Jornal Estado de Minas

Mineiros exageram na gordura, mas praticam mais exercícios físicos que a média do Brasil

Levantamento do IBGE mapeia de forma inédita hábitos de brasileiros e mostra que mineiros vêm pagando preço da alimentação rica em gordura e sal, aliada a atividade física insuficiente

Junia Oliveira Márcia Maria Cruz
Mesmo dizendo não ser consumidor frequente, Henrique Bibiano reconhece a praticidade do fast food: como ele, quase 10% dos mineiros admitem substituir uma refeição por sanduíches, pizzas e salgados - Foto: Marcos Michelin/EM/DA Press
Costelinha frita, frango ensopado, torresmo bem encorpado, o velho e bom tropeiro e, para acompanhar, aquela gelada, sem esquecer, claro, a sobremesa, guarnecida de compotas e doces variados. Os pratos que fazem tanta gente salivar são também uma bomba de efeito retardado para a saúde do mineiro. A combinação de maus hábitos de vida com muita bebida, muita comida e pouco exercício físico vem resultando em corpos e mentes doentes. Os dados, relativos a 2013, são parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que analisou o estilo de vida, o estado de saúde e as doenças crônicas da população do país.

Em convênio com o Ministério da Saúde, o IBGE visitou cerca de 80 mil domicílios em 1,6 mil municípios de todo o país, no segundo semestre do ano passado, para fazer, pela primeira vez, uma pesquisa tão detalhada sobre a saúde do brasileiro. Entre as informações coletadas, fica claro que, no prato dos mineiros, ingredientes como peixes parecem artigo de luxo. Já itens como sal em excesso, carnes e frango com gordura além da conta batem continência no cardápio diário de grande parte da população do estado. Em compensação, o feijão nosso de cada dia e as frutas e hortaliças, superam o consumo médio nacional.
Ganha também da média dos brasileiros a quantidade de adultos com mais de 18 anos que toma refrigerante regularmente ou troca uma refeição completa por sanduíches, pizzas e salgados.

Essas opções rápidas cobram o preço na saúde, mas ganham espaço pela praticidade. Que o diga o administrador Henrique Bibiano, de 36 anos. Mesmo que esse não seja para ele um hábito frequente, resolver a refeição rapidamente tem suas vantagens. “Com 20 minutos você já almoçou. Se tiver uma hora de almoço, sobram 40 minutos para fazer outras coisas. É uma opção mais rápida, mas não necessariamente a mais saudável”, reconhece. O hábito está disseminado entre 8,7% dos mineiros, que informaram substituir pelo menos uma das refeições por fast food. O percentual está acima da média nacional, que é de 6,6%.

Um dos aspectos positivos mostrados pela pesquisa é que, quando o assunto é atividade física, quem mora nas Gerais também supera a média do Brasil, mostrando ser mais ativo. Mas a notícia, boa à primeira vista, ainda está longe do ideal: pouco mais de um quinto da população mineira declarou praticar o nível recomendado de exercícios físicos (22,8% contra 22,5% da média nacional). Minas tem ainda mais fumantes que a média do país, além de consumidores frequentes de bebida alcóolica.

A CONTA  Com tantos hábitos ruins espalhados Brasil afora, os reflexos na saúde não tardariam a aparecer.
Segundo o IBGE, atualmente, males crônicos não transmissíveis respondem por mais de 70% das causas de morte no país. O levantamento avaliou que as doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, enfermidades respiratórias crônicas e doenças neuropsiquiátricas têm respondido por número elevado de óbitos antes dos 70 anos, assim como perda de qualidade de vida, gerando incapacidade e alto grau de limitação das pessoas acometidas, no trabalho ou no lazer.

O diretor administrativo da Sociedade Mineira de Cardiologia, Epotamênedes Good God, afirma que por trás dessa realidade está um hábito nada recomendado: as pessoas, normalmente, só procuram ajuda médica quando doentes. “Se pegássemos todos os medicamentos que usamos para proteger os pacientes das doenças crônico-degenerativas e os jogássemos no mar, trocando por bons hábitos de vida, ganharíamos de sobra”, afirma. Mas a falta de tempo para se dedicar a atividades físicas ou de disposição para ter uma vida saudável acabam se tornando um problema do cotidiano. “Os pacientes procuram o serviço de saúde, porque o médico dá um comprimido, atrás do qual eles se escondem. O medicamento é bom, mas deve ser um coadjuvante e não ser encarado como capaz de resolver tudo”, diz. Ele ressalta que as doenças têm caráter progressivo, logo, sem mudança de hábitos, não há remédio que adiante.

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