O fim de ano é o momento mais propício para o apadrinhamento. “Nesta época, as pessoas ficam mais sensíveis às questões sociais. É uma oportunidade, porque todos ficam mais abertos ao próximo”, avalia Ana Flávia. Foi esse sentimento que guiou o pastor Paulo Flávio Ferreira Pereira, de 44, e a mulher, a pedagoga Liliam Marques da Silva Pereira, de 47.
Em julho de 2011, o casal iniciou o processo de apadrinhamento. Os meninos passaram a conviver com a família principalmente em datas festivas, como o Natal. “Pegávamos as crianças na sexta-feira à noite e os levávamos de volta aos domingos.”
Nessa convivência, o vínculo entre eles se estabeleceu de tal maneira que o que era apadrinhamento virou relação de paternidade. “A filiação não está ligada ao laço sanguíneo, mas à afetividade. Como estávamos como padrinho, construímos vínculos muito fortes. Não poderíamos mais ficar longe.” A família entrou com o processo de adoção há dois anos, mas ainda não tem a guarda definitiva. “O complicador é que eles foram vítimas de maus-tratos e abandono.”
COMPROMISSO
Muitos casais interessados em adotar não o fazem, porque temem um processo litigioso com os pais biológicos de quem os filhos foram afastados, em geral, por maus-tratos ou abandono. “Nesses casos, as crianças são ouvidas por psicólogos e assistentes sociais para dizer com quem querem ficar”, diz o pastor. Os especialistas alertam que a decisão de adotar tem que ser amadurecida, pois a relação de filiação não é a mesma do apadrinhamento. O processo de adaptação da criança ou adolescente dura de um a dois anos.
O apadrinhamento exige cuidado. Como vivem nos abrigos, as crianças e adolescentes encontram outra realidade nas famílias que as recebem. “Não é só levar para a casa para passear. A família tem que cuidar dessa criança”, pontua Ana Flávia. A ida para um outro ambiente pode fazer com que as meninas e meninos questionem o porquê de não terem família. Em alguns casos, os padrinhos inclusive buscam que o processo seja acompanhado por psicólogos que irão orientar principalmente os afilhados. “Se a pessoa levar com o compromisso de cuidar irá ajudar aquela criança”, diz.
Como ser padrinho
O apadrinhamento é a chance de crianças que têm mais de 4 anos de idade, e não têm o perfil mais procurado para adoção, possam ter o acolhimento de uma família. As pessoas interessadas em vivenciar a experiência podem procurar o Centro de Voluntariado de Apoio ao Menor (Cevam ), na Rua dos Goitacazes, 71, Conjunto 1.407, Centro de BH. Para o período de 22 de dezembro a 2 de janeiro, as inscrições dos interessados foram feitas em novembro. “Não é uma forma de facilitar a adoção, mas no apadrinhamento pode surgir um amor com os afilhados”, diz a representante comercial Vanici Veronesi, de 38 anos, que integra o Grupo de Apoio à Adoção de Belo Horizonte (GAA-BH).
O processo é bem simples. Basta ter mais de 18 anos e não é necessário ser casado. Podem ser apadrinhadas crianças e adolescentes com idades entre 4 e 17 anos que vivem em abrigos em Belo Horizonte, Sete Lagoas e Ibirité. O interessado deve ter uma diferença de pelo menos 10 anos do afilhado. Para iniciar o processo, é necessário apresentar a carteira de identidade, comprovante de endereço. No caso de casais, é exigida a apresentação de um documento que comprove a aceitação do cônjuge ao procedimento. O padrinho ou madrinha assiste a uma palestra.
ADOÇÃO O processo de adoção é mais complexo. Os interessados devem entrar com o pedido na Vara da Infância (Avenida Olegário Maciel, 600). É preciso apresentar carteira de identidade, CPF, atestado médico sobre as condições físicas e mentais. Também é importante demonstrar idoneidade moral por meio de um atestado de bons antecedentes. O passo seguinte é preencher um formulário com informações sobre os interessados e também sobre o perfil da criança desejada. Mais informações podem ser obtidas no endereço www.gaabh.org.br.