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Estado de Minas

Suspensão de votação para nome de gorila divide opiniões de autoridades

Marcio Lacerda fala em 'tempestade em copo d'água', mas PBH atende o MP e suspende 'batismo' de filhote. Para promotoras, nome africano no animal pode contribuir para racismo


postado em 17/12/2014 06:00 / atualizado em 17/12/2014 07:34

Imbi com o filhote, que se chamaria Ayo, Bakari ou Jahari: recomendação para suspender escolha de nomes gera divergências(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Imbi com o filhote, que se chamaria Ayo, Bakari ou Jahari: recomendação para suspender escolha de nomes gera divergências (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
O esperado "batizado" do gorilinha que nasceu em 10 de setembro na Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte não aconteceu ontem, como estava previsto. Frustração em dobro para Bernardo de Souza Garcia, de 6 anos, que foi ao zoológico conhecer o animal, mas o filhote ficou o tempo todo em seu recinto com a mãe e não deu as caras. Depois de 15 dias de uma votação pública pela internet, para escolher o nome do segundo gorila nascido em cativeiro na América do Sul – filho de Imbi e de Leon –, a organização não-governamental (ONG) Instituto de Inovação Social e Diversidade Cultural (Insod) entrou com pedido no Ministério Público Estadual (MPE) para barrar a eleição, por considerar que os nomes indicados (Ayo, Bakari e Jahari) podem favorecer o racismo e o bullying, o que gerou polêmica.

As opiniões se dividem entre entidades ligadas aos direitos humanos e às comunidades negras e visitantes da Fundação Zoobotânica. Para alguns, a preocupação do Insod procede. Para outros, como o prefeito Marcio Lacerda, “estão fazendo tempestade em copo d’água”. Segundo Lacerda, o Ministério Público não deveria se ocupar da questão porque “é um assunto de pouca importância, e há tantos temas mais importantes na sociedade”.

Para o prefeito, os nomes escolhidos são nomes carinhosos e com significado bonito. “Achamos que por ser um nome africano, independentemente de ser nome próprio ou não, seria dar ao gorilinha sua identidade africana. Respeitamos a cultura africana e somos contra qualquer forma velada ou clara de racismo", disse Lacerda.

A Fundação Zoobotânica se inspirou na cultura africana para lembrar o continente de origem da espécie. Ayo significa “felicidade”; Bakari, “o que terá sucesso”; e Jahari, “jovem forte e poderoso”. A votação foi encerrada segunda-feira e o nome escolhido é mantido em sigilo, até que a Procuradoria-Geral do Município apresente o seu parecer.

Para a coordenadora municipal para Assuntos da Comunidade Negra, Rosângela da Silva, em momento algum a prefeitura fez a campanha pensando em fomentar o racismo. “Quando se trata de um gorila, está se tratando de uma área física da origem desse gorila e não humana. Não estamos tratando de um ser humano, estamos tratando de um animal”, disse Rosângela.

Por sua vez, a professora de história da África e diretora do Centro de Estudos Africanos da UFMG, Vanicléia Silva Santos, apoia a decisão do MPE. “Acho que as promotoras estão cobertas de razão, pois, em geral, no Brasil e em tantos outros lugares que conhecem pouco da África, costumam aplicar as designações africanas para coisas inferiorizantes”.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas, deputado Durval Ângelo (PT), considera correta a preocupação da Promotoria dos Direitos Humanos e acha que a decisão deve ser respeitada. “Mas acho que é um zelo muito grande. A gente deveria ver essa recomendação do Ministério Público mais como um alerta. Não necessariamente por ser nome de gorila tem que ser nome africano. Deveria ter uma consulta mais aberta”, defendeu o deputado.

Eleição suspensa

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) divulgou nota informando que a votação foi encerrada segunda-feira para escolha do nome, mas que vai atender a recomendação do MP no sentido de suspender a eleição. O primeiro gorila nascido na Fundação Zoobotânica de BH, em 5 de agosto, filho de Leon com a fêmea Lou Lou, foi batizado de Sawidi, que significa, em tupi-guarani, “amado, querido, desejado”.

Na Fundação Zoobotânica, funcionários e visitantes não consideram as opções de nomes racistas. “A origem do gorila não é africana? Então, nada mais justo um nome africano para homenageá-lo”, reagiu o segurança do recinto dos gorilas, Antônio Vieira, de 49. Para o engenheiro mecânico Ronaldo Alves, de 66, “os nomes não têm nada de racista”. Adenilson dos Santos, de 32, levou os sobrinhos Ciara, de 6, e Rodrigo, de 10, ao zoológico e disse que achou os nomes bonitos. “Os daria aos meus filhos”.

Repercussão

Leitores comentam no em.com.br

Interessantes os comentários postados em razão desta matéria. Concordo com a maioria; acho que o MP deveria se ocupar em fazer coisas mais importantes. - Guilherme

Pelo visto é melhor escolher nomes ligados a cultura nórdica... Ora, se os gorilas são africanos, nada mais natural que tenham nomes africanos! - Marcos

Se quiserem podem colocar meu nome nele que não ligo não. Na verdade, acho que minha filha irá achar muito engraçado e vamos ficar rindo disso. - Leandro

Idi Amin foi Presidente da Uganda, negro, e ninguém viu problema em batizar um gorila assim - Romulo

É bobagem da ONG e interferência indevida do Ministério Público. - Wilson

O gorila é um animal africano. Negar a escolha de nomes africanos a eles é como um holandês não poder chamar Van Halls, o americano não poder chamar John, o grego não poder chamar Popoullos e o brasileiro não poder chamar Silva. - Vinicius


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