A Polícia Civil informa já ter identificado quem é o “piloto” que foi recrutado para fazer o exame e repassar as questões, mas a identidade dele é mantida em sigilo, para não atrapalhar as investigações. O falso candidato que forneceu as respostas da prova é um estudante do curso de medicina, que foi aprovado no vestibular com notas altas, o que teria despertado o interesse da quadrilha. Os investigadores chegaram ao nome do universitário por meio do número do celular dele, que ficou registrado nos aparelhos apreendidos com sete candidatos detidos. Resta agora identificar os responsáveis pela fraude, que cobram entre R$ 50 mil e R$ 200 mil para fornecer gabaritos de cursos de medicina.
No esquema descoberto na Universidade de Uberaba, o delegado Luiz Tortamano, da 3ª Delegacia da Polícia Civil da cidade, disse ter recebido informações, na quinta-feira, não apenas sobre o esquema de vazamento do gabarito, mas também sobre as pessoas que teriam pagado pelas respostas e as salas em que prestariam o exame.
“Na denúncia, foi informado que o gabarito seria enviado via SMS, às 18h de sábado, para celulares dos candidatos. Exatamente no horário, os sete suspeitos que estavam sendo monitorados pediram para ir ao banheiro”, contou Tortamano. Segundo ele, os suspeitos haviam escondido os aparelhos e foram surpreendidos enquanto faziam a consulta. “Houve muita choradeira, mas a maioria confessou ter negociado o gabarito para conseguir passar no processo seletivo”, disse o delegado.
Detidos
A professora Marilene Ribeiro explicou que a Uniube toma uma série de cuidados para evitar fraudes, entre eles a instalação de detectores de metais, para tentar impedir a entrada de celulares. “A gente se cerca de todos os cuidados, pois sabemos que essas fraudes vêm ocorrendo em todo o Brasil e não é de agora, principalmente nos vestibulares de medicina, que são bem concorridos”, afirmou Marilene. Para o processo seletivo do curso de medicina da Uniube, foram inscritos 2 mil candidatos. Os vestibulandos concorreram a 50 cadeiras, com média de 45 inscritos por vaga.
A receita do golpe
Como funcionava o novo esquema estourado pela polícia para venda de gabaritos para faculdades de medicina
A quadrilha
- Especializada em fraudar vestibulares de medicina, a quadrilha procura cursinhos para o público de classe média alta, oferecendo aos alunos uma vaga em universidades
- O valor cobrado pelo gabarito das provas varia entre R$ 50 mil e R$ 200 mil, de acordo com a instituição, privada ou pública
- O interessado tem que pagar um sinal de 20% da quantia negociada. O restante é pago após aprovação
- A prova é feita por um piloto, normalmente um estudante de medicina, aprovado com nota alta no vestibular.
A fraude
- O piloto se inscreve para o processo seletivo na mesma universidade dos candidatos que pagaram pelo gabarito
- O integrante do esquema faz a prova e deixa a sala de aula uma hora antes do prazo final
- De fora do câmpus, as respostas são enviadas via SMS (mensagem de texto) para celulares de candidatos, previamente escondidos nos banheiros de locais de prova
- Faltando pouco para o fim do exame, os candidatos que contrataram o golpe pedem para ir ao banheiro e seguem para o box onde deixaram os celulares, para consultar o gabarito
- Os candidatos retornam para a sala de aula e terminam a prova
- Com aprovação, eles quitam o restante do valor negociado com a quadrilha
Prontuário
Confira o histórico de fraudes contra processos seletivos identificadas em Minas em um ano
Dezembro de 2013
21 pessoas são presas sob acusação de distribuir respostas por celulares em vestibulares de faculdades de medicina do Vale do Rio Doce e também no Rio de Janeiro. As investigações foram comandadas pela Polícia Civil de Caratinga. Hoje, 20 réus respondem ao processo na Justiça em liberdade.
Outubro de 2014
Durante o trabalho da Polícia Civil foram descobertos indícios de fraude no Enem de 2013. O caso foi repassado à Polícia Federal, que confirmou a fraude e indiciou 17 pessoas pelo crime, sendo três membros da quadrilha e 14 estudantes que fizeram as provas. O inquérito está em fase final de conclusão.
Novembro de 2014
Polícia Civil e Ministério Público derrubam outra quadrilha, cujos integrantes ostentavam vida de luxo graças aos golpes. O esquema sofisticado usava até celulares disfarçados sob a forma de cartões magnéticos. O grupo foi flagrado durante vestibular da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte. Além de oferecer gabaritos de faculdades paulistas e mineiras, o grupo é acusado de nova fraude no Enem, dessa vez com suspeita de envio de respostas para cinco estados.
Trinta e três pessoas foram levadas à delegacia, sendo 11 presas como integrantes da quadrilha, incluindo um policial civil. Outro membro do grupo foi preso posteriormente, em Montes Claros.