Jornal Estado de Minas

Passageiros relatam pânico a bordo de avião que fez pouso forçado em Confins

Fogo na turbina da aeronave da American Airlines fez comandante retornar para o aeroporto na Grande BH menos de meia hora após decolagem

Valquiria Lopes
O avião foi rebocado de madrugada para o pátio 3 do aeroporto de Confins no qual são estacionadas as aeronaves em manutenção - Foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press

Uma viagem para ficar na memória. Os cerca de 25 minutos em que a aeronave do voo AA 992, da empresa aérea norte-americana American Airlines, se manteve no ar, na noite de anteontem, foram de medo para os 167 passageiros que partiram do Aeroporto de Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O avião decolou às 23h32, com destino a Miami (EUA). Mas, cinco minutos depois os viajantes sentados nas poltronas do lado esquerdo, na parte de trás da aeronave, ouviram um estrondo e viram um clarão no ar, partindo da turbina. Por causa do problema, classificado pela empresa como uma “necessidade de manutenção”, o piloto abortou o voo e retornou ao terminal. Apesar do aviso da tripulação no alto-falante de que a situação era normal, passageiros disseram que os minutos seguintes foram tensos e o pouso, complicado. Depois de enfrentar até seis horas no saguão do terminal para remarcar suas viagens, eles passaram o dia ontem em um hotel próximo a Confins.

A fotógrafa Vanessa Freire ia para casa, em Boston: "Tive medo de morrer" - Foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press
Ainda apreensivos com o incidente, os viajantes prometem entrar na Justiça contra a companhia pelo transtorno no voo e precariedade no atendimento em solo. “Foram momentos de pânico, porque a aeronave ainda estava em processo de subida e, de repente, o estrondo.
Foram os passageiros que avisaram aos comissários sobre o problema, repassado ao piloto. Era nítida a cara de preocupação dos tripulantes e ninguém explicava direito o que estava acontecendo. Tive muito medo de morrer”, contou a fotógrafa Vanessa Freire, de 33 anos. Belo-horizontina, ela viajava para Boston – onde mora há três anos – depois de uma viagem de férias no Brasil. Segundo ela, o clima foi de tensão. “Os passageiros olhavam uns para os outros com cara de medo. Outros rezavam para que aquele pesadelo terminasse. Passou um filme na minha cabeça. Achei que todos iríamos morrer”, afirmou Vanessa.

O policial Flavio Henrique viajava a passeio: "Fui um dos que viram o clarão" - Foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press
O anúncio de que o avião retornaria a Confins veio cerca de 10 minutos após a decolagem e foi feito pelo piloto. “Ele disse no alto-falante que iria dar mais duas voltas no ar e pousaria para verificar se o avião teria sofrido algum dano. Voamos por mais 20 minutos. Nesse intervalo, um dos comissários chegou a dizer que um pássaro havia se chocado com a turbina“, lembra o policial civil Flávio Henrique Lara, de 32, que viajava a Miami a passeio. Segundo ele, o momento em que mais teve medo foi na descida.
“Fui um dos que viram o clarão e, na hora, todos ao meu redor se olharam e fizeram cara de espanto. Com o aviso do comandante de que tudo estava bem, me tranquilizei. Mas na hora do pouso foi tenso”, disse Flávio. Segundo ele, foi grande o impacto da aeronave com o solo. Além disso, quase toda a extensão da pista foi usada até que o avião parasse por completo. “Foi nítido que o procedimento não foi normal. Parece que ele pousou usando a força de uma única turbina, porque vinha planando e, de repente, se chocou com o chão.” O policial contou ainda que, mesmo em solo, esperaram cerca de 50 minutos dentro do avião.

No momento do pouso, carros do Corpo de Bombeiros e ambulâncias já estavam posicionados na pista De acordo com a assessoria de imprensa da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), toda a estrutura do terminal entrou de prontidão para procedimento de emergência. Uma das passageiras do AA 992, a administradora de empresas Mariana Ribeiro, de 40, contou na tarde que ontem que ainda fazia orações em agradecimento por tudo ter terminado bem. “Tive muito medo. Uma experiência horrível.” Ela e o marido viajavam com o filho para Miami e tiveram que remarcar o voo para a noite.
“Ficamos horas de pé no saguão, numa fila quilométrica, com apenas três funcionários da American Airlines atendendo. Havia idosos e crianças sem ter lugar para sentar. Todo mundo se acomodou como pôde. Faltou suporte, orientação, esclarecimento e agilidade”, disse o marido de Mariana, o empresário Eduardo Cozac, de 52.

Entre os viajantes que prometeram entrar na Justiça está o ator Felipe Costa, de 31. O brasileiro vive em Los Angeles há oito anos e se disse decepcionado. “Embarcaram em um avião com problemas de manutenção e puseram nossas vidas em risco. Inadmissível. Poderíamos ter morrido. Além disso, as informações não eram claras. Não nos passaram o que realmente houve.”

A aeronave, tripulada por 12 funcionários, ficou durante todo o dia de ontem no pátio 3 do aeroporto, usado para manutenção de aviões, segundo um funcionário do canteiro de obras de uma construtora, ao lado do pátio. “Quando cheguei para trabalhar, o colega da noite contou que ela foi trazida às 3h30.”

Na nota em que a American Airlines informa que o voo AA 992 retornou ao aeroporto de origem por necessidade de manutenção, não há detalhes sobre o incidente. Segundo a empresa, o pouso ocorreu normalmente, às 23h56. Apesar disso, o registro da Infraero é de 23h59. Ainda segundo a nota, os passageiros receberam assistência e foram reacomodados no voo seguinte, programado para as 20h.

SAIBA MAIS

» Passageiros que se sintam prejudicados em seus direitos como consumidor podem entre em contato com a American Airlines pelo telefone 0300 789 77 78.
» Caso as tentativas de solução com a empresa não apresentarem resultado, podem procurar os órgãos de defesa do consumidor e/ou o Judiciário.
» Dúvidas, reclamações, denúncias, sugestões, críticas ou elogios podem ser feitos à Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) pelo telefone 0800 725 4445..