No sábado, Marcelinho completou 3 anos. Devido à deficiência neurológica, ainda não fala nem assenta, mas começou a dar conta de se virar sozinho na cama. No primeiro mês, deu um susto na família, passando por muitas internações, mas o quadro de saúde está estabilizado.
O destino de Marcelinho está nas mãos do Juizado da Infância e da Juventude. No caso dele, o juiz concedeu autorização especial para prorrogar o prazo de acolhimento, devido à dificuldade de encaixar a criança com necessidades especiais em uma família adotiva. “Além de ser novo, um dos entraves para que o programa decole é o medo das famílias de não conseguirem se desapegar das crianças acolhidas em casa”, pondera Maria Margarethe Pereira, coordenadora do serviço Família Acolhedora, parceria entre a Pastoral do Menor e a Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social.
MOMENTO DIFÍCIL “Sempre é difícil a hora de a criança partir, mas a gente cura um choro com a alegria de receber outro bebê para cuidar”, ensina Maria do Carmo, a tia Du, que em cinco anos já recebeu gêmeos, crianças mais velhas e bebês por quatro meses e até por um ano. Ela não abre mão de participar do aniversário de um ano, quando aproveita para conferir se está tudo bem com os bebês. “O objetivo do programa é que a criança me esqueça rápido e passe a formar o vínculo com a nova família. Só faço questão de que a transição seja feita aqui em casa, no ambiente onde o bebê já está acostumado. Ele se sente mais seguro”, diz.
Na agenda diária, tia Du anota os gostos e preferências de cada uma das crianças, incluindo rejeitar melancia e preferir manga, entre outros. O livro do bebê seguirá com a nova família. Na caminhada, tia Du já encontrou crianças que se negavam a beber água em copo de vidro e que manifestavam pavor de andar de ônibus. “Procurei saber o histórico da criança e me contaram que toda vez que ela entrava no coletivo com o pai agressivo, ele armava o maior barraco”, explica ela, que ajudou o pequeno a vencer o medo, inventando voltas e voltas de ônibus pela cidade..