Onze meses depois de uma tentativa de assalto que terminou em morte, o medo volta a tomar conta de moradores do Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte. Num intervalo de apenas oito dias, houve pelo menos quatro episódios violentos, em que bandidos não apenas roubaram, mas machucaram suas vítimas. Algumas ocorrências resultaram até em perseguição de helicóptero e em acidente com viatura. Embora a Polícia Militar fale em diminuição da quantidade de crimes, quem vive, estuda ou trabalha no bairro diz que o clima é de insegurança.
A série de assaltos começou na segunda-feira da semana passada. Eram 21h30 quando o estudante A.M., de 20 anos, chegava a casa de carro. Como sempre, olhou para os lados, mas foi surpreendido por três bandidos que estavam escondidos atrás de um veículo. Com a arma no vidro, um deles gritou para abrir a porta. A.M. passou para o banco do carona e outros dois assaltantes, aparentemente menores de idade, sentaram no banco de trás e o deixaram sob a mira de revólver e faca.
O carro já estava na saída do bairro, na direção do Anel Rodoviário, quando o estudante implorou para o deixarem ali. Além do carro, os bandidos levaram telefone celular, documentos e ingressos para a primeira partida da final da Copa do Brasil. “O mais exaltado deles queria me matar, mas o mais velho do trio, que estava na direção, ponderou que daria problema. Quando desci, ele saiu do carro e, naquele momento, pensei que levaria um tiro nas costas”, conta. Depois do crime, A. só pensa em se mudar para um condomínio na região metropolitana: “Moro há 10 anos no Buritis e agora torço para sair do bairro”.
No domingo, por volta das 22h, uma jovem de 24 anos chegava em casa e foi agredida por uma dupla de assaltantes. Ela levou um tapa e um soco no peito, foi jogada numa cerca e teve roubados relógio e celular. A dupla fugiu num carro. Terça-feira, uma mulher de 42 anos andava pela Rua Alberto Pontes, perto das 20h, quando foi abordada por um homem que sacou uma réplica de revólver. Ele deu uma coronhada na cabeça dela, roubou a bolsa e fugiu em direção à Avenida Mário Werneck. A polícia conseguiu recuperar os pertences e prender o suspeito. No mesmo dia, uma viatura capotou depois que bandidos perseguidos por roubo de carro jogaram o veículo na direção dos policiais. Quatro militares se feriram.
REFORÇO À NOITE Comandante do 5º Batalhão, o tenente-coronel Ronilson Edelvan afirma que os crimes violentos tem diminuído. Segundo ele, na comparação deste mês com o mesmo período do ano passado, houve redução de 15%. Ele atribui as ocorrências no Buritis ao movimento do bairro, que acolhe duas universidades e, portanto, grande fluxo de pedestres e motoristas à noite. Para combater o crime, o policiamento é reforçado das 19h30 às 23h. “Em relação a outras regiões, o Buritis não é o bairro mais complicado”, avalia. Por sua vez, o diretor de comunicação da Associação de Moradores do Bairro Buritis, Paulo Gomide, defende mudanças para diminuir a impunidade. “Enquanto bandidos estiverem soltos, não teremos sossego. É raro ver estreantes no crime nesses casos.”
Morte em assalto: menor apreendido
Um caso emblemático de violência no Buritis foi a morte do funcionário da Câmara Municipal Christiano Costa, de 34 anos, baleado duas vezes na cabeça em tentativa de assalto, em janeiro. Ele saía de academia na Rua Senador Lima Guimarães, quando foi abordado por um adolescente. O menor foi apreendido um mês depois para cumprimento de medida socioeducativa.