Dinheiro público que vai para o ralo. O gasto com a manutenção de equipamentos urbanos depredados é uma conta que não acaba em Belo Horizonte, mesmo com a vigilância da prefeitura. Placas de sinalização, semáforos, abrigos de pontos de ônibus, radares e lixeiras são alvos preferenciais de vândalos. No ano passado, cerca de R$ 4,2 milhões foram gastos pela administração municipal para substituir ou recuperar bens, incluindo os danificados por acidentes com veículos ou que precisam de manutenção. Até junho deste ano, a conta chegou a R$ 2,1 milhões.
Reportagem do Estado de Minas flagrou um ataque ao patrimônio público na quarta-feira, quando três adolescentes depredaram uma bicicleta de uso compartilhado do serviço Bike BH no cruzamento da Rua Alagoas com a Avenida Afonso Pena. Apesar do local movimentado, o mais novo dos três menores, que segurava uma garrafa pet com tíner, destruía o guidão e o banco da bicicleta.
Basta uma volta pela capital para constatar a depredação. Em pontos de embarque e desembarque de ônibus são frequentes os casos de abrigos quebrados ou pichados.
“É muito ruim encontrar um abrigo danificado, porque ficamos expostos ao sol e à chuva enquanto aguardamos o ônibus, o que é muito desconfortável”, reclamou o conferente de mercadoria Ademias Vieira da Silva, enquanto esperava o coletivo em um ponto no Anel Rodoviário, no Bairro São Francisco. O abrigo está com o teto quebrado e só tem banco em um lado. Sem a proteção para o sol forte, a auxiliar de produção Naiara Aline Gonçalves, de 26, usava uma sombrinha no mesmo ponto. “E ainda somos nós, cidadãos, que pagamos a conta”, protestou.
Lixo
“É por isso que tem tanto lixo espalhado pela cidade. Além de poucas lixeiras, as que existem são alvo de pessoas rebeldes, que não se preocupam com os outros”, diz o instalador de portas Amauri Dias Teixeira, de 29, em um ponto de ônibus da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Sagrada Família, na Região Leste.
A lista de equipamentos depredados inclui ainda 23 semáforos em 2013, média de 1,9 por mês. Apenas no primeiro semestre deste ano foram 27 equipamentos, média de 4,5 por mês. O gasto, que no ano passado chegou a R$ 32,8 mil, já passou de R$ 25,8 mil somente no primeiro semestre de 2014. A conta com radares depredados também é alta.
Palavra de especialista
Jurema Rugani,
arquiteta e urbanista
Sem vigilância e consciência
“O vandalismo repercute mal em todo o mundo, já que a cidade é um bem para todos, para o uso comum. Danificar um equipamento de uso da coletividade é ir contra esse princípio. Quem pratica vandalismo não se sente pertencente à cidade. Talvez até haja um distanciamento de fato, porque parte da população pode não ter acesso a esses sistemas, geralmente instalados em áreas de maior poder aquisitivo e menos periféricas. Mas faltam consciência coletiva da população e vigilância da administração pública. Essas ações quase sempre ocorrem à noite, quando a cidade está desguarnecida. Por isso, fica o questionamento: quem toma conta da cidade?”.
.