Construído em 1900, antes mesmo de a Igreja de São José abrir as portas, o oratório teve escondidas em suas paredes durante décadas as pinturas esboçadas pelo italiano Carlos Oswald (1882–1971) e executadas em 1932 pelos irmãos Goretti (Victorio, Giulio e Gino), também italianos e primos de Santa Maria Goretti, a jovem mártir canonizada pelo papa Pio XII em 1950. Sem poder pisar no templo por enquanto, padre Flávio aponta, na lateral, as insígnias e letra em latim do canto Te Deum: “Portanto, te pedimos, socorre os Teus servos que redimiste com sangue precioso”.
Os olhos atentos buscam cada detalhe das pinturas parietais, feitas diretamente sobre o reboco das paredes e grande moda em BH nas primeiras décadas do século 20. Algumas imitam lambris, os revestimentos de madeira, e outras copiam com perfeição cortinas de franjas e arremates rebuscados nas pontas.
Outro destaque, desta vez envolvendo alta tecnologia, está na sequência da via-crúcis, reproduzida digitalmente da existente na Igreja de Santo Afonso, no Rio de Janeiro, pintada por Carlos Oswald. “Foi uma técnica sofisticada, usando pigmentos minerais, e as gravuras foram postas diretamente sobre a tela e daí na parede. As originais não existiam mais, apenas resquícios, e achamos melhor tomar esta providência”, revela o vigário paroquial.
Abrindo um álbum, padre Flávio mostra um retrato dos anos 1930, muito útil para balizar a intervenção conduzida pela especialista Maria Regina Reis Ramos, do Grupo Oficina de Restauro. Em janeiro, Marrege – como é mais conhecida – fez as prospecções e encontrou as pinturas originais sob três camadas de tinta. No mês seguinte, começou o serviço. A restauradora também foi a responsável pela recuperação executada entre 2010 e 2013 do interior da igreja, a qual considera “a mais bonita da capital”, com pinturas parietais feitas pelo alemão Wilhelm Schumacher entre 1911 e 1912.
DESCOBERTAS Satisfeito com o resultado da intervenção, padre Flávio fala sobre as descobertas que empolgaram a equipe, entre elas a lâmpada do Santíssimo Sacramento. A peça ficou muito tempo esquecida no porão da igreja e recebeu um banho de níquel. “Olhando aqui da porta, ela parece nova, mas é muito antiga, certamente da época em que o convento foi erguido, há 114 anos”, afirma o redentorista, explicando que a lâmpada substituiu uma de metal pintada de branco e inadequada ao ambiente.
“Este é um patrimônio da Paróquia São José e também de Belo Horizonte.
FACHADA Ao mesmo tempo em que executam as obras no oratório, os padres conduzem a restauração da parte externa da igreja – ela terá de volta o desenho e as cores originais da fachada e laterais, conforme o projeto de Edgard Nascentes Coelho, de maio de 1901, quando Belo Horizonte ainda se chamava Cidade de Minas. Os recursos desta vez somam R$ 1,4 milhão e chegam de campanhas desenvolvidas na comunidade, como ocorreu durante a recuperação do interior do templo, que tem visita diária de cerca de 2 mil pessoas. Devido ao início da estação chuvosa, os serviços foram interrompidos, mas a campanha para terminar a fachada continua a todo vapor..