Jornal Estado de Minas

Adoção

Crianças são apadrinhadas no fim de ano e realizam sonho de ganhar família definitiva

Embora nem sempre seja motivado pelo desejo de adotar, há casos em que apadrinhamento gera empatia e cumplicidade tão profunda que família decidem pedir a guarda de menores em abrigos

Márcia Maria Cruz
Fernanda, sua mãe adotiva e a irmã, um presente inesquecível para a adolescente. "Tudo o que eu queria já ocorreu". - Foto: Cristina Horta/EM/D.A.Press


Com a aproximação do fim do ano, a menina Fernanda, de 16 anos, deseja uma família como presente de Natal. “Pedia a Deus que me desse uma pessoa que gostasse de mim e de quem eu gostasse”, lembra a adolescente. Os primeiros dias de dezembro do ano passado trouxeram ansiedade ao coração da menina que temia passar mais uma noite de 24 sem o carinho e acolhimento familiar. “Eu não tinha um lugar para passar o Natal. Foi quando arrumaram uma madrinha para mim.”

Ela não imaginava que tudo mudaria em sua vida. Conheceu a professora Michele Boroni, de 34, que a levou para passar as festas de fim de ano ao seu lado. “Ela chegou toda tímida. Não queria vir.
Mas nos conquistou com seu jeito humilde. Foi paixão”, diz a madrinha.


A empatia virou cumplicidade, algo tão profundo que não se encerrou quando Fernanda teve de voltar ao abrigo. “Natal não é comida, bebida ou presentes. É a oportunidade que Deus nos dá para fazer diferença na vida de alguém. E não só eu fiz diferença na vida dela. Ela fez muita diferença em minha vida”, afirma Michele. Mãe de Izabella Pinheiro, de 16, a professora quis ter a guarda de Fernanda.

As três formam uma família e hoje vão comemorar um ano dessa convivência afetuosa. Orgulhosa, Michele fala do bom desempenho que Fernanda obteve na escola e como se entrosou com os colegas. “Ela se mudou para cá e foi para um colégio que é bem puxado, mas ela passou e com as notas mais altas da escola”, diz orgulhosa. A adolescente chama carinhosamente Michele de madrinha. Sua gratidão é tamanha que ela diz que não pediu nada para esse Natal. “Só vou agradecer. Tudo o que eu queria já ocorreu.”

A realização do sonho de encontrar uma família pode se concretizar depois de um processo de apadrinhamento.

No entanto, a assistente social do Grupo de Apoio à Adoção (Gada), Ana Flávia Coelho Lopes, faz um alerta de que são processos distintos. “O apadrinhamento não pode ser motivado pelo desejo de adotar, mas pode terminar em adoção. Quando termina assim é muito bom”, diz. O acompanhamento provisório não pode ser entendido como uma maneira de burlar a fila para a adoção.

FLEXIBILIZAÇÃO


Como o apadrinhamento não deve ser confundido com adoção, há um entendimento de quem está na fila para adotar não deve apadrinhar. No entanto, segundo Ana Flávia, os grupos de apoio à adoção consideram que esse aspecto poderia ser flexibilizado em casos de crianças acima de 7 anos, idade a partir da qual reduz o interesse dos casais em adotar. “Quando conhece essas crianças, o casal vê que pode ocorrer o sentimento de maternidade e paternidade.” Em Belo Horizonte, há cerca de 750 jovens com idade acima de 7 anos que aguardam por um lar. “São meninas e meninos que não interessaram os casais”, afirma Ana Flávia.

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