A consequência das chuvas em Minas, principalmente as do fim de semana, já começa a aparecer em mudanças na vegetação atingida por incêndios durante a estiagem, mas os efeitos sobre mananciais para captação de água, geração de energia, turismo e lazer ainda estão longe de ser satisfatórios. Em Três Marias, na Região Central do estado, onde o reservatório da Cemig chegou a 3,18% da capacidade, o processo de infiltração da água no solo precisa atingir um nível de saturação suficiente para que tenha início o processo de recarga da represa. No Rio das Velhas e no sistema Paraopeba, principais captações para abastecimento da população da Grande BH, a Copasa informa que o nível está abaixo do esperado para esta época do ano. Para o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), o início da estação chuvosa ameniza a situação, mas um único período dentro da média de precipitação não será suficiente para retomar as condições normais dos mananciais.
“É como se você tivesse uma dívida a receber de R$ 5 mil e obtivesse um pagamento de R$ 1 mil. Ameniza, mas não volta ao normal”, compara a gerente de Projetos e Programas em Recursos Hídricos do Igam, Jeane Dantas de Carvalho. Ela lembra que, na Região Central do estado, onde a média histórica aponta de 800 a 1,2 mil milímetros (mm) de chuva, o acumulado foi de 500mm em cada uma das últimas duas temporadas (2012/2013 e 2013/2014). “Mesmo que a previsão indique que este ano vamos alcançar a média, o clima estava muito seco e será necessário mais de um período chuvoso dentro da média para recuperar as boas condições”, afirma.
Em nota, a Copasa informa que a situação continua sob controle nos rios Paraopeba e das Velhas, principais mananciais para abastecimento da Grande BH. Porém, a estatal admite que a quantidade de água disponível é menor do que a esperada, sendo que apenas no Rio Velhas começou um processo lento e gradual de recomposição.
Em Três Marias, mesmo com a chuva do fim de semana, o nível do maior reservatório de Minas na Bacia do São Francisco continua baixando.
VEGETAÇÃO Nos mais de 4 mil hectares do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, o fogo foi responsável por destruir 85 hectares de mata nativa, segundo dados parciais de setembro. É mais que o dobro do ano passado, mesmo que o número deste ano não tenha sido fechado. O gerente do parque, Marcus Vinícius de Freitas, explica que já é possível perceber melhora da vegetação mais rasteira, composta por gramíneas, em razão das últimas chuvas. Em muitos lugares o mato está brotando. Em outros, aparecem até flores.
“Isso é normal na vegetação herbácea. Ela queima e vai rebrotando. O problema é que os incêndios foram agravados pelo déficit hídrico que estamos vivendo”, diz ele. A professora Cláudia Jacobi, do Departamento de Biologia Geral da UFMG, diz que esse procedimento é facilitado pela presença de matéria orgânica nas cinzas. “Os nutrientes se acumulam e a chuva faz essa matéria se infiltrar no solo. Os exemplares que têm estrutura subterrânea são beneficiados e rebrotam”, afirma a especialista.
O gerente do Rola-Moça lembra ainda que, no caso dos arbustos e das árvores, maiores, a situação é mais complicada, já que muitas plantas acabam morrendo com o fogo.
SERRA DO CIPÓ A previsão da direção do Parque Nacional da Serra do Cipó é de que a unidade seja reaberta para visitação na sexta-feira. Os incêndios consumiram cerca de 7,5 mil hectares na unidade, o que corresponde a 22,18% de toda a área de preservação. A analista ambiental Paula Leão Ferreira diz que funcionários da reserva federal ainda estão contabilizando os danos antes da reabertura. “A chuva mansa de ontem (domingo) foi importante para iniciar a rebrota, com o material orgânico das cinzas”, afirma.
.