Jornal Estado de Minas

Polícia vai indiciar 28 integrantes de quadrilha que fraudou vestibular em BH e Enem

O inquérito que investiga o grupo deve ser remetido à Justiça ainda nesta terça-feira ou na quarta-feira

João Henrique do Vale
Onze integrantes da quadrilha seguem presos em Minas Gerais - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press

O inquérito que investiga uma quadrilha responsável por fraudar vestibulares de medicina e o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) deve ser remetido à Justiça ainda nesta terça-feira ou na quarta-feira. A equipe do Grupo de Combate a Organizações Criminosas da Polícia Civil indiciou 28 pessoas pelos crimes. Entre eles estão integrantes do grupo e também candidatos que solicitaram e usaram os serviços ilícitos. As investigações vão continuar para identificar outros membros da facção. A Polícia Federal (PF) vai receber partes dos documentos referentes ao Enem e deve abrir uma apuração paralela.

A quadrilha foi presa durante a Operação Hemostáse II, em 23 de novembro, durante o vestibular da Faculdade de Ciências Médicas, em Belo Horizonte. Ao todo, 33 pessoas, entre candidatos e integrantes do grupo foram detidas. As investigações apontaram que o grupo atuava em processos seletivos de todo Brasil, mais ativamente em Minas Gerais, São Paulo e cidades do Sul do país.
Também foi comprovado que eles fraudaram a edição deste ano do Enem, e indícios de crime em duas edições anteriores do exame.

O delegado Antônio Júnio Dutra Prado, responsável pelo caso, concluiu o inquérito nesta terça-feira. “Vamos encaminhar à Justiça ainda hoje ou no mais tardar amanhã. Vamos indiciar 28 pessoas neste inquérito, entre integrantes do grupo e candidatos envolvidos na fraude”, explica. Segundo ele, o processo teve de ser encerrado rapidamente por causa do prazo estipulado pela Justiça. “Tivemos que concluir parcialmente por causa das pessoas que estão presas, quando é assim o prazo é de dez dias. Mas, agora, vamos abrir outras investigações para identificar e incluir outras pessoas no processo”, afirma.

Das pessoas indiciadas, 11 continuam presas, entre elas, um dos líderes do bando Áureo Moura, que mora em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. Em depoimento ele afirmou que somente ele ganharia R$ 3 milhões livres até janeiro. O homem e os outros integrantes da quadrilha vão responder por formação de organização criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento público, fraude em certame de interesse público e lavagem de dinheiro. Um jovem preso em Montes Claros, na Região Norte, pertencente do grupo, conseguiu habeas corpus e continua solto. Já os candidatos, vão responder por fraude em certame de interesse público.

PF deve investigar Enem

De acordo com as investigações, a organização criminosa teve acesso aos quatro cadernos de provas do Enem deste ano 10 minutos antes do horário de início do exame, em uma escola do Mato Grosso.
Duas pessoas que entregaram o material já foram identificadas. Há indícios também de que pelo menos duas edições anteriores da prova tenham sido burladas pelo esquema, que já teria colocado centenas de pessoas na universidade.

“Vamos abrir outros inquéritos para apurar a participação de outras pessoas e identificar integrantes da quadrilha. Também vamos enviar parte do inquérito para a PF referentes ao Enem, em razão da competência. Provavelmente, eles vão fazer uma investigação paralela para falar sobre o exame”, comenta o delegado.

A quadrilha usava tecnologia avançada para passar as respostas para os candidatos. No Enem, o gabarito foi passado por meio de um sofisticado sistema composto por cartão de telefonia GSM e ponto eletrônico. O equipamento, que imita um cartão de crédito, é na verdade uma espécie de telefone celular, com meio centímetro de espessura e entrada para cabo, que pode ser guardado na carteira ou mesmo na embalagem lacrada fornecida pelos aplicadores como porta-objetos. As investigações registraram transmissões partindo do Mato Grosso para Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Espírito Santo.

Já nos vestibulares de faculdades particulares de medicina, a logística era diferente, com transmissão feita por circuito de frequência de rádio.
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