ciclovias e na implantação do projeto de bicicletas compartilhadas em Belo Horizonte. A avaliação é da superintendente de Desenvolvimento de Projetos e Educação da BHTrans, Eveline Trevisan. “As pessoas passaram a usar mais a bicicleta como meio de transporte e têm optado mais pelas dobráveis pela versatilidade que ela garante. O aumento é visível nas ruas”, afirma.

Hoje, a capital conta com malha cicloviária de 70 quilômetros e a meta é chegar aos 100 quilômetros até o fim do ano, por meio do programa Pedala BH. Segundo a superintendente, a Prefeitura de Belo Horizonte firmará contrato em breve para construir mais 150 quilômetros de ciclovias integradas a redes de transporte. “O financiamento impõe a condição de que as rotas estejam junto a outros modais, para facilitar os deslocamentos”, diz.

Por sua vez, o sistema de bicicletas compartilhadas conta, atualmente, com 29 estações e 290 bikes, localizadas na Orla da Pampulha e na Região Centro-Sul (consulte endereços em www.mobilicidade.com.br/bikebh). O projeto prevê a implantação de 40 estações, em que estarão disponíveis 400 bicicletas, até o fim do ano.

Melhorias Apesar dos avanços, quem pedala em Belo Horizonte cobra mais agilidade na implantação das rotas cicloviárias. Para o psicanalista Samir Honorato, que passa pela Avenida Getúlio Vargas no caminho de casa para o trabalho, a via deveria ter um espaço reservado para as bikes. “São muitos os locais de trânsito intenso e rápido que deveriam ter pistas exclusivas, para que pudéssemos ter mais segurança”, defende. Para Samir, a delimitação de um espaço para as bicicletas incentiva o transporte.

Uma saída para o problema, especialmente em longas distâncias e trechos mais movimentados, é a integração com o transporte público, mais fácil com a bicicleta dobrável. Com as convencionais, os horários no ônibus estão limitados aos sábados (após as 14h), domingos e feriados. No metrô, a permissão é diária, mas após as 20h. “O BRT segue a mesma regra do ônibus, mas com a vantagem de ter um equipamento para acomodação de duas bicicletas nos veículos articulados”, diz Eveline Trevisan, da BHTrans. Segundo ela, a empresa tem recebido pedidos para ampliação do uso no Move, que estão em estudo.

Opções para pedalar

Compare as bicicletas urbanas

Dobrável
Largura (dobrada): 70 cm
Altura: 60 cm
Peso: 12 quilos
Guidon: 58 cm

Convencional
Largura: 1,70 m
Altura: 1m
Peso: 12 quilos
Guidon: 72 cm

Vantagens de usar a bicicleta

Veículo de baixo custo de aquisição e de manutenção
Não poluente
Silencioso
Flexível nos deslocamentos
Transporte saudável.

O programa Pedala BH
 Criado em 2005, faz parte do Plano de Mobilidade da capital, tendo em vista os benefícios do uso da bicicleta como meio de transporte. Hoje, há 70,4 quilômetros de ciclovias em BH, sem contar as do Parque Municipal. A meta é implantar 100 quilômetros de ciclovias até o fim do ano
 
Bike BH (bicicletas compartilhadas)
Tem por objetivo incentivar o uso da bicicleta em trajetos curtos, inclusive complementando viagens feitas por transporte público. No total, 29 estações e 290 bikes estão disponíveis na Orla da Pampulha e na Área Central, nos endereços: Savassi, Praça da Liberdade, Mercado Central, Praça Afonso Arinos e Praça Rui Barbosa e outros pontos (consulte localização em www.mobilicidade.com.br/bikebh). Meta até o fim do ano é chegar a 40 estações, com 400 bicicletas.

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