Mais um ônibus foi incendiado por moradores em represália a uma ação da Polícia Militar que terminou com um morto na noite de sábado em um aglomerado no Bairro Calafate, Região Oeste de Belo Horizonte. Segundo o Corpo de Bombeiros, o incêndio no coletivo começou por volta das 12h40 na Avenida Tereza Cristina, sentido Centro, e já foi controlado. O fogo atingiu a rede elétrica e a Cemig precisou ser acionada para fazer o reparo.
O clima é tenso no local desde a noite passada. As versões da polícia e dos moradores divergem. De acordo com a PM, consta no boletim de ocorrência que uma equipe fazia uma incursão no Beco Biguatinga, que fica no Aglomerado Bimbarra. O beco é conhecido como ponto de venda de drogas.
A equipe se dividiu nos dois extremos do beco e um dos policiais abordou um adolescente de 15 anos, que estava com oito pinos de cocaína. O policial apreendeu o menor e chamou os outros colegas. Enquanto aguardava o reforço, ele foi abordado pelo pai do adolescente e outros três homens, que tentaram impedir a apreensão. O homem tentou tomar o filho e os outros homens agrediram o policial com socos e chutes. Durante a ocorrência, um grupo de 50 pessoas foi para o local e hostilizou a ação, agredindo os outros policiais.
O adolescente conseguiu escapar durante a confusão generalizada. Ainda de acordo com a polícia, um jovem de 23 anos entrou em luta corporal com um PM e tentou tomar sua arma, momento em que houve um disparo. O rapaz identificado como Alexandro de Souza foi atingido na cabeça. Ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Oeste, mas não resistiu.
A confusão continuou e a viatura dos policiais foi danificada a pedradas. Os policiais chegaram a usar balas de borracha e uma bomba de efeito moral para conter os moradores. Ninguém foi atingido. Ainda no tumulto, moradores se revoltaram e incendiaram um ônibus na Via Expressa. Segundo os bombeiros, foram gastos 3 mil litros de água para combater o fogo. O veículo foi completamente destruído, impossibilitando a identificação da linha.
Os policiais e o pai do adolescente abordado foram atendidos em hospitais e liberados. A arma de onde teria partido o disparo foi recolhida. De acordo com a Polícia Civil, o pai do adolescente foi autuado por resistência e depredação ao patrimônio público na Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan 2). Ele foi levado para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) Gameleira. A investigação ficará a cargo da 2ª Delegacia de Polícia Civil Sul, que deve receber a ocorrência na segunda-feira. No início da tarde, o corpo de Alexandro ainda estava no Instituto Médico Legal (IML) enquanto a família providenciava documentos para a liberação.
MORADORES A reportagem do EM esteve no aglomerado na manhã deste domingo e os moradores apresentaram uma versão diferente da que consta no boletim de ocorrência da Polícia Militar. Segundo eles, o adolescente de 15 anos tem problemas mentais e não estava com drogas quando foi abordado. Ao ver o garoto detido, o pai foi até os policiais e o retirou da abordagem. Enquanto levava o filho pela rua, os dois teriam sido agredidos pelos PMs. Um grupo de pessoas que estava na calçada viu a situação e correu até eles, questionando o que estava acontecendo.
Ainda de acordo com os moradores, Alexandro Souza, que é filho de um líder comunitário, estava mais à frente e teria caído ao ser golpeado por um policial. Ao levantar, ele foi atingido por um tiro. O jovem teria morrido antes de ser levado à UPA Oeste. Ainda na versão dos moradores, durante a confusão, o adolescente que foi abordado não fugiu. Ele também foi atingido com um disparo na virilha, sendo socorrido para o Hospital Odilon Behrens. (Com informações de Junia Oliveira)