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Estado de Minas

Perto do Natal, médicos alertam que pais devem seguir regras de segurança dos brinquedos

De janeiro a outubro, mais de 2 mil crianças foram atendidas no João XXIII após terem engolido objetos pequenos.


postado em 01/12/2014 06:00 / atualizado em 01/12/2014 07:57

Comércio oferece uma infinidade de opções de brinquedos, mas pais devem optar por aqueles que não têm peças pequenas, com selo do Inmetro e de acordo com a indicação (foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
Comércio oferece uma infinidade de opções de brinquedos, mas pais devem optar por aqueles que não têm peças pequenas, com selo do Inmetro e de acordo com a indicação (foto: Euler Júnior/EM/DA Press)


Gabriela tem 5 anos e já foi parar duas vezes no hospital por colocar pequenos objetos no nariz. Sustos que fizeram sua mãe, Valquíria Campos Ribeiro Castro, de 37, engenheira eletricista, ficar ainda mais atenta. Dos 5.563 acidentes envolvendo corpo estranho no organismo atendidos pelo Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII de janeiro a outubro deste ano, mais de 2 mil foram com crianças de 0 a 12 anos, sendo a maioria relacionada a peças de brinquedos, pilhas, baterias, moedas, broches e outros objetivos pequenos. Com a chegada do Natal, aumenta o alerta para o problema. Recentemente, uma bebê, que completaria 10 meses na sexta-feira, morreu em Curitiba (PR) após engolir uma presilha de cabelo. O objeto foi parar no esôfago e ela ficou 10 dias internada, mas não resistiu às complicações.


Depois dos sustos que Gabriela deu, Valquíria tomou algumas providências. Ela parou de comprar brinquedos pequenos e sempre vigia a filha quando está se divertindo. “Na primeira vez, ela tinha 2 anos e introduziu um coração que acompanhava um calçado infantil. A sorte é que não desceu para o pulmão e ficou agarrado no nariz. Na segunda vez, ela tinha 3 anos e meio e colocou uma bolinha de sílica que veio numa caixa de produto eletrônico”, conta a mãe.

Valquíria conta que os médicos tiveram dificuldade de retirar a bola de sílica do nariz da filha. “O objeto era muito escorregadio e eles não conseguiram retirar com a pinça. Foi preciso expandir o nariz da minha filha no bloco cirúrgico e houve sangramento. Foi bem difícil”, conta a engenheira. Hoje, diz conversar muito com a filha e fica monitorando ela brincar o tempo todo. Segundo Valquíria, a menina costuma ganhar de presente bonecas com sapatinhos e roupas minúsculas, mas agora guarda tudo para a criança brincar somente quando crescer mais um pouco.

Médicos do HPS alertam que os pais não devem considerar apenas o fator preço ou a escolha da criança no momento de comprar o presente de Natal. A segurança oferecida pelo brinquedo é imprescindível, segundo eles, e os riscos com a ingestão de objetos são muitos.

Pediatra e coordenador de emergência do HPS, Sílvio Grandinetti conta que o procedimento mais urgente no hospital é a retirada de baterias engolidas por crianças. “A bateria é corrosiva e provoca lesões no esôfago, que podem ser graves”, disse. Segundo ele, já houve casos de crianças que ganharam dos pais celulares de brinquedo e conseguiram retirar e engolir a bateria, mesmo ela estando em um compartimento parafusado.

FAIXA ETÁRIA Grandinetti recomenda a compra de brinquedos de acordo com a idade da criança, lembrando que deve cumprir as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e ter a faixa etária indicativa. “Devem, ainda, tomar cuidado com brinquedos baratos que não seguem a norma técnica”, disse o médico. Segundo ele, os acidentes aumentam depois do Natal com a distribuição de brinquedos. “A maior preocupação nossa são os produtos importados que não seguem as normas técnicas”, disse. Para crianças pequenas, que colocam tudo na boca, a orientação do médico é que o brinquedo tem que ser grande o suficiente para não passar pela boca. “O brinquedo não deve soltar peças e não deve ser tóxico ou inflamável”, disse.

Brinquedos devem ser arredondados, não devem ter quinas, pontas afiadas e nem fazer muito barulho. Ruídos acima de 100 decibéis podem prejudicar a audição da criança. Correntes, tiras e cordas com mais de 15 centímetros também devem ser evitadas. Os acidentes são mais comuns a partir dos 3 anos de idade, segundo o HPS. A coordenadora da pediatria do hospital, Eliane de Souza, aconselha os pais e outros responsáveis pelas crianças a nunca tentarem remover o objeto. As crianças devem ser levadas imediatamente ao hospital, segundo ela, principalmente quando o objeto for colocado no nariz, pois pode sufocá-las.

As pilhas e baterias ingeridas pelas crianças, quando alojadas no esôfago, podem romper num período de 4 horas e provocar a morte da criança. Se aspirados, esses objetos passam pela laringe, traqueia e brônquios e podem atingir os pulmões. As baterias maiores podem obstruir a traqueia e provocar insuficiência respiratória.

