Jornal Estado de Minas

Apesar de multas mais caras, queda de infrações de trânsito esbarra na falta de fiscalização

A partir de hoje, com o início da Lei 12.971/2014, infrações ficam mais caras para coibir imprudência, mas freio aos abusos ainda esbarra na falta de inspeção nas vias do país

EM flagra veículo ultrapassando em faixa contínua na 381: infração gravíssima reincidente será cobrada em dobro - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press
São tantas infrações de trânsito cometidas no km 411 da BR-381, em Nova União, a 59 quilômetros de Belo Horizonte, que em meia hora de observação é difícil manter a conta.
Ontem, se houvesse fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no local, cada ultrapassagem proibida custaria R$ 191,54 aos motoristas. E eles devem ficar atentos. A partir de hoje, esse tipo de abuso vai pesar mais no bolso: R$ 957,70. É que entra em vigor a Lei 12.971/2014, que vai tentar frear as imprudências e as mortes no trânsito aplicando multas mais caras.

Vários motoristas e motociclistas foram flagrados ontem passando pelo acostamento para fugir de engarrafamentos e o valor da multa também passa de R$ 191,54 para R$ 957,70. A infração é considerada gravíssima e, em caso de reincidência, o valor é cobrado em dobro. Disputar corrida (racha) também é infração gravíssima, o motorista perde sete pontos na carteira e o valor da multa sobe de R$ 574,62 para R$ 1.915,40, além de ter a suspensão da carteira de habilitação e apreensão do veículo.


A proximidade do posto de fiscalização da PRF, em Sabará, na Grande BH, não intimida motoristas de caminhões que trafegam pelo acostamento. Eles podem até alegar que agem de boa fé, uma vez a faixa é única e muitos querem liberar a passagem para outros carros, uma vez que a velocidade de caminhões carregados é baixa nas subidas e trava o trânsito. Mas cometem infração do mesmo jeito.

O carreteiro André de Cássio Gomes, de 35 anos, diz apoiar as multas mais caras. “Os motoristas de carros querem ultrapassar a gente na curva. Se a gente não vai para o acostamento, eles xingam e ainda ficam piscando o farol. Não trafego em acostamento, pois sei que é proibido”, disse o carreteiro. Segundo ele, os motoristas vão pensar duas vezes antes de cometer infração agora. “Se não doer no bolso, ninguém aprende”, disse.

Mas não adianta nada aumentar o valor da multa se não há fiscalização, alerta o auxiliar administrativo Diógenos Viana, de 30, que sempre dirige pela BR-381. “Não vejo fiscalização nenhuma na estrada. A sensação de impunidade é grande e as pessoas continuam cometendo abusos. Vai continuar do mesmo jeito e as pessoas vão continuar morrendo nos acidentes”, reclama Diógenos.

Nos 118 quilômetros percorridos pela reportagem ontem, agentes da PRF foram vistos apenas em dois trechos da estrada. Em um acidente pouco depois do posto de fiscalização e próximo à ponte do Rio das Velhas, onde um policial estava posicionado em um local de onde não se tinha visão de abusos cometidos, no sentido Belo Horizonte.
Várias motocicletas e carros trafegavam em alta velocidade pelo acostamento para fugir do engarrafamento. Nenhum infrator foi parado.

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SEM REFORÇO O chefe de comunicação da PRF, inspetor Aristides Júnior, informou que não haverá reforço na fiscalização em função do aumento das multas. “Vai ser fiscalização normal. Não tem necessidade de uma operação só para isso, não”, disse. Segundo ele, um efetivo de 900 agentes se revezam na fiscalização das estradas federais em Minas. “Todo efetivo tem um trecho. Eles fazem ronda e autuação. Será do jeito que sempre foi feito. Obviamente, vamos dá mais ênfase nos feriados por causa do maior número de veículos”, informou o inspetor, lembrando que há concurso em andamento e haverá contratação de novos policiais para Minas.

Segundo o especialista em trânsito Silvestre Andrade, o valor da multa torna-se irrelevante se não houver fiscalização.
Para ele, cobrar mais caro dos infratores nunca vai resolver o problema dos abusos, mas vai amenizá-los. “As pessoas vão pensar duas vezes pelo risco, pois a multa é muito pesada para que for apanhado. Infelizmente, se a legislação resolvesse sozinha, muitos crimes não aconteceriam”..