Então é Natal.
Para esses ‘meninos dos abrigos’ o Natal já acabou, antes mesmo da celebração do nascimento de Cristo. É que a maioria das instituições precisou adiantar as festividades natalinas até hoje, dia 21, por conveniência das equipes de educadores das unidades, que precisam celebrar a data com as suas respectivas famílias. Na quinta-feira, ninguém da equipe vai querer dar plantão no abrigo, por mais que se esforce para garantir afeto e atenção às crianças abrigadas.
A chance de diminuir a solidão para essas crianças e adolescentes nesta época festiva é o programa de apadrinhamento afetivo no Natal. A meta do projeto é não deixar nenhuma criança sozinha nos abrigos.
É nessas ocasiões que sobressai a principal diferença entre ser criado dentro de uma instituição, com profissionais contratados, regras firmes e a liberdade programada dos abrigos, e viver em uma família. No lar ideal, a criança ou adolescente iria crescer na companhia da mãe e/ou do pai, com limites negociados e a liberdade de abrir a geladeira da casa e tirar um iogurte, por exemplo. “Parece bonito colocar no abrigo os filhos das famílias pobres. Será que iriam permitir que os filhos dos ricos, muitas vezes alcoólatras e até dependentes de drogas, fossem deixados em um abrigo no Natal e no ano-novo?”, questiona o promotor de Uberlândia, Jadir Cirqueira. Em trabalho premiado pelo Ministério Público de Minas Gerais, ele esvaziou os abrigos da cidade. Dos 240 meninos abrigados, devolveu 200 para os parentes próximos. Só restaram 40 sem condições de voltar para casa.
PROTEÇÃO “Gosto mais ou menos do abrigo, pois sei que aqui estou protegido. Mas queria mesmo era ter uma família”, desabafa o cadeirante Davi*, de 15 anos, que ano passado passou o Natal sozinho no abrigo, na região da Pampulha. Portador de síndrome degenerativa irreversível, Davi é um adolescente de bem com a vida. Gosta de usar roupas novas, tênis e cabelo penteado com gel, diariamente.
“O importante é que um bebê passe o menor tempo possível dentro de uma instituição”, defende Jane Valente, secretária de Cidadania, Assistência e Inclusão Social de Campinas (SP), cidade que se tornou referência nacional e internacional em acolhimento familiar dos bebês até 3 anos..