Jornal Estado de Minas

Tumulto entre PMs e moradores de aglomerado termina com um morto no Calafate

Confusão aconteceu depois que grupo tentou impedir a apreensão de um adolescente de 15 anos. Moradores alegam que o garoto é inocente

Cristiane Silva Junia Oliveira
Veículo ainda estava na Via Expressa na manhã deste domingo, aguardando reboque - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press

Uma confusão envolvendo moradores de um aglomerado no Bairro Calafate, Região Oeste de Belo Horizonte, e policiais militares terminou com um morto no fim da noite de sábado.
O tumulto aconteceu durante uma abordagem a um suspeito de tráfico de drogas.

Segundo a Polícia Militar uma equipe estava no Beco Biguatinga, que fica no Aglomerado Bimbarra. O local é conhecido como ponto de venda de drogas. A equipe se dividiu nos dois extremos do beco e um dos policiais abordou um adolescente de 15 anos, que estava com oito pinos de cocaína. O policial apreendeu o menor e chamou os outros colegas. Enquanto aguardava o reforço, ele foi abordado pelo pai do adolescente e outros três homens, que tentaram impedir a apreensão.

O homem tentou tomar o filho e os outros homens agrediram o policial com socos e chutes.
Enquanto o restante da equipe se deslocava, cinco homens passaram por eles correndo e também foram abordados. Durante a ocorrência, um grupo de 50 pessoas foi para o local e hostilizou a ação, agredindo os outros policiais.

O adolescente conseguiu escapar durante a confusão generalizada. Ainda de acordo com a polícia, um jovem de 23 anos entrou em luta corporal com um PM e tentou tomar sua arma, momento em que houve um disparo. O rapaz identificado como Alexandro de Souza foi atingido na cabeça. Ele chegou a ser socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Oeste, mas não resistiu.

Segundo os bombeiros, foram gastos 3 mil litros de água para combater o fogo - Foto: Divulgação/PM

A confusão continuou e a viatura dos policiais foi danificada a pedradas. Os policiais chegaram a usar balas de borracha e uma bomba de efeito moral para conter os moradores. Ninguém foi atingido.

Ainda no tumulto, moradores se revoltaram e incendiaram um ônibus na Via Expressa. Segundo os bombeiros, foram gastos 3 mil litros de água para combater o fogo. O veículo foi completamente destruído, impossibilitando a identificação da linha.

Os policiais e o pai do adolescente abordado foram atendidos em hospitais e liberados. A arma de onde teria partido o disparo foi recolhida.
De acordo com a Polícia Civil, o pai do adolescente foi autuado por resistência e depredação ao patrimônio público na Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan 2). Ele foi levado para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) Gameleira. A investigação ficará a cargo da 2ª Delegacia de Polícia Civil Sul, que deve receber a ocorrência na segunda-feira. No início da tarde, o corpo de Alexandro ainda estava no Instituto Médico Legal (IML) enquanto a família providenciava documentos para a liberação.

Versões divergem


A reportagem do EM esteve no aglomerado na manhã deste domingo e os moradores apresentaram uma versão diferente da que consta no boletim de ocorrência da Polícia Militar. Segundo eles, o adolescente de 15 anos tem problemas mentais e não estava com drogas quando foi abordado. Ao ver o garoto detido, o pai foi até os policiais e o retirou da abordagem. Enquanto levava o filho pela rua, os dois teriam sido agredidos pelos PMs. Um grupo de pessoas que estava na calçada viu a situação e correu até eles, questionando o que estava acontecendo.

Ainda de acordo com os moradores, Alexandro Souza, que é filho de um líder comunitário, estava mais à frente e teria caído ao ser golpeado por um policial.
Ao levantar, ele foi atingido por um tiro. O jovem teria morrido antes de ser levado à UPA Oeste. Ainda na versão dos moradores, durante a confusão, o adolescente que foi abordado não fugiu. Ele também foi atingido com um disparo na virilha, sendo socorrido para o Hospital Odilon Behrens. (Com informações de Junia Oliveira).