Jornal Estado de Minas

Estudante de direito integrante de grupo que fraudava Enem é detido em Montes Claros

Foi preso nessa terça-feira à tarde, em Montes Claros, na Norte de Minas o estudante de direito Vanil Vasconcelos Costa Junior, de 21 anos, suspeito de integrar a quadrilha que burlava o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares de medicina, vendendo gabaritos para candidatos. Ele é estagiário do Ministério Público Estadual, um dos órgãos envolvidos na operação que desmontou o esquema fraudulento, em parceria com a Polícia Civil. Vanil atuava no esquema como “piloto” – um dos responsáveis por fazer as provas e repassar as questões e respostas para outros integrantes da quadrilha.



Como estagiário do MP, estava lotado na Promotoria Pública Especializada de Bacias Hidrográficas em Montes Claros, onde foi detido por policiais civis de BH integrantes da Operação Hemostase II. Mas, não há relação entre o trabalho dele no MP e o esquema fraudulento. De acordo com as investigações, o estudante passou a participar das fraudes a partir da ligação com um médico, que também mora na cidade do Norte de Minas e foi preso domingo, na capital.

Conforme a Polícia Civil, neste ano Vanil fez exame de seleção em uma faculdade de medicina de Fortaleza (CE) e na Universidade de Brasília (UnB). O estudante fez também o Enem (para a área de ciências humanas) em Pontes e Lacerda (MS), onde a organização criminosa montou uma base.

Vanil teve prisão temporária decretada por cinco dias. Antes de ser levado para o Presídio Regional de Montes Claros, ele prestou depoimento na Delegacia de Plantão, no Centro da cidade. O advogado do universitário, Virgílio Mota, alega que seu cliente fez as provas em “atendimento a um amigo” e nega vínculo com a quadrilha. Não foi revelado quanto Vanil teria recebido para agir como piloto no esquema.



INVESTIGAÇÃO Um dos objetivos da Polícia Civil e do MP na sequência da Operação Hemostase II é obter mais detalhes sobre a participação de um policial civil no esquema. Daniel Silva Santa Clara, de 37, é investigador há cerca de quatro anos e está de licença médica. Lotado na Delegacia de Tarumirim, no Vale do Rio Doce, ele responde a pelo menos um processo administrativo na corregedoria da corporação, acusado de furto dentro da cadeia pública da cidade.

Fontes ligadas à Operação Hemostase II afirmam que o policial civil apareceu para os investigadores apenas no último domingo, em BH. Na ocasião, a Polícia Civil montou uma campana dentro e fora de uma universidade, no Bairro Buritis, Oeste da capital, onde foram aplicadas provas para a Faculdade de Ciências Médicas de BH. O trabalho terminou com a condução de 33 pessoas à delegacia, 11 das quais ficaram presas, incluindo Daniel.

Dos 22 liberados, todos candidatos a uma vaga de medicina na Ciências Médicas, a maioria foi apanhada com pontos eletrônicos e vai responder por fraude em certames de interesse público. “O policial civil atuava como olheiro do grupo. Ele ficava ligado na movimentação da polícia para alertar a quadrilha”, diz uma fonte do inquérito.

O delegado Antônio Dutra, responsável pelo inquérito, confirma que Daniel estava dentro de um veículo apreendido com um dos cabeças do grupo, mas não quis dar detalhes. “Ainda vamos apurar a conduta do policial.” O advogado Renaldo Dias da Silva representa Daniel em um processo que tramita na Justiça, relativo ao furto de um aparelho de som em um carro na cadeia de Tarumirim. O defensor diz que o representou em outro caso, de um furto dentro da delegacia da cidade, procedimento no qual Daniel foi inocentado pela Justiça, segundo o advogado.