Belo Horizonte não dispõe de nenhuma entidade especializada em acolher gestantes usuárias de álcool e drogas, como o crack, desde que a Casa de Atendimento a Grávidas, no Bairro da Gameleira, restringiu o atendimento a mães adolescentes e seus bebês, em 2011.
Enquanto isso, diante das denúncias publicadas nos últimos dias em relação aos 158 ‘órfãos do crack’, que lotaram quatro abrigos em BH de janeiro a outubro, a cidade recebeu ontem a visita emergencial de representantes da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, que desembarcaram direto de Brasília para checar as denúncias de afastamento compulsório dos bebês e das mães com histórico do uso de crack já nas maternidades. Depois de se informar sobre a gravidade da situação, ficou decidida apenas a criação de um grupo de trabalho envolvendo os diversos interessados na questão para deliberar sobre possíveis medidas a serem tomadas, ainda sem data para se reunir.
“Independentemente do desfechar disso, até agora não vi uma única instituição se responsabilizar em relação às mães e aos bebês. Não há nada de concreto, só discursos emocionais. Fica parecendo que o Ministério Público (MP) é o algoz e que população de BH não está nem aí para o drama desses bebês”, desabafou a promotora de Justiça da Infância e da Juventude Maria de Lurdes Santa Gema. Ela, a colega Matilde Fazendeiro Patente e o promotor Celso Penna Fernandes Júnior estudam fazer uma intervenção pontual nas cenas de crack da capital mineira, verificando a presença de mães desnutridas consumindo pedras, enquanto carregam os filhos na barriga. “É uma contradição tratar dos casos só a partir do parto, permitindo que o bebê seja gerado com problemas”, critica o promotor.
Ao sair de uma reunião fechada com os promotores, os representantes de Brasília pediram a comprovação sobre o destino dos bebês do crack e sobre os trâmites de adoção. “A retirada compulsória dos bebês está julgando todas as mães como incompetentes. A lei pode ser geral, mas a aplicação precisa ser caso a caso”, disse Gracielly Delgado, consultora técnica da Coordenadoria Geral de Saúde de Adolescentes e Jovens do Ministério da Saúde. “Algo bom da recomendação do MP é que nunca se viu uma cidade tão mobilizada em torno de uma questão. Se existem falhas na rede de apoio, elas precisam ser superadas em conjunto”, afirmou.
Pampulha
Segundo a comissão de Brasília, já estava aprovada pela Prefeitura de BH a criação de uma casa de apoio para mães, gestantes e bebês cuja execução, entretanto, foi barrada pelos próprios promotores da Infância e da Juventude. A reportagem do Estado de Minas apurou que o MP considerou inadequada a estrutura da entidade, que seria instalada na chamada Casa do Prefeito, na Região da Pampulha. Além de ser distante de hospitais e de maternidades, o endereço foi vetado pelo MP por ser bastante conhecido pela maioria dos moradores, o que prejudicaria o necessário anonimato do serviço a ser oferecido.
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