PAIS EM ALERTA

Veja algumas dicas para diminuir os riscos

  • Se o brinquedo for a pilha, dê preferência aos que tiverem o compartimento parafusado
  • Não compre brinquedos incompatíveis com a idade da criança
  • Quando houver diferença de faixa etária entre as crianças, tenha o cuidado de guardar os brinquedos separadamente
  • Para as crianças menores de 6 anos, evite brinquedos que tenham peças pequenas
  • O adulto deve abrir a embalagem e ler as instruções, ensinando a criança como usar adequadamente o brinquedo
  • Ao abrir o brinquedo, jogue fora todos os embrulhos plásticos
  • Brinquedos que imitam alimentos podem confundir a criança e ela pode tentar comê-lo
  • É fundamental que, para aumentar a segurança da criança, ela esteja acompanhada da supervisão de um adulto enquanto brinca
  • Jamais levar para casa brinquedos que não tenham o selo do Inmetro
  • Observe os materiais que compõem os brinquedos e se não são tóxicos
  • Evite brinquedos com vidro para menores de 5 anos
  • Evite artigos elétricos, que são ligados em tomadas, com elementos de aquecimento, pilhas e baterias para crianças com menos de 8 anos
  • Deixe sempre o chão livre de objetos pequenos como botões, bolas de gude, moedas e tachinhas
  • Se a criança engolir algum objeto, procure imediatamente atendimento médico de emergência


Fontes: HPS João XXIII e Inmetro


MORTES NO BRASIL No Dia Nacional de Prevenção de Acidentes com Crianças e Adolescentes deste ano, em agosto, a Rede Primeira Infância e a ONG Criança Segura divulgaram dados do Datasus que indicam os acidentes como a primeira principal causa de morte com crianças a partir de 1 ano no Brasil. Eles foram responsáveis por 3.142 mortes e mais de 75 mil hospitalizações de meninos e meninas nessa idade em 2012 no país. Os acidentes de trânsito, que incluem atropelamentos e atingem passageiros de veículos, motos e bicicletas, representaram 33% das mortes, seguidos de afogamento (23%), sufocamento (23%), queimaduras (7%) e quedas (6%). “Existem políticas públicas que podem ser estabelecidas para prevenção, uso de produtos mais seguros e treinamento em primeiros socorros, por exemplo, mas é uma situação que só pode ser revertida com cada um, adequando os ambientes das casas, usando a cadeirinha no carro, brincando em espaços seguros”, destacou a coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Alessandra Françoia. “São atitudes simples, mas que precisam fazer parte do dia a dia.” De acordo com o governo brasileiro, cerca de R$ 70 milhões são gastos na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) com o atendimento de crianças que sofreram acidentes.

Inmetro recomenda que faixa etária descrita na embalagem seja seguida pelos pais e está revendo as normas válidas no país(foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
Inmetro recomenda que faixa etária descrita na embalagem seja seguida pelos pais e está revendo as normas válidas no país (foto: Euler Júnior/EM/DA Press)


Proposta de novas normas

Nas lojas do Centro de Belo Horizonte, muitos brinquedos são vendidos sem as recomendações do Inmetro. Alguns não têm a indicação da faixa etária a que estão destinados, possuem ímãs e peças imantadas, o que é proibido. “Brinquedos destinados a crianças menores de 36 meses não podem conter bolinhas, bolinhas removíveis ou ímãs. Brinquedos destinados a crianças a partir de 37 meses que tiverem as bolas devem conter uma advertência sobre seu uso”, diz a regulamentação brasileira.

A fabricação e a importação de brinquedos ganharão regras mais rígidas a partir de 2015. O Inmetro publicou portaria propondo novos requisitos de avaliação para certificação compulsória de cerca de 120 brinquedos. É uma consulta pública, que estará disponível até 6 de janeiro. Uma das propostas é avaliar a presença de formamida em produtos feitos de EVA (espuma presente em tapetes e jogos, por exemplo) e fazer ensaios de mordida e fervura em brinquedos da primeira idade. Uma nova classificação de faixa etária sendo proposta para diversos brinquedos.

O chefe da Divisão de Regulamentação Técnica e Programas de Avaliação da Conformidade do Inmetro, Leonardo Rocha, disse que o órgão está atento às inovações que acontecem na indústria e na regulamentação em outros países, além de monitorar os acidentes de consumo. “Estamos propondo melhorias para tornar o regulamento para brinquedos, vigente desde 1992, ainda mais seguro”, disse.

A partir da data de publicação da portaria definitiva, fabricantes e importadores terão 18 meses para se adequar à nova regulamentação e mais seis meses para deixar de comercializar produtos fora dos padrões. “O varejo terá 48 meses, a contar da publicação da portaria, para escoar o estoque e somente comercializar produtos em conformidade”, informou o Inmetro.

A população pode participarda consulta pública mandando sugestões e relatos pelo e-mail dipac.consultapublica@inmetro.gov.br, além do site do Inmetro, ou via carta para a Rua da Estrela, 67, 2º andar – Rio Comprido – CEP 20251-900 – Rio de Janeiro, RJ, A/C da Divisão de Regulamentação Técnica e Programas de Avaliação da Conformidade (Dipac).


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