A Polícia Militar de Minas vai adotar os mesmos recursos de tecnologia e logística usados durante a Copa do Mundo, para garantir a segurança nos dois jogos da final da Copa do Brasil, entre Atlético e Cruzeiro, em Belo Horizonte. Nos dias 12 e 26, os rivais entrarão em campo em uma decisão nacional inédita entre times mineiros, e a PM já se prepara para evitar atos de violência entre as torcidas, como o episódio do último clássico, em 21 de setembro, quando quatro atleticanos foram baleados por cruzeirenses a caminho do Mineirão. Incidentes ocorridos também no jogo da última quarta-feira no estádio da Pampulha já demonstraram que o policiamento terá trabalho. Um princípio de confronto envolvendo integrantes de torcidas organizadas do Cruzeiro e do Flamengo contra torcedores alvinegros no entorno do estádio, minutos antes do início do jogo, terminou com 87 detidos – 19 da cruzeirense Pavilhão Independente e o restante da Jovem Fla, do time carioca.
Diante dessas circunstâncias, de acordo com o comandante de Policiamento Especializado (CPE), coronel Ricardo Garcia Machado, o serviço de inteligência da sua unidade já começou a monitorar fatores que envolvem os dois clássicos, e a final do campeonato poderá ter o dobro de policiais em relação à disputa entre Atlético e Flamengo, quando foram mobilizados 900 militares dentro e fora do estádio, sem contar o policiamento de rotina. Além do aumento do efetivo, outras estratégias serão estabelecidas a partir do momento em que se definir se as partidas ocorrerão com torcida única ou mista.
O comandante informou que haverá reunião na Federação Mineira de Futebol, possivelmente hoje, entre PM, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, representantes da administração do Mineirão e dos dois clubes. Porém, segundo o coronel, os militares estão preparados para atuar em qualquer situação. “Não importa se os jogos forem na Pampulha ou no Horto, se for torcida única, com 10% para a visitante, ou meio a meio. Nossas estratégia será traçada conforme a demanda e o local.”
Segundo o oficial, o detalhamento das ações terá como base as apurações do serviço de inteligência.
A fiscalização na entrada do estádio será rigorosa, segundo o comandante do CPE. “A atividade de inteligência já está mobilizada para obter informações necessárias para monitorar torcedores mais exaltados e já conhecidos da PM, como aqueles que já foram presos alguma vez”, adiantou. Ricardo Machado disse que a PM sugeriu ao Ministério Público o afastamento de três torcidas organizadas dos jogos, a Pavilhão Independente e a Máfia Azul, do Cruzeiro, e a Galoucura, do Atlético, por atos de violência. “A medida vale para as próximas duas partidas. Os torcedores não poderão ir aos jogos identificados nem agir como torcida organizada”, disse o coronel.
O oficial considera que o Mineirão, pelas suas características e dimensão, exige uma atenção mais detalhada da PM. “Não falo que o Mineirão é mais trabalhoso, pois o Independência também exige um planejamento muito rígido e uma coordenação muito bem ordenada da PM. No Mineirão, há dois acessos e as torcidas vão por caminhos específicos”, disse. O coronel não vê dificuldade em trabalhar com as duas torcidas no mesmo estádio.
CONFRONTO Porém, no jogo entre Atlético e Flamengo essa divisão não foi 100% eficaz na tarefa de evitar conflitos. De acordo com o coronel Machado, a confusão entre torcedores ocorreu por volta das 21h30. Integrantes da Jovem Fla chegaram a BH em ônibus fretados e carros particulares, e foram recepcionados pelos cruzeirenses da Pavilhão Independente. “Os suspeitos alegaram que o motorista do ônibus em que eles estavam errou o caminho para o estádio e acabou parando na concentração da torcida do Atlético”, disse o coronel, acrescentando que o grupo chegou ao Mineirão sem escolta da PM.
Assim que o grupo que usava uniformes do Cruzeiro e Flamengo desembarcou na via tomada por atleticanos, começou a briga generalizada. De acordo com o coronel, tanto torcedores cruzeirenses quantos flamenguistas se armaram de pedaços de pau e pedras e partiram para cima dos militares. Com pedido de reforço, dezenas de viaturas cercaram o local onde as duas torcidas estavam e 87 envolvidos na confusão foram presos e levados em três microônibus para a Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan), com exceção de dois menores e de um jovem que se feriu e precisou de atendimento médico. Todos foram ouvidos e liberados. Cerca de 50 flamenguistas fretaram ônibus para retornar ao Rio e foram escoltados até a saída de BH pela Rotam. Em depoimento, os torcedores detidos alegaram terem sido vítimas da torcida atleticana, após errar o caminho, e negaram ter agredido os rivais e os militares.
MORTE O histórico de violência entre as torcidas de Cruzeiro e Atlético é antigo e já houve brigas que terminaram em morte. Em uma das mais violentas, em novembro de 2010, o cruzeirense Otávio Fernandes, de 19 anos, foi atingido por rivais com golpes de cavaletes de trânsito e não resistiu aos ferimentos. O crime ocorreu na Avenida Nossa Senhora do Carmo, próximo a um ginásio onde era realizada uma luta de vale-tudo. Outros dois homens, de 35 e 39 anos, ficaram feridos. .