Reformado do Corpo de Bombeiros, Armando Marçal da Silva, de 79 anos, se lembra com detalhes do dia em que avistou pela primeira vez Eva do Espírito Santo Silva, hoje com 77. Ele descia a Avenida Afonso Pena, saindo do trabalho, no 1º Batalhão, na Rua Piauí, Bairro Funcionários, Centro-Sul de Belo Horizonte, quando viu, em sentido oposto, a moça garbosa, “um violãozinho bem afinado”, como ele gosta de dizer. Na esquina da Praça ABC, virou-se para trás e viu que ela mantinha o olhar em sua direção, até bater o rosto em um poste. “Foi assim que começou nosso romance”, conta, às gargalhadas. Foi cerca de um ano de namoro até o grande dia, em abril de 1959, em cerimônia em Passagem de Mariana, distrito de Mariana, na Região Central do estado. Desde então, são 55 anos de companheirismo, luta e muito respeito.
As Estatísticas do Registro Civil, divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o sonho que conduziu Eva e Marçal ao altar está levando os mineiros a se casar mais e mais cedo em relação ao restante do país. Por outro lado, também estão se divorciando mais que há uma década.
Tanto no Brasil quanto em Minas Gerais, houve um aumento de dois anos na idade mediana em relação a 2003, para ambos os sexos. Contrariando a tese de que Minas é um retrato do país, a analista do IBGE Luciene Longo atribui a situação mineira às particularidades do estado. “O fato de o mineiro dar importância a normas se reflete nos dados. É uma questão cultural. Ele ainda resiste à ideia de morar junto, simplesmente, o que explica a alta taxa de nupcialidade legal”, afirma. Esse indicador, que é a proporção de casamentos por mil pessoas com idade acima de 15 anos, passou de 6,9 para 7,1 em uma década.
Em relação aos divórcios, a taxa geral de Minas também apresentou aumento entre 2003 e 2013. Era de 1,4 e passou a 2,2 divórcios para cada 1 mil habitantes com mais de 15 anos. O tempo médio transcorrido entre o casamento e o divórcio teve redução, pois em 2003 a duração dos casamentos era de 17 anos e em 2013, foi de 15, mesmo dado do Brasil como um todo. Luciene Longo observa que divórcio e tempo de casamento estão diretamente relacionados. “Em 2003, era preciso tempo maior para o divórcio. Agora, com o processo direto no cartório, é mais ágil.
Respeito
Foi seguindo a tradição e o jeitinho mineiro que Eva e Marçal ficaram juntos para o que desse e viesse. Com seis filhos, 14 netos e um bisneto, ele acredita que a descendência é o esteio que impede a separação naquelas horas de maior raiva ou desespero. Diálogo e respeito, até pelo mau humor do companheiro, foram sempre priorizados. “Assim fomos levando a vida. Nunca nos separamos e nunca dormimos em camas diferentes. Quando um está falando muito, o outro sai para lá. Tivemos muitas brigas e problemas, mas sempre um reconheceu a fragilidade do outro, nunca guardando ódio nem mágoa. Resolvíamos no mesmo dia, rindo e brincando”, conta Eva.
Outro exemplo de amor duradouro é do casal de aposentados Nilza Silva de Oliveira Miranda, de 75, e Abel Miranda Neto, de 74. São 42 anos de união e três filhas.
Violência é mancha para juventude
Os jovens da Grande Belo Horizonte (RMBH) estão morrendo mais, na comparação com as regiões metropolitanas do Sudeste, vítimas, principalmente, de homicídios e acidentes de trânsito. Em 2013, a cada 100 óbitos, 15,7 foram de jovens do sexo masculino de 15 a 24 anos, que perderam a vida por causas violentas. O levantamento está nas Estatísticas de Registro Civil, divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual é superior ao da Grande Vitória (14,1), São Paulo (7,7%) e Rio de Janeiro (6,3%).
Os números do estado também chamam a atenção. Das unidades da federação do Sudeste, Minas Gerais é a segunda com a maior proporção de óbitos por causas violentas para homens (9,1%), ficando abaixo apenas do percentual do Espírito Santo (12,3%) e acima de São Paulo (7,5%) e Rio de Janeiro (6,4%). Considerando o total de mortes entre os homens por causas violentas, o estado chegou a 72,4% enquanto o índice no Brasil ficou em 68,5%.
Professor de direito penal da Universidade Fumec, Vítor Lanna vê na prática o aumento da violência. Segundo ele, no apoio jurídico prestado pela instituição a comunidades carentes, há dois anos é crescente o número de processos relacionados a tráfico de drogas e homicídios, em regiões reconhecidas como ponto de traficantes. Outro problema observado nessas áreas são os crimes passionais, em que ex-companheiros matam o atual marido ou namorado da mulher. Em um dos casos dos quais ele está à frente, envolvendo uma gangue do Bairro Serra, dos oito réus com idades na faixa de 20 anos, cinco já foram assassinados.
O advogado ressalta que os casos ocorrem, principalmente, na Grande BH e em faixas de renda mais carentes, que acabam se envolvendo mais com o tráfico. “Não acho que seja reflexo da fragilidade na lei. Meu foco é que o problema da violência é estrutural e social. Os menores índices de criminalidade no mundo são em países com os maiores índices de desenvolvimento humano. É preciso saber respeitar as leis e o brasileiro ainda não aprendeu.”
Repressão
O secretário-adjunto de Estado de Defesa Social, Robson Lucas da Silva, confirma que houve uma explosão nos índices de homicídio entre 2011 e 2013, ligada ao tráfico de drogas. Ele afirma que a secretaria começou um planejamento para enfrentar o fenômeno, com identificação de zonas quentes e um trabalho conjunto com a Polícia Militar, Ministério Público e Judiciário.
De acordo com o secretário, em mais de 90% dos casos coletados pela metodologia da Seds ou do IBGE, o tráfico é o fator preponderante para dados relativos à violência. Robson Lucas afirma que este ano já se nota estabilização e redução dos crimes na ordem de 12% a 15%. “Também foi desenvolvida política de prevenção junto a um público mais jovem, buscando a associá-lo a atividades lúdicas e esportivas e levando a presença do estado a meios mais vulneráveis.”
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